Nariz virtual pode ser solução para o enjoo de simulação

Sabe aquele problema de enjoo jogando videogame por conta do movimento simulado, o famoso e popular "simulation sickness"? Já falamos sobre o tema aqui no MB, e não são poucos os jogadores de FPS que têm ou já tiveram desconforto naqueles ambientes com câmera nervosa. Seja uma dorzinha de cabeça, náuseas leves ou um baita piripaque, mas poucos escapam.

Uma das complicações durante o desenvolvimento de dispositivos de realidade virtual é exatamente o enjoo que podem causar. Quase todos pecaram nisso, impedindo que a jogatina fosse mais longa, como o Virtual Boy. Mesmo simuladores profissionais como os de equipes de Fórmula 1 não passam impunes: Michael Schumacher sofria com fortes enjoos no simulador. Os atuais e futuros como Oculus e Morpheus precisam passar por exaustivos processos de pesquisa e teste nessa área, para provar que a imersão virtual será apreciável sem regurgitar o almoço na sala.

Mas um grupo de pesquisadores da Purdue University, nos Estados Unidos, alega ter descoberto o caminho para, quem sabe, eliminar ou ao menos reduzir muito o enjoo, e numa das formas mais prosaicas e impensáveis: oferecendo ao jogador um objeto fixo, que sirva como referência no ambiente virtual em movimento, o enjoo terminaria.

Que objeto? Em jogos e simulações específicas, pode ser um cockpit de carro ou avião, mas se não há espaço pra eles, deve haver uma alternativa. Quando você olha em qualquer direção, desde o nascimento até a morte, qual objeto está sempre lá, no meio do seu campo de visão, imóvel e eterno?

A solução está bem diante do seu nariz. Ou melhor, é o próprio.

nariz virtual
Quem diria que um nariz virtual podia fazer tanta falta...

O estudo da equipe funcionou assim: 43 voluntários foram divididos em dois grupos. O primeiro passou por uma seção de uso do Oculus Rift sem qualquer tipo alteração, enquanto o segundo experimentou as mesmas demos, mas com acréscimo de um nariz virtual exatamente onde deveria estar "no mundo real" (esse aí da imagem).

O grupo com nariz conseguiu usar o Oculus por, em média, 94.2 segundos a mais que o grupo 1, sem sentir enjoo, num simulador de caminhada. Já no simulador de montanha russa, a diferença foi também positiva, mas de apenas 2.2 segundos.

Os pesquisadores também mediram o nível de desgaste dos grupos através de perguntas específicas. O grupo que tinha nariz virtual apresentou de 13 a 14% menos desconforto do que o primeiro grupo, dependendo de qual simulação estavam vendo.

É a solução? Segundo o chefe da pesquisa, Prof. David Whittinghill, a amostra não foi exatamente a ideal. Entre os voluntários havia só três mulheres, homens com o mesmo perfil, e o enjoo parecia não afetar alguns deles, ou quase imediatamente outros. Mesmo assim, os resultados foram surpreendentes.

O mais incrível é que nenhum dos voluntários percebeu o nariz até que fossem avisados sobre sua presença. Whittinghill supõe que isso ocorra pela chamada cegueira à mudança ou "change blindness": nossa percepção filtra elementos que não se alteram ao longo do tempo ou que tem pouca importância diante do que está em foco. É como uma pequena falha na visão ou um intruso, que não fazendo parte do contexto, é ignorada pelo cérebro para não ficar sobrecarregado de informações. Quem percebe o nariz o tempo todo no meio do campo de visão, a não ser que queira?

O experimento abaixo mostra isso: dois recepcionistas diferentes se alternam sem que o interlocutor perceba, pois estavam concentrados no preenchimento de um formulário. Por mais bizarro que pareça, 75% das pessoas testadas não nota a mudança.

Mas apesar da "invisibilidade", a constatação é que ele funcionou para reduzir o enjoo, ao menos parcialmente. O estudo foi apresentado a John Carmack, do Oculus, que ficou intrigado por nunca ter pensado em tal coisa. Whittinghill quer expandir o estudo para saber, entre outras coisas, se o tipo de nariz (formato, tamanho) altera o enjoo, e até recriar o nariz do próprio usuário do dispositivo no ambiente virtual.

Parece que há esperança para nós, enjoados, termos boas horas num ambiente virtual num futuro próximo.

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

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