O mercado de placas de vídeo é um dos mais confusos para quem está montando seu primeiro PC para jogos ou não tem muita experiência com tecnologia. São vários fabricantes, siglas, números e preços disponíveis. Uma salada. Qual escolher? Como explorar esse terreno cheio de armadilhas em segurança?
Que armadilhas? É natural o jogador querer o melhor na faixa de preço que pode pagar. Mas poucos se perguntam "o que é melhor pra mim?". Só pesquisam pela placa mais poderosa que couber em seu bolso – prato cheio para vendedores inescrupulosos. Por falta de conhecimento ou ganância, tentarão empurrar coisas que não servem ao que o jogador precisa.
Será que você precisa mesmo da placa de 4 mil reais? Vale a pena torrar tanta grana nela sem atualizar outros componentes? Imagine alguém que joga de vez em quando num monitor de 1366 x 768 pixels, enfiando R$2,5 mil numa GTX 2060? Só porque o vendedor garantiu que era a melhor? Mas melhor no quê, de que forma ela é melhor para aquele perfil de usuário? Enquanto isso, segue com um processador de 4ª ou 5ª geração...
O ideal é racionalizar seu orçamento focando numa máquina equilibrada.
Em mais de dez anos comprando e vendendo hardware, também já fiz lambança. Não se envergonhe caso tenha caído em papo de vendedor. Senão, aprenda com o erro e acertos dos outros. Seguem cinco dicas para escolher a placa de vídeo para seu perfil.
1. Tamanho e foco do orçamento
Seu orçamento é fator fundamental da escolha. Parece óbvio dizer isso, né? Mas muita gente não pensa: do que adianta comprar uma placa de vídeo espetacular se o resto do PC continuar uma carroça?
Se não tiver montado o PC com folga, visando um futuro longo, o ideal é planejar um upgrade total. Ou o mais próximo disso. Coloque todo o dinheiro disponível no cálculo; pense também (se tiver o dinheiro antecipado) no que pode conseguir com a venda dos componentes atuais. Um kit de placa-mãe, memória e processador é sua meta. Luzes, teclados com LEDs, coolers com neon: secundários. O que realmente importa que é desempenho.
Se a atualização geral está fora de cogitação, tente melhorar ao menos o processador. Pesquise pelo melhor compatível com sua placa-mãe e orçamento. Se conseguir, ele vai ajudar no desempenho dos jogos e adiará a troca de outras peças.
Com o custo geral da atualização em mente, você terá uma ideia clara de quanto pode colocar na placa de vídeo. Uma placa um pouco inferior num kit mediano dará resultado melhor do que socar aquela de 3 mil reais num PC com processador antigo. Seria como comprar uma Ferrari para andar na rua esburacada do seu bairro.
Por outro lado, não vale também ser sovina. Evite placas antigas, que gastam mais energia e entregam menos desempenho. Elas sequer terão valor de revenda para ajudar numa futura atualização. Pense na placa de vídeo como um carro: não a compre para manter para sempre. É usar por um tempo e passar adiante para comprar uma mais nova.
Se não fizer assim, vai acabar com uma sucata na sua mão.
2. O fator monitor
Até 2020, as resoluções mais usadas em desktop no mundo eram 1920 x 1080 e 1366 x 768 pixels, em quase empate. A segunda, chamada de WXGA (de Wide Extended Graphics Array), é um formato estendido a partir do mais comum XGA, de 1280 x 720. No Brasil, o WXGA tem mais de 40% de domínio, usado tanto em notebooks quanto monitores mais baratos.
Mas entre jogadores a coisa muda. Segundo a Steam, mais de 65% dos usuários têm monitores full HD, 1920 x 1080. Em distante segundo lugar, apenas 9% usam monitores WXGA. Monitores 4K ainda são minoria absoluta: pouco mais de 2% dos usuários no mundo.
Se não faz parte dessa minoria privilegiada, você não precisa de uma placa de vídeo caríssima. Modelos como os da nova linha RTX 30 da Nvidia seriam desperdício de dinheiro para resoluções mais comuns. Mesmo as RTX 20, de 2018, seriam "questionáveis" para jogar só a 1080p.
Em 2560 x 1440 (7% dos monitores atuais), placas como as RX 580, GTX 1660 e RX 5500 XT bastam para maioria dos jogadores.
De modo geral, as GTX 16 e RX a partir de 570 dão conta de 1080p. Pegar algo acima disso depende de outros fatores. De repente aparece uma oferta irrecusável, quem sabe? E talvez você tenha outros planos. Placas econômicas não terão vida longa; que longevidade espera delas? Quer rodar tudo em Ultra ou aceita algumas opções em High? Planeja adotar 4K em breve?
A nova geração de consoles chegou e jogos pesados estão a caminho. Nos próximos meses, a tendência é que exijam cada vez mais hardware mesmo em resoluções menores. Red Dead Redemption 2 já precisa de um ajuste intermediário para manter 60 FPS mesmo a 1080p nessas placas. O visual continua bom, mas não é o máximo... Seria o caso de investir um pouco mais desde já (estudando as RX 5000 e as GTX 20).
3. Cuidado com placas usadas
Se procurar com calma, você acha negócios bem vantajosos em placas de vídeo usadas. Só na base de compra e revenda, com paciência, talvez você escale a "pirâmide" de qualidade depressa e no final ainda sobre uma grana.
Mas placa de vídeo usada é um risco a ser calculado. Se não souber escolher, você pode ter um sério prejuízo. Tem muito produto circulando que passou por reparo emergencial como reflow, fora as que estiveram sob condições extremas como as de mineração de criptomoedas. Se desconfiar que a placa foi usada em mineração, eu não recomendaria comprá-la a não ser que possa lidar com o risco.
O reflow é um procedimento simplificado de reparo. Áreas são aquecidas (geralmente com um soprador térmico) a uma temperatura capaz de derreter pontos de solda que ligam os componentes à placa. Se o problema for no contato em algum deles, por rachaduras ou oxidação, há uma "ressoldagem". Legal, né?
NÃO. É pouco confiável e indicado para diagnóstico, no máximo. A placa terá problemas de novo, tanto que técnicos raramente dão garantia no serviço além da legal, de três meses. Eles sabem que a placa vai pifar outra vez. O ideal é o reballing, com a troca da solda – que também não é solução definitiva. Saiba mais sobre esses métodos.
No seu lugar, eu fugiria de placas que passaram por reparos. Não entre em papo "ela passou por reflow ou reballing então já era, nunca mais terá problema". É impossível garantir tal coisa.
E por quê não recomendo placa de mineração? Façamos a conta de um caso que vi no Mercado Livre. O vendedor oferece uma placa que segundo ele, foi usada por "apenas quatro meses" em mineração.
É crível sim que a placa tenha "pouco" tempo de uso. O provável é que os caras tenham percebido que minerar no Brasil não compensa e desistiram. Estão tentando recuperar o investimento. Mas detalhe: elas ficaram ligadas 24 horas por dia em uso extremo. Quase sempre também rodavam em overclock. Suponhamos que o vendedor não mentiu sobre o tempo de uso mas deve ter mentido e talvez seja o dobro ou muito mais.
Faça as contas e chegue ao número alarmante: a placa foi usada, no mínimo, por 2880 horas.
Achou pouco? Compare com alguém que joga todos os dias. Digamos que você joga duas horas por dia durante a semana, mais seis horas no fim de semana. Arredonde para cima: um total de 20 horas por semana ou 80 horas por mês. Tal jogador levaria três anos para alcançar o mesmo tempo total de uso da placa.
Ainda acha pouco? Você também já usou um componente por três anos, certo? Mas seriam três anos jogando literalmente todos os dias, o que quase ninguém faz. E sempre com a placa em carga máxima. Se o minerador não tinha refrigeração adequada, elas terão um longo histórico de estresse por alta temperatura. Muito maior chance de defeitos do que a placa do jogador médio.
Claro que há fatores como garantia e preço, mas é algo que deve ser considerado.
4. AMD ou Nvidia? 4 ou 8 GB? CUDA ou SP?
Vem um vendedor e oferece uma Nvidia XYZ1234 4 GB. O outro diz "não, veja essa AMD AB456 8 GB!". Aí outro grita GT, HD, GTX, RX, RXT... Uma salada de letras e números e fabricantes e marcas. E ainda tem nomes como Phoenix, Phantom, AsRock, Galax, Asus, EVGA...
Nvidia e AMD são as empresas que produzem as tecnologias, apresentadas em marcas como GeForce e Radeon. As marcas têm diferentes modelos como GT, GTX (Nvidia), HD e RX (AMD), entre outras. A sigla costuma se referir a uma tecnologia da placa; GTX por exemplo, vem de Giga Texel Shader EXtreme; RTX vem de Ray Tracer Texel EXtreme. Nas RX da AMD o significado é mais simples: Radeon Extreme.
É importante conhecer variações das placas de vídeo. Uma RX 570 terá 4 ou 8 GB de memória, com diferenças mínimas na embalagem. Uma GTX 1660 pode ter versões diversas com 6 GB, sendo uma padrão e uma Super, com desempenho superior (e ainda tem a versão Ti...).
Entre a RX 570 8 GB e a RX 580 4 GB, qual você acharia melhor? Alguém vendo os 8 GB da primeira pensaria "é o dobro, então é melhor". Mas não é bem assim. Memória gráfica permite coisas como texturas mais amplas e maior densidade de objetos, mas não melhora o desempenho geral, a taxa de quadros, etc. Vídeo RAM não faz milagre e se a placa for inferior no conjunto, o jogo vai perder em termos de FPS.
Veja o comparativo. Apesar do desempenho similar, a RX 580 fica ligeiramente à frente nos jogos testados:
A coisa muda dependendo de outros fatores. Sua resolução é maior que 1080p? Aí VRAM ganha um pouco mais de importância. Mas se for o caso, comece a mirar em placas melhores, como a RX 5500 XT, a GTX 1660, etc.
Por quê? Porque placas mais antigas ou inferiores terão menos poder de processamento. Mesmo que carreguem texturas maiores, o desempenho será inferior. E quanto maior a resolução, mais o jogo vai pedir processamento.
Algo a observar sobre o poder da placa são os núcleos CUDA nas NVidia e os Stream Processors (processadores de fluxo) nas AMD. Quanto mais deles a placa tiver, melhor a capacidade de processar dados. Não é determinante, mas é um dos dados importantes. Note, porém, que não são equivalentes: a comparação só importa se for CUDA x CUDA e SP x SP, não um contra outro.
Aliás, quem tem mais SPs entre as placas do comparativo acima?
Mas como disse, não é determinante se observado de forma isolada. A GTX 950 tem 768 núcleos CUDA, o mesmo da GTX 1050. Qual se sai melhor em desempenho? A GTX 1050 tem outras vantagens:
- clock base: 1024 MHz (contra 1455 da GTX 1050)
- boost clock: 1188 MHz (contra 1354)
- microarquitetura: 28 nanômetros (contra 14)
- transistores: 2,94 bilhões (contra 3,3)
Mas o que isso tudo quer dizer? Que a GTX 1050, apesar de ter o mesmo número de núcleos CUDA da GTX 950, trabalha em frequência mais alta e tem arquitetura mais moderna, com mais transistores num espaço menor da GPU, aproveitando melhor a energia e esquentando menos. Tudo isso a torna mais eficiente.
Já os Ghost, Phantom, XFX e afins são linhas criadas pelos fabricantes. Por exemplo, a Phantom Gaming X Radeon RX570 4G OC é uma Radeon RX 570 fabricada pela AsRock, da linha Phantom Gaming. A Radeon RX 570 Armor 4G OC é uma RX 570 fabricada pela MSI sob a linha Armor. A Nvidia também tem vários fabricantes e linhas de produtos.
"Mas qual a melhor fabricante, linha, modelo?" Não dá pra responder de forma simplista, depende do seu uso. Parece esquivar da pergunta, mas não existe regra pronta. O mais ou menos estabelecido hoje é que placas da AMD são mais baratas, consomem mais energia e esquentam um pouco mais. Alguns modelos, mesmo intermediários, precisam de energia adicional e no caso, a fonte precisa ter conectores de 6 ou 8 pinos. Modelos similares da Nvidia (um comparativo da GTX 1650 com a RX 570), quando exigem até 75 W, dispensam plugs da fonte – são alimentadas pela PCI-E, slot onde a placa de vídeo é ligada na placa-mãe.
De novo: não é regra. Modelos mais robustos da Nvidia também requerem alimentação extra.
Em placas de topo de linha, a AMD largou na frente na tecnologia de 7 nanômetros (para placas dedicadas a jogos) com a Radeon VII em janeiro de 2019. Mas os testes indicaram que ela não superou a RTX 2080 da rival. A topo de linha da Nvidia, RTX 3090, começou a ser vendida em setembro em arquitetura de 8 nm.
Há características exclusivas ou que funcionam melhor em placas de elite. Desde 2018, a Nvidia aposta no ray tracing, técnica de iluminação que deixa gráficos mais naturais. Só a RTX 2080 era compatível no começo, mas graças a atualizações de drivers, o efeito chegou aos modelos intermediários. O ray tracing pode ser ativado desde a linha GTX 1060, mas causa uma brutal perda de rendimento por enquanto. Em 2020, a AMD está lançando sua linha de placas compatíveis, as RX 6000.
De qualquer forma, resultados de AMD e Nvidia são parecidos e outros fatores devem influenciar na escolha. O que diria é: não entre nessa de comparar frame por frame e despejar dinheiro numa marca por miséria. Procure comparativos no YouTube e se a diferença for até uns 10 FPS ou CPU um pouco mais ocupada, não faz sentido gastar duzentos reais a mais por tão pouco.
5. Consumo de energia
Parece bobo se preocupar com o consumo de energia da placa de vídeo, né? Afinal, quem compra carro tem que comprar gasolina. Hardware é a mesma coisa, precisa de combustível. Além disso, o gasto não é assim tão grande pra maioria dos usuários.
Mas não é só questão de conta de luz. O consumo da placa influencia 100% na sua escolha pela fonte de energia. Não é só sair comprando qualquer uma e ligá-la naquela fonte que veio no seu Positivo dez anos atrás. Você pode tostar a fonte – o que seria o menor dos problemas –, perder a placa de vídeo e outros componentes.
Além disso, uma fonte velha perdeu a capacidade de suprir a energia para a qual foi projetada, especialmente se for de baixa qualidade. Nunca saia ligando qualquer placa em seu PC sem conhecer a fonte. Sério.
Os fabricantes informam o TDP da placa, o Thermal Design Power. É o valor dos watts dissipados na forma de calor – quanto mais alto, mais a placa consome e esquenta. Uma placa com TDP 150, por exemplo, não consome necessariamente 150 watts em processamento. Mas para facilitar, pense no valor como consumo.
O TDP é um valor abaixo do mínimo que sua fonte (geralmente chamada de PSU nas especificações das placas de vídeo) precisa oferecer. Afinal, ela também precisa alimentar o resto do sistema: CPU, discos, etc. Poucas placas de qualidade hoje exigem menos que fontes de 450 W reais.
Por que reais? Fontes ordinárias podem dizer no rótulo que fornecem 500 W e nem chegar perto disso. Procure uma boa fonte, que tenha certificação, já que a carga reduz o rendimento e ela não deve ter oscilações agudas.
As Nvidia de entrada e médias costumam consumir menos. A GTX 1060 recomenda fonte de 400 W e tem TDP 120. A GTX 1660 – tal como a RX 580 da linha Radeon – recomenda 500 W, mas com TDP menor: 120 contra 185. Já a monstruosa RTX 3090 requer fonte de 750 W, com TDP de 350 W, inclusive usando um conector de energia de 12 pinos num dos modelos. A topo de linha Radeon, a RX 6900 XT, lançada mês passado, recomenda fonte de 850 W, mas com TDP de 300 W.
Para a maioria das placas médias, até uma CX430 costuma dar conta do recado. Mas o ideal é sempre seguir a recomendação do fabricante da placa.
Quanto a placa de vídeo gasta na conta de luz?
Não muito, relaxe. Façamos a conta nos seguintes termos:
- A pessoa joga 2 horas por dia, todos os dias, sem falhar.
- Também joga 10 horas a cada fim de semana.
- Usa uma placa RX 580.
- O preço do kW/h no seu estado é R$0,60 (média brasileira hoje).
Com isso, nosso gamer fictício jogaria sólidas 80 horas por mês.
A RX 580 tem TDP de 185 W – gasta no máximo isso em full, jogando. Então temos 185 W * 80 horas = 14,8 kW (1 kW = mil watts).
Mas isso jogando; vamos acrescentar o gasto em idle. Quando você não está jogando, o consumo cai drasticamente, dificilmente passando de 10% do TDP. Vamos supor que o PC do gamer fictício fica ligado metade do dia no tempo restante do mês. Um mês tem 720 horas; tire as 80 já calculadas e sobram 640 horas. Divida pela metade e temos o tempo do PC ligado, 320 horas.
18 W * 320 horas = 5,76 kW. O gasto total do mês seria 20,56 kW.
Multiplique o consumo em watts pelo preço/hora (R$0,60) e achamos o gasto da placa de vídeo na conta de luz: cerca de R$12.
Dúvida? Benchmark
Tem muito sobre a escolha da placa de vídeo não abordado aqui. Sua placa-mãe é compatível? Que perfil de jogos você pretende jogar e eles terão sobra ou aperto? Seu gabinete é adequado em tamanho e refrigeração? E a frequência do seu monitor, atende à taxa de quadros por segundo que vai usar? Vai usar entrada HDMI ou DisplayPort e a placa e monitor têm essas conexões? Seu monitor é compatível com tecnologias mais novas como FreeSync e G-Sync?
Na dúvida, a recomendação sempre é que você assista comparações e benchmarks. O YouTube é uma grande fonte – busque pelo modelo da placa e o nome do jogo, ou pelo modelo de duas placas a comparar.
Por mais que vendedores tenham boa vontade, alguns podem não saber responder suas dúvidas de forma adequada. Faça a lição de casa, afinal o dinheiro é seu, cuide dele.
Leitura boa!!!! No meu caso é meio Qbrado mesmo...o negócio tá feio para mim!!!! Fico só na vontade mesmo...melhor ter uma maquina fraca do que não ter nenhum!!!! por enquanto fico com a minha querida Máquina que tanto gosto e um super Nes com top gear...jogando sempre nos finais de semama!!!! valeu!!!!
Estou na mesma, rodando tudo aqui no video onboard, dá pro gasto 😀