10 games do Atari 2600 que merecem remake ou sequência

Em 1977, o Atari 2600 começava sua jornada rumo à liderança na primeira grande febre mundial de games. Você conhece essa história: grandes jogos, ideias, bilhões de dólares, uma queda tão espetacular quanto a subida. Se não conhece, demorou.

Apesar da batelada de sucessos, poucos daquela fase foram revisitados desde então. Talvez pela grande diferença técnica dos consoles mais modernos, não houve interesse ou criatividade para adaptar jogabilidades tão simples como eram.

Na quarta geração, Pitfall: The Mayan Adventure quebrou essa tradição negativa com um remake razoável, — na verdade, não exatamente remake, mas sequência canônica do original. Pong foi homenageado com um bom jogo no PlayStation original. Pac-Man teve algumas reencarnações. Fora isso, um ou outro com destaque muito distante dos antigos.

Quem conhece o acervo do 2600 lembra com certa indignação de pérolas abandonadas pelas desenvolvedoras. Por que clássicos como Enduro, River Raid e Frostbite não são devidamente reaproveitados, como a força dos nomes sugere?

Imagine por um instante como seriam grandes games do Atari 2600, se ganhassem sequências ou remakes...

Pong

atari 2600 pong

Coloquei Pong primeiro porque ele não é exatamente do 2600, embora muita gente (especialmente no Brasil) o tenha conhecido através da Atari. O jogo nasceu nos arcades e passou por várias plataformas. E teve um remake com Pong: The Next Level, de 1999.

Na verdade, The Next Level (que saiu para PC, Game Boy e PlayStation) é uma excelente revisão da jogabilidade clássica, com introdução de obstáculos e cenários bem criativos. O único contra é que já se vão quase 20 anos, e desde então, nada muito relevante foi feito. Há toda uma geração de jogadores que nunca tocou em Pong.

Para re-atualizar o clássico, eu partiria da ideia de TNL, levando-o muito mais longe, com partidas online, principalmente. A proposta de usar os pads como escudos em situações tipo defesa de torre é ótima; o simples conceito da bola como arma e o pad como escudo abre caminho para inúmeras possibilidades de enredo e jogabilidade. Como pode Pong ficar tão largado?

Enduro

Enduro (Atari 2600)

Esse seria fácil demais, de todas as formas. Primeiro, porque a marca pertence à Activision, que está na ativa e com tudo. Segundo, porque ainda é um nome forte — mesmo quem nasceu décadas depois do Atari 2600, no mínimo já ouviu falar. Terceiro, porque em consoles não há exatamente uma série dominante num gênero de rally mais arcade. A que passa perto disso hoje talvez seja Dirt, da Codemasters. Outros são considerados muito realistas e menos amigáveis. É um bom nicho para explorar.

Imaginem a Activision trazendo de volta Enduro num jogaço de rally, muito divertido, com as corridas de longa duração, os vários cenários? O mais importante seria manter as principais características do original: corridas no gelo, noturna e com neblina, e os troféus a cada dia. Quem sabe até incluir o original como um easter egg?

Pô, Activision...

Jungle Hunt

Jungle Hunt Atari 2600 floresta

Mais um da Activision, que foi mítica demais na era do 2600. O Jungle Hunt original, da Taito, foi um port de arcade que mostrava um típico aventureiro inglês, Sir Dudley Dashly, resgatando uma donzela em apuros. O misto de Tarzan com Indiana Jones passa por quatro cenários até salvar sua Lady de perigosos canibais.

Renderia um jogo de ação e aventura espetacular, variando entre Tomb Raider e Zelda, pendendo mais para o humor e menos para a violência da franquia de Lara Croft. Os cipós estariam de volta, com ambientes de floresta e construções estilo inca (se bem que o original tem crocodilos, sugerindo outro continente). Sem armas de fogo, ou com o mínimo, eu incluiria um sistema de construção de armas com itens da natureza. E uma tribo de canibais cômica, claro. Provavelmente num estilo geral cartunesco, como em Fortnite.

Mais importante: seria o renascimento de um estilo similar, mas ao mesmo tempo diferente do mais conhecido Pitfall. Depois de passar pelos 16-bit, e há alguns anos por dispositivos móveis, Jungle Hunt seria uma boa substituição com jogabilidade parecida. Por que não, em vez de um "Lauro Croft" genérico, dar o estrelato ao velho inglês caricato em suas confusões na selva?

H.E.R.O.

É inacreditável como um dos games mais divertidos e de melhor jogabilidade do 2600 nunca tenha interessado a Activision para um remake. Misturando exploração de cavernas com voo, explosões e muitos inimigos, H.E.R.O. é um prato cheio de ideias de design, pelo menos pra mim. No início da década, fizeram uma versão aqui no Brasil chamada H.E.R.O.I., mas ainda espero por uma produção AAA.

A jogabilidade que mais me ocorre seria algo próximo de Metroid; um típico filhote, com a exploração como ponto alto, cheio de passagens e segredos. Num possível remake moderno, em 3D, daria pra pensar em algo como um survival, com recursos limitados e a necessidade sempre de localizar mineiros perdidos e levá-lo à tona.

O melhor é que não lembro de nada parecido nas gerações recentes (se bem que não sou profundo conhecedor de games current-gen). Seria um estilo meio que único no momento.

River Raid

River Raid ponte estreita

Inevitável em qualquer lista do gênero. É verdade que jogos de nave estão um tanto em baixa, mas um nome desses é garantia de atenção pública, pelo menos. Difícil chegar perto do monstro que foi no 2600, sem dúvida. Mas ainda uma mina a explorar.

Anos atrás, saiu uma versão 3D para celulares, mas a tecnologia melhorou muito desde então. Seria de se esperar, com o polimento certo, algo superior a War Thunder, um free-to-play disponível na Steam com estilo bem arcade. Outra referência seria Air Conflicts.

O problema é que muitos desses games recentes jorram opções. Táticas, ajustes de avião: é muita coisa acontecendo antes do combate. Não consigo visualizar River Raid que faça jus ao original que não priorize a ação. Num retorno da marca, seria fundamental dar ênfase ao combate, como nos velhos shoot 'em ups. Há espaço pra isso hoje?

Adventure

atari adventure

Um dos primeiros action-adventures da história, Adventure também marcou pelo primeiro easter egg, ou segredo, isso em 1979. Ao primeiro contato, o game é bastante confuso, com aqueles belos pixels quadrados do 2600 e um monte de itens que você fica "ué?". É onde entra a velha e boa imaginação que a época exercitava. Um quadrado é o personagem. Esses quadradões aí acima são um castelo. E a chave está fácil, né?

Não consigo pensar num remake diferente de algo na linha Zelda — um Zelda mais sombrio, tenso. Um mix de Zelda com Dark Souls (já roubaram minha ideia, droga). Como o personagem original era um quadrado, haveria liberdade quase total para desenhá-lo, certamente um cavaleiro. Mas deveriam estar lá os três dragões e os castelos. Um mundo aberto medieval de fantasia, com as chaves sendo itens importantes no progresso, revelando novas áreas. A principal missão ainda seria a busca do graal.

Importante lembrar do quanto Adventure foi inovador e ousado num console tão limitado como o 2600. Para manter essas características, o remake não poderia se limitar a copiar formatos dos outros.

Keystone Kapers

Tela inicial de Keystone Kapers

Mais um game fundamental do 2600, e mais um da Activision. Lançado em 1983, Keystone Kapers foi inspirado numa série do cinema mudo chamada Keystone Cops, de 1912. Enquanto os filmes mostravam as aventuras de um grupo de policiais trapalhões, o game coloca um deles num tipo de shopping center, perseguindo um único bandido em fuga.

É surreal pra mim como o game foi abandonado. Num remake, o ambiente teria que ser o shopping de novo. O estilo cômico seria a base para toda a ação, com um herói — talvez o filho do Keystone Kelly original —, e não um, mas uma gangue de bandidos igualmente atrapalhados. Dá até pra sonhar com um enredo: o Kelly Jr. sendo um fracassado policial e agora segurança do local, tendo que lidar com um grupo de ladrões.

A jogabilidade seria de ação, nos moldes de Mirror's Edge, mas sem o parkour, priorizando a perseguição e talvez combate sem armas letais. A principal diferença seria o jogador confinado ao ambiente de um gigantesco shopping. Cada departamento teria seus obstáculos, como aviões de controle remoto (drones?) e bolas na seção de brinquedos. Já pensou um multiplayer online com grupos de policiais e bandidos?

Burger Time

burgertime atari 2600

Esse também não é nativo do 2600, mas passou por ele. Burger Time é um misto de puzzle com plataforma, em que o jogador controla Peter Pepper enquanto monta sanduíches gigantes e desvia de inimigos como picles e salsichões.

Pelo enredo absurdo e jogabilidade diferenciada, caberiam vários tipos de remake. A mais óbvia seria um puzzle tradicional, desses típicos de games para Android e iOS. Em tal opção, Burger Time está praticamente pronto, só precisa da nova roupagem. Outra seria bem mais elaborada (e difícil), convertendo a ação clássica para o 3D.

Em qualquer cenário, o novo Burger Time teria como alvo o público infantil ou casual. Seria aquele game divertido, bem colorido, pra dar risadas e passar o tempo. Por esse caminho, parece um bom tesouro a ser resgatado.

Seaquest

Seaquest

Seaquest foi um titã de seu tempo, tranquilamente um dos games mais populares do Atari 2600. Ainda assim, foi muito mal aproveitado, quase abandonado no catálogo da Activision desde então (seaQuest DSV, do SNES, foi baseado numa série de TV).

Como seria o meu remake? Bem direto ao ponto, com muitas batalhas, variedade de inimigos e lógico, elementos do original. Os mais importantes seriam o retorno à superfície e o resgate dos mergulhadores. Nesse aspecto, lembraria um pouco a busca marítima em GTA V, mas com melhor acabamento. Várias missões, não só de resgate de mergulhadores, mas de destruição de submarinos específicos, busca por componentes perdidos, salvamento de outros submarinos, etc...

Tal como games de avião, simuladores de submarino hoje são raros e tem pouco interesse. Nos mais novos, como Cold Waters e U-boat, costuma haver atividade dentro do veículo, com elementos de estratégia e RPG. Um novo Seaquest que quisesse fidelidade ao clássico teria que colocar esses aspectos em segundo plano, focando nas batalhas.

Frostbite

Produzido em 1983, Frostbite foi um show de design. Numa única tela, vários obstáculos móveis, mudando de configuração o tempo todo. A estratégia de escolher a hora do salto, levando em conta aspectos como a cor do bloco de gelo, se havia aberturas, e tempo hábil para voltar à segurança antes do urso. Tudo colabora.

Dessa lista, é o mais difícil de imaginar como qualquer coisa menos fiel em relação ao original. De novo, cairia bem um estilo mais cartoon, usando o humor — afinal, ataques de urso ou morrer congelado não são coisas bonitas de representar. Por outro lado, o replay infinito em busca de pontos não caberia, então seria preciso criar variedade de objetivos e cenários.

Uma ideia seria melhorar o enredo. Por exemplo: um determinado esquimó tentando reconstruir seu vilarejo. Além do gelo e da pesca, entrariam mecânicas de construção, montando não só iglus como pontes, equipamentos, repelentes de inimigos, etc.

Dodge 'Em

dodge em atari 2600

De 1980, Dodge 'Em era um daqueles games excelentes para jogar sozinho ou em dupla. A mistura de carros com labirinto não era nada comum; algo como um Pac-Man super acelerado com temática de corrida. Embora não seja claro se a designer Carla Meninsky queria mesmo representar carros de corrida das década de 20 e 30 — como sugere a arte da capa do game —, isso deixa margem para um remake único.

O estilo parece improvável para readaptações. Mas um racing só com carros antigos, e permitindo que os jogadores se sabotem e/ou causem colisões, cairia como uma luva no nosso sucessor imaginário de Dodge 'Em. Poderia até pegar emprestado uns elementos de Mario Kart, Corrida Maluca e Motor Toon Grand Prix.

A única mancada seria fugir bastante do original. A designer disse que o conceito era um "jogo de batida de carros em labirinto". Está até no título. Para manter a raiz, o desafio seria criá-lo como um game de combate veicular mesmo.

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, mais de mil artigos publicados, mais de dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

1 COMENTÁRIO

  1. A simplicidade ainda me atrai essa é a verdade. Acredito que Remakes em determinado jogos não iria ficar bom, não sei!!!!
    Gosto muito dos gráficos de Enduro, Pitfal e keystone kapers....Uma vez eu comprei uma revista que vem com um cd que tinha jogos, programas e utilitários e lá tinha uma versão Remake feita por um fã do Jogo PiTfall..os gráficos ficaram bons, mas eu sinceramente não gostei do jogo em termos de jogabilidade, caiu muito. Acredito que muitos jogos do Atari influenciaram os jogos da era 8 e 16 bits da vida, acredito que até hoje mesmo existem jogos que foram influenciado pelas as pérolas ¨Atarianas¨dos bons tempos!!!! Valeu

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