Há alguns dias falávamos aqui sobre Mir4 e como jogos NFT ainda são vistos com desconfiança por parte do público gamer. Mas é inevitável que com a chegada da chamada Web 3.0 – uma transição já em curso – cada vez mais títulos baseados em blockchain e redes descentralizadas sejam lançados. A tendência é que vire um padrão da indústria de jogos AAA.
O problema para os desenvolvedores é que a reação inicial não foi das mais calorosas. Ano passado, a Ubisoft ousou colocar NFTs em um de seus jogos e fracassou. Eles ainda precisam descobrir o que oferecer aos jogadores sem parecer que estão tentando apenas saquear seus bolsos.
Mais uma cartada da pesada pode estar vindo de dois ex-desenvolvedores da Sony. Michael Mumbauer e John Garvin anunciaram na última semana a fundação do estúdio Liithos. E eles já têm um nome de estreia, chamado Ashfall, proclamado como "o primeiro título AAA da verdadeira Web 3.0 para PC, console e na network Hedera".
Hede o quê?
A Web 3.0 é principalmente a revolução da internet descentralizada, em que o usuário não depende mais de serviços controlados por empresas ou grupos com seus servidores e/serviços. Já vemos acontecer com as redes blockchain de criptomoedas: a informação fica toda distribuída entre milhões de usuários, não centralizada num servidor.
A Hedera é uma rede dita descentralizada, mas que atualmente é capitaneada por um consórcio de empresas do porte de Google, da própria Ubisoft e até da brasileira Magalu. Ela usa um token próprio chamado HBAR e permite criar tokens não-fungíveis, que é onde os games entram.
Quando a Ubisoft lançou NFTs em Tom Clancy’s Ghost Recon Breakpoint no fim do ano passado, a recepção pública foi horrível. Os itens comercializados, chamados de Digits, eram meramente cosméticos, como roupas e skins para armas.
Pior: num mundo que se espera como descentralizado, por que comprar um item que só pode ser usado num jogo, que logo termina e leva os itens únicos para o limbo? Tudo é incipiente e há inúmeros problemas a resolver conforme mais jogos AAA explorando os NFTs forem produzidos.
Distopia
"A indústria de games é incrível pois evoluiu através de uma série de inovações, nunca retrocedendo", diz Mumbauer no site do novo estúdio. Deve ser o mesmo pensamento médio da indústria em geral, que não vai desistir dos NFTs após os primeiros tropeços.
Em Ashfall, que se passa num futuro distópico, a Liithos promete que jogadores poderão "escolher jogar aproveitando a rede Hedera", o que sugere que itens não serão fundamentais no gameplay. Sabe-se pouco ainda, exceto que terá ação em PvP e PvE, exploração e construção, com criações dos jogadores.
Cheira a um misto da atmosfera de Days Gone (em que Garvin foi diretor criativo) com a exploração de No Man's Sky, talvez?
Restam dúvidas sobre o quanto revolucionário pode ser e sobre pretensões de uso cruzado dos NFTs em outros jogos e plataformas. Por exemplo: Mumbauer imagina que jogos poderiam se conectar com o uso de vários outros produtos, como redes sociais, apps de música e muito mais.
"Quero um mundo em que personagens e histórias que amo não terminem quando o jogo acaba. A maior barreira a vencer tem sido o fato de não haver uma forma significativa de conectar diferentes mundos de entretenimento do jeito certo. A Web 3 vai desbloquear o poder para transformar o jeito com que nos conectamos com o entretenimento".
Só falta saber como será a adaptação pública, porque parece um caminho sem volta. Como diz o slogan do Liithos, "Do impossível para o inevitável".