Toshihiro Nagoshi sobre a divisão AM2: nem presidente tinha acesso

Criador da série Yakuza lembrou dos velhos tempos na Sega e do status que a icônica divisão de Yu Suzuki tinha.

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Toshihiro Nagoshi é figura carimbada no mundo do game design. O idealizador da série Yakuza começou e continua na Sega, onde entrou por uma porta dourada: da histórica AM2.

Sequência de times prévios como o R&D 8 e o Studio 128, a divisão nasceu na reestruturação da empresa em 1990. Como os anteriores, seu foco era o amusement, ou seja, desenvolvimento de arcades. Em comum, todas tiveram à frente Yu Suzuki, desde 1985 a grande mente da Sega, autor de clássicos como Hang-On, Space Harrier e os Virtua (Racing, Fighter, Cop).

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Nagoshi queria uma carreira no cinema. Já que o ramo era de poucas oportunidades no Japão, resolveu tentar a vaga na Sega. "Por diversão", admitiu. Contudo, foi parar no Sega Amusement Machine Research and Development Department 2.

Sem formação específica, teve uma "curva de aprendizagem acentuada" mas cresceu depressa. Logo ajudava a moldar sucessos, formando um portfólio fantástico. Em 1993 dirigiu e coproduziu Daytona USA – sugestão da Sega da América. O aclamado resultado foi um "cartão de visitas" da placa Model 2.

toshihiro nagoshi
Toshihiro Nagoshi: tentou a vaga na Sega "por diversão".

Também seria importante em Shenmue, projeto da vida de Suzuki e um dos mais caros de sua era. Creditado supervisor, terminou um pouco produtor e diretor, a pedido de Shoichiro Irimajiri. Suzuki, perfeccionista e com orçamento robusto, não parava de polir sua criação, para agonia dos chefes. Coube a Nagoshi reorganizar e ajudar a entregar o trabalho em seis meses.

Top secret

"Suzuki-san também sabia que precisava terminar logo o jogo, fosse qual fosse o resultado", contou em 2018. "Ele é do tipo de que se puder fazer mais, não consegue parar, então precisa de alguém que faça isso por ele. Nosso CEO sabia que eu era o único que ele escutaria".

Apesar do bom desempenho do Mega Drive, a Sega fez fama nos arcades. Assim, Suzuki e sua equipe tinham status gigantesco, algo como capitães de um navio. Nagoshi contou recentemente que de tão vital, o escritório da AM2 era isolado do "resto" da Sega. Não em uma sala ou andar: em outro prédio, a certa distância da sede. O acesso exigia chaves especiais.

"Era como se uma operação irregular ou altamente secreta ocorresse ali", lembrou. O Studio 128, que operou nos anos 80, também ficava afastado da Sega. Mas o renome de Suzuki permitia que barrassem a entrada de qualquer um. Mesmo que fosse literalmente o presidente da Sega:

Era muito estranho já que embora fosse parte da empresa, o presidente da Sega não sabia no que [Suzuki] trabalhava na época. Havia ocasiões, talvez a cada seis meses, em que o presidente e seu entourage batiam na porta exigindo ver. Tipo "O que está acontecendo aí dentro?" E às vezes não mostrávamos a eles o que estava sendo feito.

"É incrível que não tenha sido despedido", riu Nagoshi. E acrescentou que foi incrível o time todo não ser despedido junto.

Chefes de desenvolvimento da Sega em meados de 2001. Em pé: Rikiya Nakagawa (Wow Entertainment), Yu Suzuki (AM2), Toshihiro Nagoshi (Amusement Vision), Kenji Sasaki (Sega Rosso), Shun Arai (Smilebit), Tetsuya Mizuguchi (United Game Artsists). Agachados: Noriyoshi Oba (Overworks), Hisao Oguchi (Hitmaker), Yukifumi Mukino (Wave Master), Yuji Naka (Sonic Team) e Tetsu Kayama (COO da Sega).

Salvo em um evento inconcebível, a Sega jamais demitiria Suzuki. Era a figura mais próxima da importância de Shigeru Miyamoto para a Nintendo, por exemplo. Imagine Miyamoto despedido por manter sigilo em um projeto?

Caminhos separados

O fiasco do Dreamcast enfim separaria os designers. Com a reestruturação em 2000, Nagoshi comandou a Amusement Vision e depois a Sega NE R&D, lançando Yakuza. Hoje é diretor de operações e lidera o CS1 R&D, que abarca o Ryu Ga Gotoku Studio. A partir de abril próximo, Sega e Sammy terão divisões distintas e Nagoshi será diretor-criativo da Sega Corporation.

Suzuki ficou com a nova AM2 of CRI, fusão da AM2 com a CSK Research Institute. Chefiou a nova Sega-AM2 e a fundou a Digital Rex, saindo logo após para uma posição de gerência na AM Plus. Fundou a YS Net em 2008 e a partir do ano seguinte, de novo esteve à frente da divisão da arcades. Deixaria a Sega em setembro de 2011, embora seja ainda um consultor especial.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Uma pena que Yu Suzuki e Shigeru Miyamoto nunca tiveram um projeto juntos seja para arcades ou consoles, bons tempos dos arcades parrudos da sega e os jogos cativantes da era nintendinho/super nes.

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