A Nintendo antes de Mario: armas, nudez e futebol

O que a Nintendo fazia antes de Mario?

Todo mundo sabe que hoje (e nos últimos mais de 30 anos) a palavra Nintendo é sinônimo de videogame. A associação inevitável nasceu no começo dos anos 80, com arcades como Donkey Kong e Mario Bros., e depois mais ainda com o NES, que praticamente reinventou os consoles.

Mas a Big N não virou "Big" do dia pra noite. Fundada no fim do século XIX por Fusajiro Yamauchi, a fabricante de cartas de baralho, e bem depois brinquedos eletrônicos, levou quase 80 anos para tomar a forma que qualquer criancinha conhece: da gigante dona de Mario, Zelda e etc.

E foi um caminho tortuoso. Eles investiram em quase tudo que você imaginar — e não imaginar. Alguns produtos são menos obscuros como o Ultra Hand ou o Love Tester, bolados já nos anos 70 por Gunpei Yokoi. Mas sabia que a Nintendo já fabricou puzzles? E carrinhos para bebê, mesas de futebol, instrumento musical eletrônico? Espingarda de tiro ao alvo com visual muito realista? E até cartas de pin-ups com peitinhos de fora?

Um passado surreal para uma das marcas mais familiares do entretenimento. Por lá ficou uma série de itens, a maioria no ramo dos brinquedos, testemunhas de sua luta para fazer dinheiro. Alguns beiram o bizarro, se comparados com o perfil atual. Outros insinuavam o futuro, como um simulador de caça ao pato com pistola e projetor — oito anos antes de um certo Duck Hunt.

Conheça alguns produtos da Nintendo antes de Mario, e por assim dizer, antes de ser Nintendo.

Baralhos em chaveiro

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Baralhos tiveram papel fundamental na história da Nintendo. Das Hanafuda aos jogos ocidentais, passando por personagens Disney, foram o principal ramo da companhia por quase sete décadas. Assim foi desde a fundação em 1889 até os anos 60, quando mudaram o nome de Nintendo Playing Card Co. Ltd. para Nintendo Co., Ltd., investindo mais em jogos e brinquedos.

Um modelo em especial chama atenção. Lançados por volta de 1965, os chaveiros porta-baralho de longe lembravam um baralho comum. Mas bastava abrir a caixa para descobrir a "joia": uma caixinha dourada com um símbolo recortado em metal. Na embalagem com veludo púrpura, um pequeno baralho, em versões ocidental e hanafuda. O ás de espadas tinha o tradicional logo da Nintendo (em sua fase de fabricante de cartas).

Table Soccer

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O futebol começou a ganhar relevância no Japão nos anos 90 com a J-League, quando caras como Zico e Alcindo foram jogar por lá. O que realmente enchia estádios era baseball, e a Nintendo produziu alguns brinquedos relacionados, como Baseball Board e o Ultra Machine, um lançador de bolas para praticar a rebatida.

Mas em pleno 1965, o futebol teve vez. Foi nesse ano que chegou ao mercado local Table Soccer. Não foi criado pela Nintendo, mas licenciado da britânica John Waddington. Não é quase nada diferente do nosso velho e bom futebol de botão, com uma mesa em formato de campo, redes, e "botões" — ou melhor, jogadores sobre uma ficha de plástico, usada para lançar a "bola".

Em 1970, o jogo seria "modernizado" com Dynamic Soccer, que tinha cercas na beira do campo e funcionava através de bombas de ar.

Ultra Hand

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Na metade dos anos 60, a Nintendo engatinhava como produtora de brinquedos, principalmente em comparação com marcas como a Bandai. Mas foi nessa época que um seus funcionários fundamentais na fase dos games apareceu. E com um brinquedo, o Ultra Hand.

Desenhado por Gunpei Yokoi e lançado em 1966, é um braço mecânico com ventosas nas pontas, que com um pouco de habilidade, agarra objetos. É preciso primeiro esticar o braço e depois puxar uma cordinha vermelha para fechas as ventosas. Não muito fácil de usar, mas funcionou, vendendo mais um milhão de unidades até 1970 — primeiro produto com o selo Nintendo a alcançar essa marca.

Yokoi, engenheiro nas fábricas de carta, foi promovido a designer e anos depois, faria o Game & Watch, e depois nada menos que o Game Boy.

Hip Flip

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Dance Dance Revolution, tapetes eletrônicos? Esqueça essa bobajada. Bem antes, a Nintendo tinha algo para quem gostava de dançar. Em 1968, foi lançado no Japão o Hip Flip, que como o nome indica, tem tudo a ver com mexer os quadris. O casal de dançarinos coloca a geringonça presa na cintura, e no meio dela há um módulo rotativo com um sino na extremidade. O objetivo é girá-lo na base, o que se consegue mexendo as cadeiras.

O brinquedo-jogo também não era original da Nintendo, mas uma recriação (licenciada) da da Parker Brothers, com caixa e logo redesenhados. O corpo de plástico tinha recortes em formato de coração e cores quentes, bem ao estilo de brinquedos "jovens" como o famoso Twister ou o Tight Squeeze da Mattel, que obrigava casais a dançar presos por um cinto, bem coladinhos.

Love Tester

Ainda apostando nos adolescentes, veio outro brinquedo icônico da fase intermediária da Nintendo, o Love Tester, mais um da cabeça de Yokoi. Anunciado para "as jovens damas e homens", foi o primeiro brinquedo fabricado pela própria empresa com componentes eletrônicos (havia um tipo de walk-talk chamado Companion, mas fabricado pela Sharp).

O rudimentar dispositivo é um medidor de condutividade elétrica. Quando tocado nos dois polos por diferentes pessoas com as mãos dadas, ele (na brincadeira, claro) mediria o "nível de amor" entre elas. Um sucesso danado, já que servia como ótima desculpa pra pegar na mão das moças, mesmo que só por uns segundos. Num Japão dos anos 60, devia ser uma considerável intimidade.

Já deu pra sacar que a Nintendo estava com tudo nos produtos voltados ao "amor", né? Então veja a próxima...

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Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

2 COMENTÁRIOS

  1. O lace do carrinho de bebê e o "brinquedo" para dançar juntinho eu não conhecia. Essa Nintendo sempre surpreendendo kkkkkkkkkkkk. Eu prefiro entender a Nintendo como uma empresa dos anos 70. Pensar no século XIX e ao mesmo tempo com videogames não faz sentido. E se a gente pensar bem, na prática a Nintendo "faliu" várias vezes, já que sua atividade mudou drasticamente com o tempo. É diferente da Coca Cola que tem praticamente a mesma idade da japonesa mas sempre atuou no mesmo segmento.
    Rapaz... esse blog do before mario é uma loucura! Conheci ele em 2014 se não me falha o winchester...
    Abração Daniel!

    • A grande virada foi mesmo nos anos 60, quando começaram a mexer com eletrônicos. Antes, apesar das invencionices, os baralhos mandavam. Vale lembrar que até hotel e companhia de táxi eles tentaram, bizarro demais.
      Abraço!

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