Especialmente depois dos anos 2000 vimos uma série de games que tiveram problemas com a justiça por seu teor de violência. Atropelar velhinhas, bater em inimigos desarmados ou dar tiros virtuais é considerado inapropriado para nossos jovens que não veem nada dessas coisas feias na TV, no cinema, na mídia geral. Ainda que isso tudo já estivesse nos jogos há tempos, a melhora gráfica surtiu efeito negativo mais intenso do que no tempo dos sprites pixelados. Com exceção de conteúdo sexual, dificilmente algo criava problema para a produtora; no Atari 2600, uma criança decapitada em Halloween passava praticamente batido.
Mas para nós que já somos grandinhos, uma boa dose de pancadaria (virtual, claro) pode ser bastante divertida, como prova Road Rash, um dos super-sucessos da Electronic Arts. Uma das séries que mais me divertiu e diverte até hoje, com enredo bem simples e direto: uma competição ilegal de motos, que em vez de ser num autódromo, com regras, acontece em estradas e ruas, cheia de obstáculos — seus ocupantes comuns, como carros, placas de trânsito, policiais e alguns pedestres, e outros nem tão comuns, como animais.
Mais do que vencer corridas, é bom estar preparado para objetivos mais nobres como socar, chutar e espancar os motociclistas de várias formas, causar acidentes e vandalizar com a polícia usando seus recursos naturais (pés e mãos) e algumas "ferramentas", como nunchakus, porretes com pregos, cassetetes elétricos e muitos outros brinquedos.
Tudo isso sem descer da moto e sem parar de acelerar, e como é regra na série RR, ficando sempre de olho vivo nos cops, que estarão atentos às estripulias dos bárbaros na estradam, e também não agirão exatamente dentro da legalidade.
A primeira corrida a gente não esquece
Road Rash começou sua carreira em 1991, no Mega Drive, tornando-se sucesso depressa com seu estilo incomum para jogos de corrida: em vez de apenas lutar pelas primeiras posições, você tinha que lutar literalmente, apelando a "recursos" como encher os competidores rivais de porrada e derrubá-los das motos.
Os cenários apresentam perigos. Em vez de pistas seguras, são estradas e ruas de cidades, com placas, árvores, prédios e infelizes pedestres que se aventuravam a cruzar seu caminho. O título é bem "apropriado": refere-se ao tipo de ferimento sofrido por quem cai (normalmente de motos) e se rala todo no asfalto.
Ao longo da década, a série teve sequência no Mega Drive (Road Rash 2 e 3, capítulos exclusivos do Mega) e levada para outras plataformas, mas mantendo o mesmo estilo de jogo que prende qualquer um por horas. A primeira já apresentava todos os elementos-chave da franquia: pista rápida, com veículos vindo na contramão (na verdade, os motoqueiros é que entram na outra pista), a possibilidade de ganhar dinheiro com as corridas para comprar novas motos, o uso de armas brancas para derrubar os rivais (cassetetes e correntes). E claro, a tradicional polícia, tanto em carros como patrulheiros motoqueiros.
A jogabilidade é simples: acelere e ataque os rivais. No começo, seu personagem não tem arma, mas se tentar acertar um soco no exato momento em que um rival armado está te atacando, você toma a arma dele e pode levá-la para as corridas seguintes. Algumas versões também tem armas pela estrada. Abaixo da tela aparece o painel da sua moto, e se a sua barra de energia chegar ao fim, é porque você apanhou o bastante para cair. Se a energia da moto acabar (por muitos tombos e atropelamentos) sua moto explode, e se não tiver juntado grana suficiente para pagar o conserto, é game over.
Além da própria corrida em si, a grande diversão está nas lutas entre os motoqueiros. Além de chutar o inimigo longe (para derrubá-lo ou jogá-lo na frente de um carro ou outro obstáculo), é possível detoná-los com porretes cheios de prego (Nintendo 64), cassetetes, tonfas, armas elétricas que paralisam por alguns segundos, nunchakus e lógico, socos. Tudo isso pode ser feito entre os arruaceiros e também com os intrometidos dos policiais, que virão em perseguição assim que sua moto passar por deles.
Se conseguir derrubar e / ou bater nos tiras, sua reputação aumenta em algumas versões do jogo, ganhando mais grana no fim da corrida. Mas cuidado, pois os patrulheiros não são de brincadeira e podem fazer coisas que você ingênuo nem imagina que sejam capazes os homens da lei. E se tiver o azar de cair perto da polícia, seja o motociclista ou a viatura (que costuma partir pra cima e derrubar a geral sem dó), vai pro xilindró. Se não tiver grana para pagar a fiança, game over.
Por outro lado, se completar as provas entre os primeiros colocados, você será o herói do bando, ganhando uma festinha. Se chegar ao fim mas for mal, será zoado pelos colegas e rivais, sempre com uma animação (em algumas versões, rola um vídeo mostrando o que acontece).
Versões
Veja algumas das muitas caras de Road Rash ao longo dos anos, e que valem a pena uma conferida:
Mega Drive e Sega CD
No velho MD foi o início de tudo. Apesar do som não ser nenhuma maravilha (especialmente a música estridente das telas pós-corrida, puta troço chato!) e os efeitos sonoros não serem grande coisa, a jogabilidade é ótima. Joguinho simples que marcou a vida de muita gente. Experimente ao menos uma vez na vida se acha que é alguém no universo Road Rash. Os cenários são estradas dos Estados Unidos, passando por desertos, vilas e cruzando com muitos veículos, animais na estrada e alguns pedestres babacas que ficam no meio do caminho.
Duas sequências vieram, além de uma para Sega CD com melhorias no som e sequências de vídeo entre as corridas, mas sem alterações na jogabilidade. Com as novas versões surgiram novas armas, motos e pistas. Em Road Rash 3, por exemplo, as corridas saem dos Estados Unidos e vão para outros 7 países (Quênia, Inglaterra, Alemanha, Brasil — com direito a sambinha durante a corrida —, França, Austrália e Japão).
No RR 1, todas as pistas eram do estado da Califórnia; no 2º game, a corrida se espalhou por outros estados americanos, ganhando enfim o mundo no RR3. Nessa versão também foi adotada a digitalização dos personagens em vez de pixel art tradicional.
3DO, PC e Saturn
Em 1996 o "possante" da Panasonic teve uma versão excelente de RR, com ótimos gráficos, bom som e a tradicional jogabilidade. Foi uma das que mais joguei junto com as do Mega Drive, já que algumas locadoras tinham 3DO com Road Rash como um dos carros-chefe para jogo por hora. Era muito disputado o controle do 3DO.
Veja a clássica introdução do game, que foi igual nas três plataformas + Sega CD:
Já que o 3DO nunca foi muito popular pelo seu preço exorbitante na época, quase três vezes o de um SNES ou Mega Drive, quem deu um pouco mais de chance pra galera jogar foram Saturn e PC, que tiveram versões muito similares. Elas trouxeram uma trilha sonora pesada, com bandas de grunge e hard rock dos anos 90 como Soundgarden (a música Rusty Cage toca durante a apresentação), Hammerbox e Monster Magnet.
Pra quem gosta, um prato cheio. Pena que só tocam nas telas de opções mesmo, dando lugar a uma musiquinha chatíssima estilo midi durante as provas. Se isso foi opção da equipe de produção, grande mancada.
A apresentação mostra o vídeo bacana aí de cima, e também rolavam vídeos durante o jogo, entre as corridas. As bandas Paw com a música Jessie), e Swervedriver (com Duel) tiveram vídeos com várias cenas de Road Rash incluídos no game. Se quer ver mas não tem o disco e está com preguiça de procurar, não se preocupe, sou legal e cacei-os no YouTube... Aí embaixo pra você conferir:
Nessas versões foi adotado um estilo caricato para os personagens nas cenas intermediárias, o que foi mantido por muito tempo — até a versão Jailbreak do GBA, esse estilo continuou como padrão.
PlayStation
Na geração 3D, já em 1998, a série começou a perder prestígio. O PlayStation recebeu sua versão com Road Rash 3-D, tendo gráficos mais elaborados, num visual "novo milênio". Quando você cai da moto, rola uma animação com seu personagem voando.
A trilha sonora também é rock, e o controle ficou bem mais sensível, sendo preciso cuidado ao inclinar a moto e fazer as curvas para não ir direto de fuça nos guard-rails. Por ser 3D e portanto ter um processamento mais complicado que os jogos antigos, é visível a queda na sensação de velocidade das motos.
A maior qualidade gráfica pode ser apreciada com muito mais detalhes, como pistas com túneis e nos personagens. Foi mesmo um "up" considerável no visual da série.
Além dessa, o console ganharia mais tarde a versão Road Rash Jailbreak, em 1999, bastante similar de forma geral, uma típica sequência.
Nintendo 64
Lançada em 1999, embora mantendo toda a base, teve diferenças em relação ao padrão clássico, como o motoqueiro não aparecer correndo atrás da moto quando cai e os gráficos bem ao estilo do N64 (aquela coisa Silicon Graphics, de texturas borradas que muita gente detesta e outros adoram).
Provavelmente é o game mais lento de todos, e onde o controle da moto é mais fácil; as trocas de pancada foram muito valorizadas em RR64; o que não significa que as corridas sejam chatas, muito pelo contrário.
Apesar de diferente, é um ótimo jogo, divertido pra caramba, com sessões de pancadaria como nunca antes vistas, praticamente um fighting game sobre duas rodas. Os motoqueiros da CPU se pegam de porrada pra valer, e pegam você também se ficar de bobeira. Em certas pistas avançadas, você será cercado por rivais armados e derrubado num segundo, com poucas chances de defesa; outras vezes, aparecem dois policiais motoqueiros para te espancar, e nem pense em desacelerar: uma viatura pode atropelar geral a qualquer momento. Muito divertido, se nunca jogou dê uma chance.
Foi a versão também com a maior variedade de motos até então, incluindo as "de estrada", estilo Harley-Davidson, que correm pra burro mas são um pouco mais difíceis de controlar. Curiosamente, Road Rash 64 não foi feito pela EA; os direitos de produção do jogo ficaram com a THQ. Sem dúvida, não deve ser desprezada.
Game Boy Advance
Em 2003, o portátil da Nintendo recebeu uma versão totalmente redesenhada (e para nossa tristeza, a última até agora) da série. Um tanto difícil, com variações abruptas na pista, muita velocidade, tendo corridas em ambientes diversos como pistas de terra e à beira-mar.
A tela pequena e a velocidade combinadas tornam esse um dos jogos mais complicados na série; não se espante se nas primeiras jogadas meter a cara nos obstáculos ao tirar os olhos do traçado por um segundinho. Tem que ter olhos de lince e agilidade. Claro que por ser um portátil não se pode exigir muito, mas ainda assim é divertido e de qualidade.
Por que parou, EA?
Daí em diante, a franquia foi, de forma inexplicável, congelada pela EA, que prometeu mais pancadaria nos consoles de nova geração, mas ficou nisso. Alguns fãs sonham tanto com uma sequência que chegam a criar animações de conceitos para novas versões. Veja essa:
Atualização: não é bem um Road Rash, mas já viu o Road Redemption? Criado pela DarkSeas Games, prometia ser uma homenagem com todas as referências à série original da EA.
Vamos esperar que os molengas botem a mão na massa logo, trazendo de volta esse grande clássico para alegria de todos nós que curtimos barbarizar nas estradas sobre duas rodas. Acorda EA!
Bons tempos!!!! Quando vi pela a primeira vez na locadora...pirei, principalmente por causa dos clipes de rock que ali tinha...soundgarden na veia!!!!bons tempos!!!! Atualmente jogo muito a versão mega drive, sega cd e ps1 da vida...clássico!!!!