Grand Theft Auto vem acumulando não só fãs e dinheiro ao longo dos últimos 25 anos, mas também polêmicas. A sátira aparentemente sem limite da série, que permitiu coisas como tortura, prostitutas atropeladas e piadas étnicas, não deve se repetir em GTA 6.
A possibilidade foi levantada recentemente em artigo do jornalista Jason Schreier, conhecido pelas informações precisas sobre a indústria de games. Escrevendo para o Bloomberg, foi explorado um pouco de tudo que se sabe sobre o futuro jogo, que ainda não tem previsão de lançamento, mas não parece tão distante no horizonte.
Entre outros pontos, Schreier cita como principal a mudança do perfil da Rockstar. Antes considerada um tipo de "clube de meninos", a nova equipe trouxe nova mentalidade para a empresa, o que deve se refletir em GTA VI – e já vem surtindo efeitos em GTA V e suas intermináveis expansões.
Clube do Bolinha
O ambiente de trabalho na Rockstar, segundo funcionários e ex-funcionários, sempre foi pra lá de "flexível" em relação ao que a maioria esperaria de uma empresa de tal porte. Alguns descreviam bebidas, brigas e excursões em clubes de strip-tease como parte do cotidiano interno.
Por outro lado, práticas nefastas da indústria também eram corriqueiras, como longos crunches – quando funcionários fazem turnos insanos de trabalho, às vezes varando noites e fins de semana, para concluir jogos em prazos que seriam impraticáveis sob ambientes de trabalho sadios.
A estratégia pode ter dado resultado comercial, já que GTA V se tornaria um dos jogos mais vendidos e rentáveis da história. Mas foi nesse período e durante o desenvolvimento de outro sucesso da casa, Red Dead Redemption II, que as coisas vazaram para o público. Diversas mudanças no faroeste levaram a crunches que duraram não algumas semanas, mas meses.
O problema vinha de longo tempo. Durante o desenvolvimento do primeiro Red Dead Redemption, houve o escândalo da carta aberta das "viúvas da Rockstar San Diego", em que esposas dos funcionários denunciavam os longos crunches que a empresa forçaria.
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Nova casa
Desde então, a Rockstar vem passando por um processo de renovação. Segundo um funcionário que falou de forma anônima, foi uma transformação de "clube de meninos" numa "empresa de verdade".
Mas terá efeitos nos jogos?
Sim e já está acontecendo. Há pouco tempo, um conteúdo para o GTA Online chamado "Cops 'n' Crooks" foi cancelado – era algo como um modo polícia e ladrão. Mas durante os manifestos pelo assassinato de George Floyd em 2020, a Rockstar cancelou o modo de jogo sem maior alarde.
A decisão teria partido dos executivos, preocupados em como aquilo seria visto pelo público em tempos de discussão sobre violência policial.
Mas não foi só. Também foram removidas do jogo piadas consideradas transfóbicas e na produção da versão de GTA V para consoles da nova geração, a empresa reduziu a diferença salarial entre funcionários homens e mulheres.
Nunca como antes
GTA 6 também está inserido na "nova política" da Rockstar. Pela primeira vez, o jogo deverá ter uma protagonista feminina. A mulher é latina e a história inspirada em Bonnie e Clyde, casal de ladrões famoso nos anos 1930.
Os desenvolvedores estariam sendo cuidados para não fazer piadas sobre minorias e grupos marginalizados na sociedade, uma velha marca da série. Crunches estão sendo evitados, o que contribui na demora para o lançamento ou mesmo divulgação de detalhes.
A preocupação com jornadas de trabalho já afetou de forma fundamental o plano original. Sob o codinome "Project Americas", o GTA 6 antes vislumbrado pelos produtores teria reproduções fictícias de áreas das América do Norte e Sul. Mas segundo fontes, teria sido reduzido a um mapa bem menor (mas ainda maior que os já feitos até hoje) inspirado em Miami. Novos mapas devem ser lançados aos poucos, fracionando o trabalho das equipes.
Alguns membros também saíram, incluindo o diretor de design Imran Sarwar (acusado de bullying e abuso verbal por funcionários) e o próprio Dan Houser em março de 2020. Sendo um dos fundadores e produtor/roteirista da série desde GTA III, não se sabe como será um GTA sem Houser – e dentro do que a nova realidade do mercado exige.
Se vai funcionar, só o tempo dirá – no começo do ano, um grupo de designers da Rockstar Edinburgo deixou a empresa, alegando cansaço pela falta de progresso do jogo. Analistas da indústria dizem que o lançamento de GTA 6 pode acontecer até março de 2024, mas entre funcionários entrevistados por Schereier, a expectativa não é inferior a dois anos.
Ou seja estragaram o jogo por causa dessa besteira de politicamente correto.