Emuladores são legais, mas pra algumas pessoas não é nada legal ter aquele monte de programas diferentes, um para cada sistema. No mundo ideal, teria que existir um emulador universal, que com um clique instalaria tudo necessário pra rodar jogos do passado. E de preferência com um visual bonito, customizável e cheio de recursos.
Estamos querendo demais? A boa notícia é que isso existe. O RetroArch é uma interface multiemulação de quase todas as plataformas antigas imagináveis, que também gerencia recursos, é customizável e claro, organiza suas ROMs.
Interface? Pois é, ele é uma interface para a API LibRetro. Pra simplificar, a API é uma coleção de ferramentas que pode ser acessada através de um software de "comunicação" com o usuário. É o papel do RetroArch, um verdadeiro "tudo em um".
Entre suas inúmeras funções: multiplayer online, RetroAchievements, filtros gráficos, sobreposições, savestates, screenshots, shaders, modos janela e tela cheia, controles (inclusive durante a navegação por menus), etc. É suportado em diversas plataformas, de PCs Windows e Linux até Nintendo 3DS, GameCube, Android e a Raspberry Pi, emulando os sistemas:
- 3DO (4DO)
- Amiga (P-UAE)
- Arcade (MAME 2000, MAME 2003, MAME 2010, MAME 2014, MAME)
- Atari 2600 (Stella)
- Atari 7800 (ProSystem)
- Atari Jaguar (Virtual Jaguar)
- Atari Lynx (Handy, Mednafen Handy)
- Atari ST / STE / TT / Falcon (Hatari)
- Cave Story (NXEngine)
- CHIP-8 (Emux)
- Dinothawr
- Doom (PrBoom)
- DOS (DOSBox)
- Dreamcast (Reicast)
- CPS1 / CPS 2 (fbalpha 2012)
- Game & Watch (GW)
- Game Boy / Game Boy Color (Emux, Gambatte, TGB Dual)
- Game Boy Advance (gbSP, Mednafen VBA, Meteor, mGBA, VBA Next, VBA-M)
- Minecraft (Craft)
- MSX (fMSX)
- MSX / SVI / Colecovision / SG-1000 (blueMSX)
- Multiplataforma (MESS 2014, UME 2014)
- Neo-Geo (fpalpha 2012)
- Neo Geo Pocket / Pocket Color (Mednafen NeoPop)
- NES / Famicom (bnes, Emux, FCEUmm, Nestopia UE, QuickNES)
- Nintendo 64 (Mupen64 Plus, ParaLLEI)
- Nintendo DS (DeSmuMe)
- Odyssey2 / Videopac + (O2EM)
- PC Engine Supergrafx (Mednafen SGX)
- PC Engine / PCE-CD (Mednafen PCE Fast)
- PC-FX (Mednafen PC-FX)
- PlayStation (Mednafen PSX HW, Mednafen PSX)
- PSP (PPSSPP)
- PSP Remote Play (RemoteJoy)
- Quake 1 (TyrQuake)
- Scumm (ScummVM)
- Sega Master System (Emux)
- Sega MS / GG / MD / CD (Genesis Plus GX)
- Sega MS / MD / CD / 32X (PicoDrive)
- Sega Saturn (Yabause)
- SNES / Super Famicom (bsnes Accuracy, bsnes Balanced, bsnes C++98 v0.85, bsnes Performance, bsnes-mercury Accuracy, bsnes-mercury Balanced, bsnes-mercury Performance, Mednafen bsnes, Snes 9X, snes9x 2005, snes9x 2010)
- Vectrex (vecx)
- Virtual Boy (Mednafen VB)
- Wonderswan / Wonderswan Color (Mednafen Cygne)
- ZX Spectrum (Fuse)
- ZX81 (EightyOne)
Além deles, há ferramentas para exibição de imagens e até desenvolvimento de games com o Lutro. O RetroArch não vem configurado, e nem com emuladores; apesar de serem baixáveis com um clique, para o usuário não habituado pode ser difícil no começo. Se quiser ir mais longe e fazer personalizações, complica mais.
Mas não é o bicho de sete cabeças que pinta. Vamos conferir os passos básicos, do download aos ajustes, escaneamento das ROMs e como iniciar os jogos. Note que tudo vale para a versão PC Windows, embora o RetroArch seja conhecido por sua solidez entre plataformas (ou seja, o funcionamento é praticamente idêntico esteja você num computador, videogame ou dispositivo móvel).
Download e instalação
Baixe o RetroArch direto no site do LibRetro, é 100% grátis, sem partes pagas inacessíveis ou surpresas. Escolha no menu lateral a versão compatível com sua plataforma, e depois com a arquitetura (32 ou 64-bit).
Descompacte o zip e execute o arquivo retroarch.exe. Essa é a tela inicial:
Nota: se o emulador travar ao passar o mouse, encerre-o pelo gerenciador de tarefas e execute-o como administrador.
Em vez da sair de cara clicando nas opções, experimente as setas do teclado: é com elas que você se move entre cada submenu. MAS se tiver um controle conectado, como o do Xbox no PC, verá que ele funciona com o d-pad, sem configurações. O RetroArch é totalmente operável pelo controle.
Antes de tudo, vamos colocar o RetroArch em português. No segundo menu (de configuração, ícone da engrenagem), vá até a opção User, confirme no X do teclado (ou B do controle, e Z do teclado ou A do controle para voltar), depois em Language. Use a seta direita ou esquerda do teclado para selecionar o Português.
Aproveite que está aí para configurar seu Username: selecione a opção com as setas, tecle X e digite seu username. Confirme no Enter.
Para aplicar as mudanças, reinicie o RetroArch (Esc para sair).
Núcleos
No RetroArch, cada núcleo, ou "core", é um emulador. Então se quiser emular o Super Nintendo, além de ROMs dos games, você vai baixar um dos cores do SNES, e com ele carregado, rodar o jogo. Se já tiver o core baixado, pode escolher a opção de seleção automática de core quanto for carregar um jogo.
O usuário escolhe qual core quer, baixando pela interface do programa. Vamos pegar como exemplo o 32X da Sega. No menu principal, selecione Add Content, e depois Baixar Conteúdo. Selecione o que faz a emulação do sistema desejado e tecle X.
![retroarch-download-core](https://www.memoriabit.com.br/wp-content/uploads/2016/10/retroarch-download-core.webp)
Aguarde concluir o download e instalação (notificação na lateral inferior da sua tela). Não aconteceu nada? Aconteceu sim, o emulador estará instalado.
Pra testar, faltam ROMs. Considerando que você já as tem, pela interface do RetroArch, siga pelo menu principal a Add Content (sabe-se lá porque não é traduzido), então navegue até a pasta onde estão suas ROMs. Confirme em Escanear este Diretório e aguarde o fim do processo.
Se tiver muita coisa, vai demorar, então tenha paciência.
Quando concluir, haverá uma nova opção na lista de submenus, lá no fim da fila — no caso, um ícone do controle do Mega Drive. Vá até lá e...
Agora é fácil. Navegue até a ROM desejada, tecle X, e depois X em RUN.
Já era.
Pra escanear as outras ROMs e adicionar emuladores, o procedimento é o mesmo.
O RetroArch só reconhece ROMs se tiverem o formato "certo". Exemplo: alguns packs de ROMs de Atari 2600 usam o formato de arquivo .a26; se for seu caso, terá que mudar manualmente a extensão de todos os jogos para .bin (mais fácil achar outro pacote?). Formato .rar não é lido, ao contrário de .zip. ISOs só são reconhecidos nos formatos .cue e .iso (mesmo zipado), mas nunca em .nrg ou outro proprietário. ROMs de Vectrex, que no seu pacote podem ter o formato .vec, precisam ser compactadas em .zip, ou não serão achadas na lista do "Adicionar Conteúdo".
Por algum motivo que não descobri, certos jogos em .iso e .cue não foram identificados de jeito nenhum. Deve ser alguma incompatibilidade entre o arquivo e o emulador; se acontecer aí, sugiro que procure outro arquivo. É chatinho mesmo.
Jogos em CD
Como é costume, emuladores de consoles como Sega CD, PlayStation e Saturn EXIGEM os BIOS para funcionar. Ajuste a pasta de BIOS nas configurações do RetroArch no menu de configurações, em System/BIOS (preferencialmente, só coloque os arquivos na pasta System, na raíz do RetroArch).
Importante: você já deve saber, mas sempre temos que lembrar que BIOS, tal como ROMs, são software, protegidos por lei de direito autoral. BIOS não acompanham o RetroArch, mas são facilmente encontradas na internet — de forma ilegal se você não tem os respectivos aparelhos, e por isso, não posso publicar links aqui.
Se você não tiver os BIOS exatos que cada emulador precisa, não vai conseguir jogar, com uma tela preta. Para saber se o BIOS é compatível, carregue o core (menu inicial, Carregar Core) e selecione Informação > Informação do Core.
Veja o exemplo do Mednafen PSX: foram reconhecidos os bios japonês (scph5500.bin) e europeu (scph5502.bin), mas falta o BIOS americano (scph5501.bin).
Foi só obter o arquivo indicado, colocar na pasta System e:
![retroarch-playstation](https://www.memoriabit.com.br/wp-content/uploads/2016/10/retroarch-playstation.webp)
Nota: se você já tem os bios mas não sabe qual o certo porque andaram renomeando os arquivos, sem problema: é só dar o nome que o RetroArch pede. Por exemplo: se seu bios do Mega CD europeu está nomeado como "Mega-CD (E) - Model X vX (199X) [b].bin", é só renomear como "bios_CD_E". Testado e comprovado.
Nota 2: alguns jogos demoram um pouco para abrir, especialmente isos e grandes zipados. Por um momento você vai achar que o emulador pifou, mas aguarde e (se tudo estiver em ordem com os bios) logo o jogo inicia.
Ajustes
Vídeo
As mesmas opções de filtros de outros emuladores estão por aqui também. Nas configurações de vídeo você pode ativar / desativar a filtragem bilinear (que deixa a imagem meio borrada e muita gente desliga pra ficar 100% pixelada), e em Filtro de Vídeo, escolher entre muitos como os tradicionais SaIs, NTSC, SuperEagle, etc.
Ali estão também ajustes como proporção de tela (fixa ou controlada pelo emulador), taxa de atualização, sincronia vertical, modos tela cheia ou janela por padrão, e muito mais.
Lembre-se sempre de reiniciar o RetroArch após as mudanças para que comecem a fazer efeito.
Som
As opções são simples e provavelmente você não vai precisar mexer em nenhuma. São coisas como latência, taxa de amostragem, silenciador, etc.
Menu
Se quiser alterar visual e funções do menu, é aqui. Pode carregar, por exemplo, um novo wallpaper, alterar a cor dos links, títulos e rótulos. Ou se tiver disposição, coisas ainda mais a fundo como fontes e ícones: em XMB Font, escolha uma fonte do seu computador (pode salvar na pasta do RetroArch, só por garantia) e em XMB Theme, o estilo dos ícones entre Flat, Pixel, etc.
Para ver o wallpaper novo, desative a opção Menu Shader Pipeline. O Menu Color Theme altera a cor da sobreposição da imagem (no print abaixo, alterei do original para Electric Blue.
Se já tiver instalado artes das caixas (box arts, veja mais abaixo como fazer isso) e miniaturas dos games, pode escolher o tipo de exibição, em Thumbnails.
Outras opções
Algumas que merecem destaque:
Saves: aqui você pode ativar o salvamento automático, com ajustes como a organização dos saves em pastas, o intervalo de gravação automática, etc. Útil pra quem só joga um pouco por vez e esquece de salvar.
Retroachievements: é o mesmo esquema dos achievements modernos, aplicados aos antigos através de um serviço web, onde você registra sua conta e salva dados das jogadas. Tem rankings, desafios, etc. Bastante recomendado pra quem curte, o único defeito é que o RetroArch não tem as sobreposições dos emuladores originais do RA, que mostram na tela quanto se conquista algo.
Depois de ativar os achievements, não esqueça de voltar ao Usuário > Accounts, e entrar com seus dados de login no RetroAchievements (e reiniciar, claro).
Diretórios: o RetroArch permite que você configure todas as pastas de itens como screenshots, saves e o resto. Se quiser alterar, é só escolher essa opção e ir navegando até as novas pastas.
Shaders: o RetroArch tem shaders que aplicam efeitos na tela de jogo. É inviável mostrar todos, então vamos ver só como aplicar e alguns exemplos.
Inicie um jogo, então aperte F1 (ou o botão do menu no controle do Xbox 360) para abrir o menu in-game. Desça até a opção Shaders, pressione X, e escolha Carregar Predefinições de Shader. São várias, é só ir testando, com X para confirmar. O efeito é imediato e fica gravado: enquanto você não mudar, sempre que reiniciar o core, o shader vem junto.
Quando gostar de algum, pressione F1 de novo para voltar ao jogo. Tem ajustes estranhos como borrado, aquarela e outros comuns que tentam imitar um visual mais "retrô". Dá até pra simular a borda de portáteis como o GameBoy.
Personalização
O grande barato de muita gente é personalizar. Já dei algumas dicas sobre cores, fonte e background de menu, mas com paciência, dá pra fazer mais.
Capas dos jogos
Uma das mais interessantes é a exibição das capas dos jogos durante a seleção. Elas não acompanham o pacote inicial, mas podem ser baixadas na opção Atualização Online > Thumbnails Update, seguido pela escolha da plataforma.
De um soco só serão salvas imagens das capas, um screenshot do jogo, e outro da tela-título. Tudo fica organizado na pasta do RetroArch, na subpasta thumbnails; ou seja, se você quiser mexer nelas, melhorar a qualidade, etc, vá em frente. Só tome cuidado porque se você mesmo ou outra pessoa repetir o processo no futuro, adeus alterações (uma proteção contra gravação nos arquivos vai bem).
Atenção: se vai alterar as capas, salve-as em formato PNG, ou o RetroArch não reconhece o arquivo. Nem adianta alterar só a extensão do jpg para png achando que vai funcionar, o programa trava.
Wallpapers
O wallpaper pode ser personalizado de acordo com o sistema. No menu de configurações, selecione Menu, então ative o Papel de Parede Dinâmico. Agora, no menu de configurações, em Diretórios, aponte qual pasta de wallpapers quer usar. O RetroArch acompanha três opções: bichromatic pads, emulationstation blurred e posterized consoles. Escolha uma delas e confirme com X em "Usar este diretório".
Se não houver imagem padrão para algum sistema, você pode criar a imagem e colocá-la na pasta com o nome padrão "Sistema - Plataforma". Por exemplo, para a imagem do menu dos jogos de 32X, a imagem deve ter o nome de arquivo "Sega - 32X".
Pra salvar seu próprio modelo de wallpapers, é só criar as imagens, organizar numa pasta dentro da assets / wallpapers, com o nome no formato indicado, e definir o caminho nas configurações de diretório.
Agora é só juntar suas ROMs sob o RetroArch e jogar.