O inferno do estúdio CD Projekt Red parece longe de terminar. Depois de lançar o aguardado Cyberpunk 2077, veio a ira do público, especialmente donos de consoles da geração passada.
Cheio de problemas e beirando o injogável, a quantidade de gente pedindo reembolso foi tão grande que a Sony mudou sua política. Antes, orientava os clientes a esperar os patches de correção; depois tirou o jogo da PlayStation Store e avisou que dará reembolso a todos que compraram qualquer versão da bomb... digo do jogo. A Microsoft (ainda) não o tirou, mas também deu garantia de reembolso irrestrito.
Aí veio o pesadelo de qualquer empresa: ações despencaram na bolsa polonesa. E para piorar, há planos de ação coletiva em curso contra a CD Projekt Red. Um dos investidores, que também é advogado, estuda a possibilidade e convoca colegas interessados.
De acordo com Mikołaj Orzechowski, advogado em Varsóvia e investidor da CDPR, o que o estúdio fez seria potencial crime, violação do Art. 286 do código penal do país, "misrepresentation (algo como fraude) de modo a receber benefício financeiro".
Estrago (ir)reparável?
Ainda que o jogo rode "mais ou menos" bem em consoles da atual geração e PCs, fãs estão indignados. Foram quase nove anos de promessas empolgantes e o resultado... Além de taxas de quadros horrendas, há bugs e glitches aos montes como vegetação no chão de lugares fechados, veículos que explodem sozinhos ou caem do céu, personagens com movimentos impossíveis, NPCs em T-pose e gente sem calças andando de moto. Entre muitos, muitos outros.
Segundo vazamentos, o caos era mais ou menos esperado. A CD Projekt Red teria aplicado crunches severos no mínimo desde maio de 2019. "Mal estávamos saindo do estágio alfa naquele ponto e a maioria dos desenvolvedores avisaram que era impossível fazer um jogo INTEIRO do esboço em um ano", contou o funcionário em conversa no Reddit. O jornalista Jason Schreier, do Bloomberg News, confirmou a autenticidade da mensagem.
Segundo o funcionário, quando perguntaram à gerência o que aconteceria se não cumprissem o prazo (dezembro de 2019), a resposta foi "temos que cumprir, não há plano B". Excelente trabalhar assim, hein? Só depois do primeiro crunch a empresa aceitou que a meta era irrealizável.
As promessas foram demais para o que o estúdio era capaz no tempo hábil. Ex-funcionários contaram que possibilidades de customização, alardeadas como espetaculares ao longo do projeto, seriam bem menos que isso. Alguns descreveram o ambiente como caótico, com brigas internas, crunches desnecessários e engenheiros veteranos saindo.
O envolvimento do astro Keanu Reeves só serviu para aumentar o hype.
![keanu-reeves-cyberpunk-2077](https://www.memoriabit.com.br/wp-content/uploads/2020/12/keanu-reeves-cyberpunk-2077.webp)
A CDPR, que se prontificou a bancar o refund em massa do próprio bolso, trabalha sem trégua nas correções. Segundo o The New York Times, há uma troca de acusações rolando: designers apontam o dedo para executivos da CDPR que os pressionaram pelo prazo. Os executivos não falam abertamente, mas estariam insatisfeitos com a Sony pela forma como lidaram com o problema: tirando o deles da reta, não sem razão.
E os jogadores? Vão pedindo reembolso. E destruindo o jogo no Metacritic – no momento com nota 3.2 na versão PlayStation 4 e 4.4 no Xbox One. A versão PC, mais estável nas máquinas de quem tem configurações muito boas, ostenta nota mais generosa: 7.1.
E fuçando o Twitter da empresa para cobrar promessas.
No momento, o hotfix mais atual é o 1.05. Ele corrige uma quantidade tão grande de bugs e glitches que é difícil acreditar que tenham lançado o jogo nesse estado. Não tinham equipe de debug e teste ou foi só pressa?
Como diria Miyamoto, "Um jogo atrasado pode ser bom, mas um jogo ruim será ruim para sempre". A CDPR vai conseguir arrumar a lambança (como a Hello Games em No Man's Sky) ou CP2077 terá fama de ruim em definitivo?