A EA já teve um F2P de futebol – relembre FIFA World

O ano era 2013. Estava eu escrevendo alguma coisa no meio da tarde quando noto um novo e-mail. Abro e mal acreditei na novidade da Electronic Arts. Os caras estavam para lançar um free-to-play de futebol.

"Como assim?", pensei. E como ficaria a série principal, lançada ano após ano desde 1994? Parecia bom demais pra ser verdade: um FIFA grátis pra jogar no PC.

Bom, grátis mesmo nunca é e sim aquele lance de "pague pra vencer". Mas servia pra matar o tempo e parecia melhor do que comprar FIFA caro pra jogar uma vez por mês. E estava acontecendo.

Era FIFA World.

Anúncio de lançamento de FIFA World em 2013

De graça? Então lá vamos nós...

Massivo campo online

A gente sabe como funciona o esquema, então dava pra imaginar o que seria. E não deu outra: era o Ultimate Team da franquia regular levada ao PC em modo solo, desatualizado em gráficos e com microtransações. A EA esperava que os jogadores gastassem comprando packs pra montar times.

Ninguém era obrigado, mas caso contrário, seu destino era sofrer. Ou quem sabe dar sorte de montar um time ligeiro com jogadores baratos. Com muito trabalho e o puro creme do grinding futebolístico, dava pra coletar moedas e abrir packs. Ficar de olho no mercado e fazer bons negócios também ajudava, mas requeria tempo. Nada que dinheiro não abreviasse...

Fifa World selecao da semana
O modo Seleção da Semana com um dos times que a EA montou com destaques da rodada da Copa de 2014. Olha lá o Klose especial do recorde de gols em Copas.

A EA nunca explicou bem o que queria com o FIFA World. A fase de teste foi aberta só para Brasil e Rússia, o que leva a crer que visavam dinheiro em países ditos emergentes. Os dois eram considerados "mercados prioritários", segundo representante na época do lançamento. O desenvolvimento era da EA Canada, mesmo estúdio que cuida da maioria dos jogos importantes da casa.

Ou seja: não era um projetinho tosco qualquer, tinham sérias ambições ali.

Modos de jogo

Os modos de jogo eram o Ultimate Team e o Times da Liga – nesse dava pra jogar o campeonato personalizado e ganhar coins para usar em pacotes mais tarde, mas com um número limitado de partidas por dia. Também dava pra enfrentar a Seleção da Semana, desafio contra o time montado pela EA com os jogadores que se destacaram no mundo real.

Todas as participações davam alguma recompensa, maiores de acordo com o nível de dificuldade. Naturalmente o progresso era lento, para estimular o jogador a investir nos packs de jogadores.

A jogabilidade era a mesma da série FIFA, sem tirar nada. Quase tudo igual: sistemas de defesa e marcação, controles, tudo. O jogo tinha óbvio atraso em relação à geração atual. Numa época de FIFA 14 disponível, World equivalia talvez ao 11 ou 12.

Encerrada a fase beta, FIFA World foi aberto a outros países. O número de jogadores aumentou e a EA lançou uma atualização de engine de gameplay, com mais movimentos e possibilidades.

Funcionava. Tudo parecia ir bem. Estava bom demais um Ultimate Team grátis, não? Será que o F2P se tornaria o futuro padrão da série FIFA?

Pois é... Não.

Durou pouco

Era tão bom que logo a EA tratou de acabar com a festa que ela mesma começou. Em 14/07/2015, na mesma época em que fechou outros servidores como o de Need for Speed World (outro bom F2P da época), FIFA World foi encerrado. Um dos poucos que escaparam da degola geral foi Stars Wars: The Old Republic, lançado em 2011.

FIFA World rubber band
Meu esquadrão CORINTIÁ num jogo duro contra o Stoke City na Bombonera (duro de fazer gol, vejam o número de finalizações). Jogabilidade era exatamente a mesma da série FIFA.

A desculpa foi que o jogo não teve o sucesso esperado. O que será que esperavam? Parecia ter bastante suporte e até hoje tem gente lamentando e pedindo um retorno (que parece improvável).

Por mais que veteranos da franquia reclamassem de bugs da versão World, ela tinha méritos. Foi o primeiro contato de muita gente com o Ultimate Team. Todos os IF (in form) estavam lá. Durante a Copa de 2014 apareceram os jogadores especiais; o Klose especial da artilharia teve um card azul, veja no print ali acima. O meia Turan, na época estrela do Atlético de Madrid, virou embaixador do FIFA World e ganhou uma carta única, roxa.

E graças ao fato de ser "desatualizada", quase qualquer PC o rodava sem problema. Era muito focado em manter um desempenho decente em todo tipo de máquina – a fonte de lucro era o modo online, então precisava ser acessível.

Volta de Fifa World?

fifa world banner

Levei meses construindo meu esquadrão de bobeira. Pior: como era independente da série principal, não foi possível qualquer transferência de créditos ou bônus. Apesar do login ser via Origin, quem gastou dinheiro de verdade em FIFA World não teve resgate, recompensa, nada. Viram seus timaços com Messi e Ronaldo especiais caríssimos virar fumaça e devem estar indignados até hoje.

Quem sabe um dia vemos o retorno de FIFA World. Não conte muito, mas se voltasse, eu jogaria tranquilo. Afinal, não gastei um centavo real no meu possante Corintiá recheado de jogadores da liga italiana com entrosamento 100.

Lance a isca, EA. A gente morde de novo.

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

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