Como extensão da série Melhores Trilogias do NES, vamos relembrar também grandes trilogias de outros sistemas. O segundo agraciado é o Mega Drive, com uma grande franquia que a Sega, por razões que só eles não explicariam, abandonou: o épico Golden Axe em suas três partes para o 16-bit.
Sim, sei que a série teve mais jogos. Golden Axe: The Duel, embora não seja horrendo, não adicionou muito. Jogo de luta mediano, foi sequência de Golden Axe: The Revenge of Death Adder – que por sua vez, apesar de lançado antes de Golden Axe III, é um "Golden Axe IV espiritual" que ficou restrito aos arcades por 28 anos. Só perderia a exclusividade ao ser incluído no Astro City Mini, no fim de 2020.
Por que "Golden Axe IV espiritual"? Depois a gente fala disso. Master System e Game Gear também tiveram spin-offs.
E aquele Beast Rider lançado em 2008 para o Xbox 360 e PlayStation 3? Por tolerável que seja (com boa vontade), foi um reboot que nem merece lugar na história. Era tão meia-boca que contribuiu no fechamento discreto do estúdio Secret Level – então já absorvido como Sega Studios San Francisco.
Fiquemos então com a parte importante, ou seja, os três títulos lançados para o Mega Drive entre 1989 e 1993.
Golden Axe (1989)
Clássico de Makoto Uchida[biografia], Golden Axe nasceu nos arcades e no fim de 1989 chegou ao Mega Drive. Semelhanças com outro sucesso da Sega, Altered Beast, não são coincidência: Uchida também foi designer da saga do centurião. O port excelente foi dirigido por BROS400 – até hoje a imprensa não sabe quem era, lembrando que era comum na época usar pseudônimos em créditos.
Aquele universo foi um mix de coisas que Uchida gostava: filmes de ação, artes de Boris Vallejo, quadrinhos e literatura. Saiu uma boa trama de fantasia medieval. Tem casal real em apuros, artefato divino, criaturas, dragões e um vilão cruel e temido. Aquela gama de fábulas e personagens que se esperaria.
Como em Conan, o fortão de tanga carrega uma espada: é Ax-Battler, cuja mãe foi morta pelos asseclas do tirano Death Adder. O vilão também matou os pais de Tyris Flare, amazona ruiva que usa biquíni (Red Sonja feelings). E como nos contos de Tolkien, há um anão barbudo destemido e íntegro: Gilius Thunderhead, que perdeu o irmão. Unidos pelas tragédias pessoais, o trio busca vingança e libertação contra Adder.
Óbvio? Bastante, mas funciona. O reino de Yuria é convincente em seus cenários, incluindo florestas e castelos.
Os gráficos não são dos mais ricos, cortando a maioria dos efeitos visuais do arcade. Sumiram a descoloração de inimigos mortos e paralaxes em geral. Céu, chão e objetos distantes são uma coisa só – é como mover personagens sobre uma única camada. Raros pontos são animados, entre eles a fogueira nos bônus, um rio na segunda fase e as penas da águia gigante. Pena que até a icônica aparição de Death Adder a partir das serpentes e cadáveres foi cortada. Apesar de tudo, não estava mal para o começo de geração.
O time de personagens tem equilíbrio; eles se complementam, fechando lacunas de características dos outros. Prefere magias poderosas? Vá de Tyris. Quer sentar espada pra todo lado? Escolha Ax. Sua opção é picotar os caras no machado, mas com magias mais eficientes? Vá com Gilius. A química entre eles foi perfeita e apesar de terem os mesmos movimentos básicos, é divertido variar a cada partida.
Um dos pontos altos de Golden Axe é a música. A trilha de Tohru Nakabayashi é ao mesmo tempo pegajosa e sutil, como nos tambores da introdução e aquele tema épico e tenso dos chefes. Cria uma ambientação sensacional, caindo como uma luva em qualquer produção do gênero.
O port teve uma grande mudança no desfecho. Após bater Death Adder, você enfrenta um novo chefão, o verdadeiro mal por trás de tudo, Death Bringer. Alguns dizem que Bringer é o pai de Adder, que por sua vez seria o pai de Death Adder Jr. (um palette swap dele que aparece na última fase do modo Beginner).
Isso criaria um enrosco no enredo, já que Death Bringer não foi mais visto, enquanto Death Adder Jr. aparece em Ax Battler: A Legend of Golden Axe, do Game Gear – não fosse outro spin-off. Ou seja: provavelmente Death Bringer foi só um bônus do Mega Drive.
Golden Axe II (1992)
Três anos depois, Golden Axe II veio com direção de Kazuma Fujii (Fuzzy). Ao contrário de The Revenge of Death Adder, que no mesmo ano teve quatro personagens novos e várias alterações na jogabilidade, vimos foi uma mera extensão do original. O elenco foi mantido: lá estavam Gilius, Tyris e Ax, acompanhados pelo pacote conhecido.
Até houve evolução. Os heróis ganharam magias mais personalizadas, com Ax dominando o vento, Gilius a terra e Tyris seguindo com o fogo. Os ladrões de poções passaram a ser uns feiticeiros que dropam um livro quando atacados e atacam de volta. Quer magia? Lute por ela.
Quase tudo voltou, inclusive problemas como a falta de precisão de acerto nos inimigos. A produção foi pouco criativa e exageradamente focada em repetir a experiência do primeiro Golden Axe. Não que seja algo ruim: jogar os dois em sequência é uma experiência bem linear.
As músicas de Naofumi Hataya são boas, ainda fiéis à temática, mas menos regulares, com algumas menos interessantes. Cenários e gráficos garantem ambientação, mas tiveram pouca evolução, com segmentos ainda sem maiores detalhes ou animações. Em 1992 isso já não era tão perdoável quanto em 1989.
A história também não mudou muito: são três guerreiros tentando recuperar o bendito machado. Após a derrota de Death Adder, o novo antagonista é Dark Guld, atual possuidor do machado dos deuses. O maluco é titânico como Adder e usa uma armadura dourada meio Cavaleiros do Zodíaco chamada Death Armor. Ela chega a lutar sozinha, estilo Cavaleiro sem Cabeça.
A explicação de como a arma foi parar na mão dele é um tanto porca. Sabe-se apenas que rolaram "alguns" anos desde a morte de Adder e que Dark Guld é uma antiga entidade maligna aprisionada por séculos pelo poder do machado, resolvendo roubá-lo (sabe-se lá de quem ou como) para se vingar.
Golden Axe II foi um jogo pouco ousado, entregando mais do mesmo com firulas. Pra quem adorou o capítulo de estreia, nada mal. Gosto dele. Se era o propósito, a Sega cumpriu bem.
Golden Axe III (1993)
Lançado em junho de 1993, o terceiro episódio foi dirigido por Fujii e Takashi Iizuka, com uma necessária renovação. Começa pela aposentadoria dos protagonistas; Gilius aparece, mas não é controlável. Seu papel, já idoso e com dificuldade para caminhar, é como uma espécie de mentor do novo time. Tyris Flare e Ax-Battler não são citados, mas como a história se passa muitos anos após Golden Axe II, supõe-se que tenham morrido.
Segundo a trama, o machado era levado por Gilius de volta aos deuses que o criaram, para evitar que fosse usado para o mal (meio Senhor dos Anéis). Mas o navio em que ele estava se acidenta e adivinhe?
O machado vai parar nas mãos de Damned Hellstrike – um chifrudo ainda mais alto que Adder e Guld (e olhe que Adder tinha 2,48 m de altura). Com o poder divino do item, Hellstrike lança uma maldição/possessão sobre os inimigos. Gilius só consegue livrar um, que deve retomar o artefato usado para devastar reinos e criar o domínio do mal.
O novo elenco foi o mais diverso até então. Dois heróis são "clones" de seus predecessores: no lugar de Tyris entrou Sara Burn e no lugar de Ax, surge Kain Grinder. Ao lado deles, o grandalhão imprestável chamado Proud Cragger e um tipo de felino humanoide, Chronos "Evil" Lait. Alguns elementos retornaram, como os gnomos larápios que carregam poções mágicas.
Os personagens são maiores e mais detalhados. Os fundos têm partes móveis, incluindo lutas sobre plataformas. Ironicamente, o design geral não têm a qualidade de outrora, com cenários um tanto pobres. Nota-se um afastamento daquele nível de cuidado e definitivamente, passou longe da qualidade refinada de Streets of Rage 2, por exemplo.
A jogabilidade ficou mais elaborada, com magias combinadas, saltos duplos, bloqueio, arremesso direcionado de inimigos, bifurcações na rota e outras mecânicas inéditas. Foi uma guinada que fãs adoraram ou detestaram.
Ainda assim, Golden Axe III não se compara aos melhores contemporâneos. O esforço resultou num jogo pobre, com objetivo confuso, sem pistas dos personagens estimados e ao mesmo tempo apelando a clones. A série dava sinais de cansaço ou descaso da Sega, que não poupava esforços e investimento em sequências como Sonic 2 e Phantasy Star 4.
É de longe meu "menos favorito" da trilogia. A imprensa mundial também não curtiu, com resenhas geralmente negativas.
Golden Axe IV?
A série teve spin-offs como Golden Axe Warrior, um action-adventure chupinhado de Zelda para o Master System, e Ax Battler: A Legend of Golden Axe no Game Gear. Mas uma sequência de fato, nunca mais.
The Revenge of Death Adder chega perto disso. Lançado antes da terceira parte, é amplamente visto como canônico na série. Teriam se passado 80 anos desde o primeiro Golden Axe, com Gilius idoso e incapacitado de andar – e por isso, montado nas costas de Goah. Seu sacrifício para acabar de vez com Death Adder foi o ponto final da saga original. The Duel introduziu descendentes como Milan Flare e Gilius Rockhead (bisneto de Thunderhead).
Veremos um Golden Axe IV um dia? Talvez pelas mãos de uma Dotemu, porque a Sega não liga e faz tempo. A versão 3D, por exemplo, foi cancelada há anos, quando a Sega da Austrália trabalhava nela. O fiasco de Beast Rider, que chegou a tomar nota 3.2 da IGN, pode ter matado Golden Axe pra sempre? Poderiam fazer algo como Conan Exiles ou um RPG em mundo aberto tipo The Witcher ou The Elder Scrolls, mas preferem a marca mofando, vai entender a Sega...
De qualquer forma, os três jogos do Mega Drive são recomendados para fãs do tema e de jogos antigos. E confira The Revenge of Death Adder, o melhor da série no arcade.
Joguei Golden Axe warrior um tempo atrás...e fiquei perdido no jogo!!!! O meu preferido é Golden Axe 2...a jogablidade, gráficos e as músicas são dukralho!!!! O primeirão marcou muito...lembro de ter visto nos arcades ao lado de Alien Storm, Double Dragon!!!!! Bons tempos de antigamente!!!! valeu!!!