O Denuvo Anti-Tamper, mais conhecido só como Denuvo, é uma proteção que desde 2014 vem dando algum alívio aos desenvolvedores de jogos. Através de um sistema que ninguém conhece bem o funcionamento, ela impede que jogos sejam copiados e executados ilegalmente.
Embora o truque exato seja desconhecido, sabe-se que envolve a criptografia de arquivos da inicialização e execução do software. Como quebrar uma criptografia complexa pode levar milênios, o Denuvo nasceu vendido como "inquebrável".
Apesar de complicar a vida dos piratas, não foi a solução final: as primeiras brechas no muro foram descobertas ainda em 2014. O grupo chinês 3DM conseguiu quebrar Dragon Age: Inquisition, mas não tiveram tanto sucesso com outros títulos. Após tentar o mesmo com Just Cause 3, viram tanta dificuldade que fizeram uma previsão catastrófica para pirateiros: o Denuvo e sistemas similares talvez acabassem com a pirataria de jogos em dois anos.
Apesar de se afastarem das atividades, outros grupos continuaram e mais jogos protegidos por Denuvo foram pirateados, como Rise of the Tomb Raider e Battlefield: Hardline.
A Denuvo mudou o discurso, admitindo que era impossível manter a proteção por tempo indeterminado e que o principal foco da empresa era proteger o jogo pelo maior tempo possível. Faz sentido, já que a maioria das vendas ocorre nos primeiros meses, prazo no qual a versão pirata pode representar o inferno financeiro.
A pirataria continuou, ainda que num ritmo mais lento. Alguns jogos nunca foram crackeados, como The Crew 2 e Fifa 16; outros levaram muito tempo – Star Wars: Battlefront 2 só foi crackeado 587 dias após o lançamento.
Mas esse intervalo entre lançamento e quebra foi encurtando. Fifa 18, por exemplo, foi crackeado no dia seguinte ao lançamento. Títulos caros caíram no primeiro dia, como Final Fantasy XV, PES 17 e Metal Gear Solid V.
A virada da Denuvo
Em 2018, o Denuvo foi vendido ao Irdeto, grupo antipirataria global líder em segurança digital. Mas o jogo só virou ano passado graças a uma trapalhada entre os crackers.
Para evitar que a Denuvo/Irdeto encontre falhas que podem ser exploradas, os crackers trabalham entre si de forma muito fechada. Dentro de seus grupos, cooperam e fazem o máximo de testes na maior variedade de máquinas. A ideia é que o crack seja confiável em diferentes hardwares e principalmente, que os engenheiros da Denuvo não consigam "crackear o crack", ou seja, identificar a quebra da segurança.
Durante o trabalho em Need For Speed: Heat, um dos envolvidos cometeu o grave erro de distribuir o crack não finalizado para um grupo não tão confiável. É óbvio que profissionais da Denuvo ficam de olho nas cenas e assim que puseram as mãos naquilo, descobriram a brecha e a taparam.
O resultado é que praticamente nenhum jogo com Denuvo voltou a ser quebrado tão depressa. Alguns até apareceram, mas a maioria após longos períodos, como Heavy Rain (153 dias).
A re-virada
Mas ao que parece, o jogo está virando de novo a favor dos pirateiros. Nos últimos dias, o grupo italiano CPY conseguiu quebrar vários títulos com Denuvo: PES 2021, Marvel's Avengers, A Total War Saga: TROY, Death Stranding e Mafia: Definitive Edition. O último foi crackeado em cerca de 20 dias.
O grupo (ou indivíduo) EMPRESS crackeou jogos já dados como inquebráveis: Planet Zoo (323 dias) e Mortal Kombat 11 (542 dias). Dos lançamentos recentes com Denuvo, só Tony Hawk's Pro Skater 1+2 e Madden NFL 21 ainda não caíram, mas parece questão de tempo. À beira do lançamento, nomes como Godfall e Hitman 3 parecem mais ameaçados que nunca.
Edição 22/10/20: e além da Denuvo, a proteção da Rockstar, que garantiu Red Dead Redemption 2 inquebrável por 351 dias, também caiu hoje através do EMPRESS.
Denuvo é mal?
Apesar da proteção ser benéfica para as desenvolvedoras, muita gente reclama porque o Denuvo aumenta o tamanho dos arquivos de instalação e causa lentidão, escritas adicionais e vários outros problemas. Entre demais impactos negativos no PC do usuário, encurtaria a vida dos SSDs.
A empresa nega, mas se recusa a dar detalhes por questão de segurança. Somado ao fato dos jogos continuarem sendo pirateados cedo ou tarde, nos faz pensar que o Denuvo penaliza o cliente.
E não só jogadores reclamam. Em 2018, Katsuhiro Harada, produtor de Tekken 7, botou a culpa por quedas de frame rate do jogo no Denuvo. Alguém tentou argumentar que seria talvez uma questão de programação da própria Namco, mas ele foi enfático. "É um problema com o Denuvo".
A Bethesda fez um "auto-crack" de seu próprio jogo esse ano que confirmou parte das alegações do público. Ao lançar Doom Eternal, as primeiras distribuições vieram com um lançador DRM-free, sem nenhuma proteção. Embora rodasse o jogo aparentemente igual ao iniciado pelo lançador protegido, a diferença de tamanho era brutal: 67 contra 370 Mb. Só nos arquivos de inicialização, mais de 300 Mb de código do Denuvo.