Criar um game hack não é novidade, nem raridade. As próprias desenvolvedoras "hackeiam" seus produtos para regionalização, como nas adaptações de jogos japoneses para o Ocidente. A Sega, por exemplo, lançou Black Belt, do Master System, hack de Hokuto no Ken do Mark III — algo que eu jamais imaginei na infância, pra mim o jogo de karatê era original e fim. A TecToy regionalizou Wonder Boy com os personagens de Maurício de Sousa em Mônica no Castelo do Dragão, e Teddy Boy foi transformado em Geraldinho, do cartunista Glauco. A Capcom reprogramou Kamen no Ninja Hanamaru, do Famicom, como Yo! Noid. E por aí vai...
Naquele tempo, praticamente só grandes empresas, com acesso à computadores caros e treinamento top, podiam fazer isso. A popularização de PCs e Internet abriu caminho a usuários comuns, que tiveram ferramentas para fuçar no código de seus games favoritos e fazer "remixes". Estudantes de programação e profissionais em horas de folga se dedicaram a criar versões de grandes sucessos, seja por lazer ou pensando em aparecer exibindo seus dotes técnicos.
Alguns "remixes" não passam de bizarrice beirando o injogável; outras alcançaram tal nível de perfeição que mal diferem de um produto oficial. Nunca curti muito porque é normal terem um nível de dificuldade bem acima dos originais, e não jogo para sofrer... Mas se peneirar, tem coisas que definitivamente valem a pena conferir.
Selecionei 10 game hacks distribuídos gratuitamente por seus autores em ROM, ou fornecidas as ferramentas para patchear a ROM original. Na lista temos Atari 2600, NES, Super Nintendo, Mega Drive, arcade e Nintendo 64. Confira!
Nota: por questão de direito autoral, não há links para ROMs aqui. Como diz a sabedoria popular, "o Google é seu amigo".
Ultimate Mortal Kombat Trilogy
Game original: Ultimate Mortal Kombat 3 (Mega Drive)
O hack russo é um absurdo de variedade, colocando mais lutadores, cenários, combinações, fatalities, além de modificações na IA e novos modos de jogo. O autor, Kabal_MK, solta atualizações quando possível, e o release já está na versão 21.
É uma loucura: tem lutador de Mortal Kombat 1 dando combos em caras de Mortal Kombat 3, com cenários do Mortal Kombat 2, múltiplas versões dos ninjas, babalities, etc... Eu diria que é obrigatório para fãs da série e de games 16-bit.
Super Mario Kart R
Game original: Super Mario Kart (SNES)
Ao contrário do que muita gente pensa ao ler o título, não é um crossover de Mario Kart com Sonic R, mas uma versão modificada do clássico do SNES, com novas cenas, pistas, músicas e personagem: Kirby (segundo o site de origem, pela cor parece mais o Boo) no lugar do Toad.
Como talvez o spinoff mais famoso da série Mario, o game de corrida é frequentemente modificado. Tem outro que já publiquei aqui, inspirado em Mario Kart 8, com ainda mais personagens (mas problema para rodar em alguns emuladores).
Super Mario Star Road
Game Original: Super Mario 64 (Nintendo 64)
Hack em games 3D são menos comuns pela complexidade: é bem mais simples arrumar um desses editores de recursos, hexadecimal e sprites pra fuçar nos jogos 2D, do que ficar modelando personagens e cenários, sem falar da falta de ferramentas decentes.
Super Mario Star Road é um hack completo de Super Mario 64, com mais de 30 novas áreas, 50 novas trilhas sonoras, estrelas e mais conteúdo. Trabalho de primeira linha. Pra jogar você precisa de algumas ferramentas para fazer o patch da ROM, mas não é difícil e vale a pena.
Super Metroid Redesign
Game original: Super Metroid (SNES)
Super Metroid é um daqueles games grandiosos em qualidade e tamanho, que quando terminam deixam o jogador até meio depressivo porque sabe que não vai achar algo similar tão cedo. Ou talvez nunca.
Pra quem está nessa "viuvez" desde 1994, o hack Super Metroid Redesign é um prato cheio: um total redesenho do original com novas fases, mapas, alguns itens e suaves alterações na física. Quem jogou tudo diz que a dificuldade é da pesada, então prepare-se para uma velha e boa experiência hardcore à moda antiga.
Chrono Trigger: Crimson Echoes
Game original: Chrono Trigger (SNES)
Um dos mais famosos hacks, Crimson Echoes foi desenvolvido por um grupo chamado Kajar Laboratories, como capítulo alternativo da série Chrono. Os eventos ficam entre Chrono Trigger e Chrono Cross, e usando a mesma engine do game do SNES, a base ficou intacta. Novos gráficos, puzzles e referências a Chrono Cross foram inseridos, mas poucos dias antes do lançamento oficial, a Square Enix mandou a famosa carta de cease and desist (algo como "parem com isso ou vão tomar processo").
Mesmo assim, várias ROMs de desenvolvimento vazaram, incluindo uma "release candidate" (versão prévia e virtualmente idêntica à que seria lançada) jogável até o final.
Será que a Square tomou prejuízo por causa disso? Precisava mesmo ter metido o bico?
Street Fighter II' Rainbow Edition
Game original: Street Fighter II' - Champion Edition
Mais conhecido como "Street Fighter de Rodoviária", esse hack fez um sucesso danado em botecos fuleiros Brasil e mundo afora ainda nos anos 90. Sons, lutadores e cenários são os mesmos do jogo original, mas os malucos que reprogramaram zonearam totalmente a jogabilidade com apelações extremas: múltiplos Hadoukens, Yoga Fires e afins na tela (normalmente em zigue-zague), golpes aéreos, troca de personagem durante a luta, agarrão no ar, teletransporte, etc.
Já viu tudo isso em títulos posteriores da Capcom? Não foi coincidência. Dentro de sua ilegalidade, a Rainbow Edition serviu de laboratório para mudanças em games oficiais. Yoshinori Ono falou sobre o impacto do hack. "Essas versões acabaram nos dando inspiração para outros jogos, como X-Men: Children of the Atom e Marvel vs. Capcom", revelou durante a BGS 2015.
Donkey Kong Pauline Edition
Game original: Donkey Kong (NES)
O americano Mike Mika, jogando com sua filha de 3 anos, foi indagado pela pequena durante uma partida de Donkey Kong no NES: por que não dá pra jogar como a mocinha e salvar Mario, se games atuais da Nintendo tem Peach, Daisy e outras heroínas?
Em vez de responder "porque sim", ele hackeou a ROM do game e trocou os sprites dos personagens. Resultado é a "Pauline Edition", onde o macaco mantém Mario como refém precisando do resgate dela. Depois, Clay Cowgill fez algo similar com a versão arcade, alterando até a tela-título.
Quer jogar? As ferramentas para fazer o patch do NES estão aqui (precisa exatamente da ROM "Donkey Kong (U) (PRG1) [!]") e para o patch do arcade, aqui. (precisa da rom "dkong").
Knuckles in Sonic the Hedgehog
Game original: Sonic & Knuckles + Sonic the Hedgehog (Mega Drive)
Sonic & Knuckles foi lançado com a tecnologia chamada "Lock On", nada mais que um slot para conectá-lo a outro cartucho, funcionando juntos para gerar um terceiro. Mas só teve compatibilidade integral com Sonic 2 e Sonic 3, e muitos fãs se perguntaram: por que não puseram o Knuckles dentro do Sonic 1 também? (Só abria um tipo de bônus chamado Get Blue Spheres).
O problema na época foi com paletas de cores dos jogos, mas hoje, sem limitações, hacks produziram patches para a ROM de Sonic 1 virar o que a Sega não pôde fazer. O melhor deles é o chamado "Knuckles the Echidna in Sonic the Hedgehog", de Stealth. Ao contrário de outros que só trocam os desenhos de Sonic sem mexer em mecânicas, nesse a equidna tem todos os movimentos, como o "glide" (aquele voo flutuando), escalada de parede e até transformação em Super Knuckles. É exatamente o que deveria ter sido a junção de Sonic 1 + Sonic & Knuckles.
Tudo bem que fica apelativo em algumas partes (dá pra passar quase fases inteiras só flutuando depois de saltar de um lugar alto), mas é legal ver o resultado.
Pac-Man 2600 (Hack Ms. Pac-Man)
Game original: Ms. Pac-Man
O port de Pac-Man para o Atari 2600 foi um dos maiores fiascos já vistos, guardando pouquíssimo do original (praticamente nada). Mesmo sendo supermonstro de popularidade do arcade e nome certo entre os maiores games da história, o pessoal não teve piedade e malhou a versão, com razão.
Para uma "correção histórica", Rob Kudla criou um hack sobre Ms. Pac-Man, também do 2600, nascendo assim algo mais próximo do que a Atari deveria ter se dignado a fazer décadas atrás. Foram feitos ajustes gráficos e de cor, e voltou até a mítica "música" com os inconfundíveis efeitos da sirene e das pastilhas sendo comidas...
The Legend of Zelda: Outlands
Game original: The Legend of Zelda (NES)
Para fãs de Zelda que jogaram o de NES o bastante para decorar (e perder a graça), o hack The Legend of Zelda: Outlands é um redesenho de quase tudo: segundo seu autor "você tem a garantia de que não vai reconhecer nenhum dos lugares do game anterior".
Mapas, labirintos, puzzles, nada estará onde você conhecia, o que garante uma experiência nova de jogo num clássico. Foram feitas também modificações gráficas, com novas cores. Dá pra imaginar: um Zelda novinho para NES? Coisas que só o hack faz pra você.
Para quem gostar de criar hacks assim como eu, achei a matéria fantástica. Muito bom Daniel!
Estou tentando zerar metroid redesign...kbuloso!!!! valeu
Quanto ao Pac-Man, existem 2 games feitos com uma engine original que mostra perfeitamente o que deveria ter sido o Pac-man do Atari 2600, um com 4 Bb, e outro bom 8 Mb, ambos impressionantes!
Esses racks da série metroid me impressiona muito!!!! Zerei Hyper metroid e fiquei de cara com o jogo!!!! o jogo ficou mais longo e difícil, muito bom mesmo!!!!já Super Metroid Redesign...tem que ter muito tempo par jogar, o jogo parece ser muito difícil e cheio de desafios!!!!valeu