The Last of Us Part II ainda não completou dois anos, mas muita gente já especula sobre o que acontecerá no terceiro (e até agora, hipotético) jogo. Com sete anos de intervalo entre o original de 2013 e o título do ano passado, é improvável que uma sequência chegue antes de 2025, pra ser otimista. Ainda mais agora, com o núcleo criativo da Naughty Dog ocupado com projetos como o seriado da HBO, o modo online e possíveis remakes.
Mas e se acontecer? Pra onde levarão a história? Não parece a cara da empresa empurrar outra trama de vingança no público. Seria muito "não-Naughty Dog".
Depois do enredo paternal e de amadurecimento da estreia, ninguém esperava algo obscuro e tenso como a sequência. Na época do lançamento, Druckmann falou em entrevista sobre isso:
Agora que estabelecemos certos personagens, temas e processos, parecia justo que numa Part II teríamos que fazer algo que fãs não ficassem só confortáveis, mas que se equiparasse ao núcleo emocional que encontramos no primeiro jogo.
Ou seja: venha o que vier, não espere algo parecido.
Só que quanto mais da história se revela, mais fica difícil criar experiências impactantes sem repetir padrões. Então, se a terceira parte acontecer, ela precisa fechar ciclos que ficaram abertos e surpreender.
O que seria?
Não consigo imaginar nada mais surpreendente do que uma aliança entre Ellie e Abby. Por que e sob que condições? Há algumas possibilidades convincentes, incluindo grupos reemergindo ou nascendo, tornando-se inimigos em comum, personagens importantes e claro, tudo levando ao destino final de The Last of Us: a imunidade de Ellie ganhando significado.
Por aliança, não entenda amizade. Se as duas tiverem qualquer laço além de um interesse em comum (no máximo, uma visão mútua menos intolerante), seria o fim da picada. Mas a busca pela cura as ajudaria a entender razões da outra.
Meus palpites, sem muito rodeio.
7. Ellie será protagonista
Ou uma delas, pelo menos.
Se TLoU é sobre arcos de história, o de Ellie não se encerrou. No primeiro jogo, ela saía da inocência da segurança em Boston para o "mundo real". No segundo, meteu-se num enorme e inesperado plano de vingança sangrenta. Caminhos completamente distintos.
Mas o final a deixou numa estrada incompleta. Um abismo que se abriu. Ela não morreu, mas pode ou não ter voltado aos braços de Dina, aceitado de vez a morte de Joel, feito as pazes com Tommy (que terminou a parte 2 tão ferrado quanto ela), etc. A gente não sabe quase nada.
Em termos práticos, Ellie acredita que Joel foi morto por impedir a criação da vacina, mas sabemos que não foi a razão. Ela vai conviver para sempre com o engano? E como reagiria ao descobrir toda a verdade sobre o hospital e o pai de Abby?
Abby também tem possíveis caminhos a explorar, mas se a Naughty Dog resolver não mostrá-la mais, o dano é menor. Ellie tem várias questões a serem respondidas e não teria cabimento um terceiro episódio sem resolvê-las. E seria impossível abordá-las só através de memórias de outros personagens. Ela precisa ser a protagonista, ou uma delas.
6. Ellie encontra seu destino
E não morre no processo.
Como única imune conhecida, Ellie deve ser o elemento final da série, a chave do início da nova sociedade sem o caos do Cordyceps. Se Joel a impediu de tentar no primeiro e ninguém estava disponível para o trabalho no segundo, o terceiro e potencialmente último jogo precisa fechar o ciclo.
Para tal, um novo grupo de cientistas (sob os Vaga-lumes?) deve ser encontrado, com capacidade de terminar o que o Dr. Jerry Anderson não teve chance. Para iniciar ou completar o desenvolvimento da vacina, precisariam de Ellie – e quem são os últimos entre os Vaga-lumes a saber de sua existência? Abby e Lev...
A morte de Ellie parece inevitável a princípio, mas seria tão óbvia que, de novo, não parece coisa da Naughty Dog. Se o novo cientista descobrir como explorar sua imunidade sem sacrificá-la, tudo que Joel fez teria outro valor. Ele não só teria salvo a vida de Ellie, como preservado a última esperança da humanidade para o novo método.
Numa entrevista sobre as raízes do primeiro jogo, Druckmann contou que o plano inicial era um "final feliz". Joel e Ellie entravam na última cidade da civilização, de carro, passando pela ponte Golden Gate sob o nascer do sol. Um final vago e otimista. Imagino algo assim no fim da série, com Ellie – bem viva – entregando a cura. O encerramento seria sem mostrar a sociedade restaurada, só com a missão de Ellie cumprida, talvez lembrando de Joel numa bela cutscene...
O futuro da humanidade ficaria para o público imaginar.
5. Vaga-lumes e Ellie no mesmo lado
Porque esse sempre foi o destino.
Com a sobrevivência de Abby e a reorganização dos Vaga-lumes na Ilha Catalina, Ellie voltaria a ter contato com a milícia. Além das pessoas de confiança que sabem de sua imunidade, como Tommy, Maria e Dina, a inimiga de TLoU II é a única (junto com Lev) que a conhece e sabe o que ela carrega no organismo.
Caso o grupo planeje, como a versão anterior aos eventos de 2013, recriar a sociedade em busca de uma cura, eles saberão, graças à Abby, exatamente por onde começar. Isso abriria caminho para uma nova jornada dupla.
Se Ellie souber do reagrupamento dos Fireflies, é plausível que queira procurá-los para completar o que acredita ser um dever. Não é o perfil dela uma vida pacífica em Jackson, amargurada pela inutilidade coletiva de ser imune. Ela pularia na primeira oportunidade de dividir o "dom" com a humanidade.
Abby seria a primeira interessada em ajudá-la a participar. Mas simplesmente entregar-se aos Vaga-lumes? Fácil demais. Elas precisariam de uma jornada juntas, ou em busca uma da outra. Seria a grande surpresa que muitos odiariam: Abby e Ellie no mesmo lado. Abby salvando Ellie algumas vezes e vice-versa, já pensou? Imagine o barulho...
4. Cascavéis, o grande inimigo
Até porque mal sobraram outros.
Perto do final da Part II, conhecemos os Cascavéis (Rattlers no original), grupo que sequestra e escraviza pessoas na Califórnia. Sem escrúpulo ou limites morais, o bando seria um inimigo perfeito para idealistas como os Vaga-lumes, de quem facilmente se tornariam inimigos mortais – já que o WLF entrou em guerra total com os Serafitas, num aparente processo de aniquilação mútua.
Não é mostrado o alcance deles, que parecem limitados à região de Santa Barbara. Mas são bem armados e razoavelmente organizados. É difícil que tenham sofrido uma baixa tão séria pela fuga dos escravos libertados por Ellie.
Com o retorno de Abby aos Vaga-lumes e depois de tudo que passou na mão dos Cascavéis, esse conflito se torna previsível. Numa eventual busca por ou com Ellie (ou outro objetivo), seria inevitável que cruzassem caminhos de novo, para a revanche de Abby e Lev por tudo que sofreram durante meses.
Mas outros grupos podem ser explorados. Num dos diálogos, Dina conta a Ellie sobre uma milícia que atua no Novo México, chamada Os Corvos (The Ravens), que se autointitula "Protetores da Constituição" e lutava contra o FEDRA, de onde a maioria saiu. Seriam, então, não muito diferentes dos WLF e um potencial substituto ao ex-grupo de Abby como obstáculo na nova missão.
E por mais improvável que seja, temos os remanescentes do WLF e os canibais sob o comando de David no primeiro jogo. Foram ignorados na sequência, deixando espaço a ser preenchido. Como se reorganizaram? Continuam caçando Ellie e Joel pelo que fizeram com o líder?
Mas Cascavéis parecem estrategicamente construídos no apogeu de TLoU 2, prontos para assumir o papel de grande antagonista.
3. Abby e Ellie, os mentores experientes
As aprendizes se tornam mestres.
Joel foi desenvolvido como um sujeito comum, destruído por traumas dos quais não se recuperou. Ao contrário: após perder a filha, ele internaliza os sentimentos e torna-se rancoroso, inescrupuloso e frio, focado na sobrevivência acima de tudo. Não muito diferente de Abby, que ao perder o pai e o conforto dos Vaga-lumes, vira uma soldada truculenta e vingativa, que trucida inimigos e é obcecada em caçar o assassino.
Como Joel cometeu um ato questionável e encontrou paz em Jackson, Abby pode começar TLoU III com uma vida nova, sendo figura protetora de Lev. Tivemos um aperitivo ao ver a dupla antes da captura pelos Cascavéis. O ex-Serafita usava roupas similares as da Ellie adolescente (incluindo o Converse), Abby como sua guardiã e aliada. A dinâmica se repetia.
Mas lembre que TLoU não é muito sobre finais felizes. Se Joel não teve direito aos últimos anos de paz, duvido que Abby consiga. Aposto em um futuro nada pacífico para ela.
Ellie pode passar pelo mesmo processo, mas com JJ. O bebê de Dina precisaria ter idade viável para um personagem jogável ou NPC, o que empurraria Ellie para os 34 anos ou mais*. Um salto no tempo – característica comum da série – parece conveniente para essa rota. Daria tempo para a total reinstalação dos Vaga-lumes e uma nova busca pela cura.
Por outro lado, Lev já teria uns 28 anos, inadequado para ser protegido de Abby, mas perfeito para ter a própria aventura.
2. Abby tem uma escolha difícil
Sentindo na pele o peso da decisão.
Se no mundo de TLoU não há espaço para final feliz, Abby não pode simplesmente levar uma boa vida com Lev e The End. Seu destino será não muito diferente de Joel, já que seus passos parecem espelhados: trauma familiar seguido de ações violentas, cuidados com uma criança que a tiram daquele ciclo e...
Esse destino envolveria uma escolha entre o sacrifício de Lev e algo maior. Se Joel escolheu salvar Ellie porque não aceitou perder outra criança, como Abby reagiria em seu lugar? Não só apoiando o pai na cirurgia, como visto nos flashbacks da Part II, mas tendo realmente que escolher entre Lev e a cura?
Como aconteceria? Qualquer situação que envolva a segurança de Ellie. Se os Vaga-lumes tivessem a chance de reencontrar, resgatar ou proteger Ellie ao custo da vida de Lev, Abby estaria quase no mesmo dilema de Joel. Teria que escolher entre uma pessoa querida e a possibilidade de cura.
Isso permitiria a ela lidar com a dimensão do que fez ao selar sua vingança. Abby entenderia (mesmo sem concordar com a morte do pai e amigos, claro) os motivos de Ellie e Joel, veria o mundo pelos olhos deles. O que Abby faria? Adoraria ver esse cenário.
1. Abby morre
E Lev assume sua missão, seja qual for.
Outra possibilidade é repetir Joel até no destino, ou seja: encontrando a morte antes do final, talvez logo no início do jogo. Seu final na Part II foi completo o suficiente para que nem precise voltar, exceto como apoio a outros personagens e desfechos.
Lev, por exemplo, seria favorecido por essa escolha – eles já passaram por uma fase de aproximação, nos meses entre a surra de Ellie no teatro e a captura pelos Cascavéis. Não foi mostrado ao jogador, mas eles não precisam de uma nova jornada, já foram amalgamados.
Nos filmes A Estrada e Filhos da Esperança, sabidamente influentes na história de The Last of Us, a figura paterna/protetora morre enquanto a criança tem um final aberto. Mas haveria conveniências em Abby saindo de cena depressa em The Last of Us 3, tal como Tess antes.
Abby morta permitiria a Lev ter sua própria história de amadurecimento, como Ellie na parte 2. Ou uma razão para seguir, fosse por vingança (não soa provável pelo perfil sábio do garoto) ou completar uma missão da figura materna. Num incrível ciclo de redenções, ele poderia se unir à própria Ellie, a ajudando na busca pela cura.
Podem me cobrar daqui uns cinco anos, se o site ainda existir.
Quase certeza que a Abby vai morrer, não tem como ficar viva depois de tudo. E se ela morre, Ellie precisa ficar viva. Pode ser até que a Abby se sacrifique pra salvar a Ellie e salvar a cura que o pai dela queria tanto.