Quem acompanha Fórmula 1 sabe que o Grande Prêmio de Mônaco tem sempre potencial para ser o mais chato da temporada. As ruas apertadas do principado ao sul da França dão pouco espaço para ultrapassagens, resultando em corridas sem emoção: se não tiver um cara louco diferenciado, um mecânico ou engenheiro fazendo trapalhada nos boxes, ou quem sabe uma chuvinha pra dar um "shuffle", todos terminam na mesma posição em que largaram. E a gente fica uma hora e meia assistindo aquele autorama de um trilho só...
Por outro lado, o que tem de chato, o Grand Prix de Monaco compensa com desafio, história e "glamour". Realizado desde 1929, não fez parte do calendário (ou não ocorreu de forma alguma) só 14 vezes, como durante a Segunda Guerra, ou na morte de membros da família real — não falha desde 1955.
É um ícone não só da F1, mas do automobilismo. Faz parte da chamada "Tríplice Coroa" junto com as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans; vencer as três é honra para poucos: só o inglês Graham Hill conseguiu, e dos ainda em atividade, falta a Juan Pablo Montoya a vitória em Le Mans.
O nível de desafio é enorme; andar com monstros de quase 700 HP nas subidas, descidas e túneis fez Nelson Piquet definir — com autoridade, pois foi empurrado pelos motores mais ferozes já feitos na F1, na Brabham — a prova como "andar de bicicleta na sala de casa". Alguns se aperfeiçoaram na brincadeira de tal forma que viraram lendas locais, como Hill, Ayrton Senna, Alain Prost e Michael Schumacher.
Entre 1984 e 1993, a dupla Senna-Prost foi absoluta e só em 1994, quando o primeiro havia morrido e o segundo se aposentado, Schumacher venceu a primeira, para mais tarde igualar Hill, em 2001. Senna ainda é o recordista com 6 vitórias, comemoradas com quebra de protocolo e banho de champanhe na realeza.
Desfilar pelas ruas que pilotos conhecem bem, pois moram lá, ver o porto, iates, o cassino; passar pela tradicionalíssima curva Loews — ou Grand Hotel — tão devagar quanto um carro de passeio: tudo faz parte do circo, e o "autorama" de luxo é um ritual da temporada, uma apresentação de gala valendo pontos para o campeonato.
Se a palavra Mônaco remete a automobilismo, não poderia ter a Sega escolhido melhor tema para sua mais clássica série de games de corrida (Daytona? Sega Rally? Pfff...). Começou em 1979 nos arcades, com Monaco GP, jogo simples em scroll vertical similar a colegas de década como Hi-way (Atari, 1975), Speed Race (Taito, 1975) e Laguna Racer (Midway, 1977).
Dez anos depois viria a sequência Super Monaco GP, que teve um port fantástico para Mega Drive. O terceiro, Super Monaco GP II, foi assinado por Senna, que não só emprestou o nome como também participou do desenvolvimento.
Vamos repassar cada um desses games a limpo, em suas versões arcade e Mega Drive. Se você jogou, aprecie as memórias e se não, conheça um pouco dessas maravilhas da Sega.
Monaco GP
Lançado em 1979, foi um dos últimos arcades da Sega a usar lógica discreta — em vez de uma unidade central de processamento, a placa consiste em portas lógicas com componentes individuais. Isso dificulta muito a emulação, e impossibilita que seja emulado da mesma forma que os demais baseados em CPU e ROM, pois cada jogo tem hardware único e seria preciso emulá-los caso a caso (algo como desenhar um emulador para cada game). Há projetos dedicados a isso, mas jamais rodará num MAME, por exemplo.
Apesar do nome, o circuito não tem tanto que lembre Mônaco de verdade, porque os gráficos possíveis eram simples demais pra tal. Há sim elementos, como o túnel e a ponte — na pista real, antes da entrada do túnel, há uma ponte, visível antigamente mas hoje escondida por construções.
O objetivo é bater o tempo numa corrida em scroll vertical, e a máquina em si era bacana pro seu tempo: um volante e pedal que deviam atrair atenção geral no arcade. Na máquina haviam LEDs para exibição de placar e timer, e um tacômetro funcional! O traçado... Bem, não há exatamente traçado mas uma pista contínua, sempre congestionada de carros. Bem realista =D Passar pela ponte é terrível, pois é normal que três carros mais lentos apareçam e aí é certeza de rodar.
Àquela altura, realismo era um sonho distante. Mais importante era fantasiar, aproveitar o título, o enredo e imaginar um pixel qualquer como uma curva, ver numa cor diferente a luz de faróis.
Segundo quem jogou (nunca tive a chance), é bem difícil; praticamente impossível não bater quando em velocidade máxima. A quantidade de carros na pista é crescente o congestionamento dá pouco tempo para reagir. Há vários modelos de cabine, incluindo um arcade comum com o volante na frente, e outra mais tradicional para jogar sentado como um piloto (esse aí abaixo).
São 5 tipos de pista: estrada normal, com gelo, túnel (você só enxerga o carro à frente se estiver na área iluminada pelo farol), uma pista com brita nas laterais e uma ponte. Se conquistar 2000 pontos, atinge-se o nível "extended", e a cada 2000 pontos a mais, ganha-se um carro (vida).
Em 1980 foi lançada a versão Pro Monaco GP, com poucas diferenças: além da cabine e artes, há um bônus de 200 pontos para cada carro ultrapassado em certas pistas, ou no fim do jogo se 16 carros forem ultrapassados em sequência. Foi incluído também um ranking para o jogador baseado no número de partidas desde que a máquina foi montada.
Monaco GP teve seu valor, mas não dava pra ser muito realista, recriar pistas ou pilotos, por mais ordinários que fossem. O nome estava preservado para reaparecer quase uma década depois, aí sim num pacote mais interessante.
Super Monaco GP
Em 1989, a Sega tirou o game da aposentadoria para ressurgir em versão Super, numa revolução total. Dez anos de tecnologia dão uma bela margem para evolução, e isso foi aproveitado para criar um produto 100% novo e infinitamente superior.
De novo, o objetivo é lutar contra o relógio, mas numa reprodução mais fiel de Mônaco. Escolha seu tipo de câmbio (automático ou manual de 4 ou 7 marchas) e acelere numa classificatória de 45 segundos; se não conseguir tempo mínimo para entrar no grid, toma game over aí mesmo.
Na corrida, mantenha-se sempre dentro de uma posição-limite, começando do 20º lugar. A cada checkpoint, o limite diminui — o efeito é sufocante, o estreitamento combinado com o alerta sonoro irritante faz a jogada ser tensa para quem anda no pelotão do fundo.
Apesar de pixelado para padrões modernos, os gráficos evoluíram demais, é outro mundo em tecnologia. A visão é um meio-termo entre câmera onboard e visão do piloto, com direito até a retrovisor e painel de informações como posição, marcha e mapa da pista.
As cabines, com monitor de 26 polegadas e som estéreo, consumiam em média 630 W, pesando quase 350 kg! Eram decoradas com óbvia "inspiração" na McLaren: os mesmos recortes angulares em branco e vermelho da Marlboro — apesar de não terem licença para exibir nomes de pilotos e escuderias, a vontade era tanta que imagens digitalizadas foram parar no game, sem cobrir ou alterar marcas. E deu problema, lógico.
A McLaren #11 de Alain Prost está na apresentação, com todas as marcas perfeitamente legíveis, o que rendeu à Sega um processo vindo da Philip-Morris, fabricante dos cigarros, por ferir sua política de não fazer propaganda para crianças e adolescentes. No Mega Drive, o carro foi substituído por um genérico vermelho.
As modelos da Playboy
Naquela época devia ser comum o desenho por cima de fotografias para inserção em games. Já mostrei aqui no Memória BIT o caso das imagens do filme Predador usadas como base na arte japonesa de Contra, no Famicom.
Super Monaco GP tem um... ou melhor, dois "belos exemplos" dessa técnica. Na tela-título, a grid girl com um típico maiô oitentista amarelo dá as boas-vindas. Uma figura inocente, ou talvez não muito para criancinhas dos anos 80, sei lá...
Seja como for, fato é que a garota não é um desenho qualquer, ela existe: foi descaradamente desenhada por cima de uma foto da loira Mercy Rooney.
A foto em questão foi publicada na Playboy americana em dezembro de 1972 — informação importante pra você que curte de uma nudez old school fará sua pesquisa por interesses puramente histórico-culturais... O pessoal da arte simplesmente desenhou o maiô pixelado sobre ela, tirou o chapéu de sua mão e pronto, nem se preocuparam em limpar os espaços no cabelo, que ficou amarelo mesmo com o céu azul de fundo.
A outra moça, do aviso de "não-qualificado", também saiu da Playboy, e nosso amigo japonês que as escolheu tinha um gosto refinado, não? É a lindíssima morena Claire Rambeau, numa foto ainda mais peladinha que foi às bancas em outubro de 1971.
Pelo jeito os programadores ou alguém da equipe tinha predileção por revistas antigas — quando SMGP foi desenhado, as citadas edições da Playboy beiravam 18 anos de circulação.
Lógico que a Sega não pagou nada pra ninguém (até onde se saiba), afinal não usaram exatamente material da revista, só fizeram um "redesign" por cima, tipo um rapper que usa samples ou bases alheias. Anos depois algum fapeiro apreciador de nu artístico e games descobriu as fotos durante pesquisas de teor puramente histórico-cultural, e reconheceu a incrível semelhança.
Imagine hoje o tamanho da encrenca e dos processos (vide caso da Lindsay Lohan, que encasquetou ser a modelo-base daquela arte de GTA V com a loira de biquíni).
A recepção crítica e pública ao jogo foi ótima, com grande sucesso no Japão, onde alcançou o topo das vendas. Como o Mega Drive estava pronto para o mercado, ganhou um port logo de cara, lançado 15 meses depois do original (agosto de 1990). A marca seria imortalizada de vez entre as grandes de corrida.
Mega Drive
Além de manter a jogabilidade do arcade, a versão ganhou muita coisa, perdendo poucas outras. O giro do carro na pista deixou de existir, além de uma óbvia redução da qualidade gráfica geral, mas para um início de geração, o trabalho foi espetacular. Detalhes de circuitos como a floresta de Hockenheim, o contorno natural do Rio (o GP ainda era em Jacarepaguá) e os prédios de Phoenix, tudo conspirava para um realismo jamais visto em consoles.
A grande novidade foi o modo World Championship, com a riqueza de um set completo de escuderias e pilotos. Como não era um produto oficial, foram todos "inspirados" nos reais; o melhor carro é um amarelo e vermelho parecido com a McLaren, rebatizada Madonna; o francês Alain Prost é o piloto — ou melhor, o também francês A. Asselin. Já a Ferrari ganhou outro nome bem italiano, Firenze. Piquet foi convertido no brasileiro A. Picos, não da Benetton, mas da Bestowal.
Cada piloto tinha sua identidade verdadeira na temporada 1988 da Fórmula 1, mantendo nacionalidades e em alguns casos, até semelhança física (Picos é quase o clone do Piquet). Senna, já alvo de admiração japonesa, foi representado por um piloto especial, G. Ceara, na segunda temporada.
Por que especial? Veremos logo...
Essa é a lista completa de pilotos, escuderias e suas contrapartes do mundo real. Veja que eles jogaram dados de 1988 e 1989 no liquidificador para criar um universo novo: Senna na Arrows, ou Mansell na Rial, são fatos que jamais aconteceram, embora as equipes existissem. A Onyx (que virou Orchid) estreou na F1 em 1989; Nakajima pilotava a Lotus e não Tyrrel, etc...
Classe A | |
A. Asselin (França) Baseado em Alain Prost Equipe Madonna (McLaren) |
F. Elssler (Áustria) Baseado em Gerhard Berger Equipe Firenze (Ferrari) |
G. Alberti (Itália) Baseado em Riccardo Patrese Equipe Millions (Williams) |
A. Picos (Brasil) Baseado em Nelson Piquet Equipe Bestowal (Benetton) |
Classe B | |
J. Herbin (França) Baseado em Jean Alesi Equipe Blanche (Brabham) |
M. Hamano (Japão) Baseado em Satoru Nakajima Equipe Tyrant (Tyrrel) |
E. Pacheco (México) Baseado em Luis Perez-Sala Equipe Losel (Lotus) |
G. Turner (Reino Unido) Baseado em Johnny Herbert Equipe May (March) |
Classe C | |
B. Miller (Estados Unidos) Baseado em Eddie Cheever Equipe Bullets (Arrows) |
E. Bellini (Itália) Baseado em Andrea de Cesaris Equipe Dardan (Dallara) |
M. Moreau (França) Baseado em René Arnoux Equipe Linden (Ligier) |
VOCÊ (SEU PAÍS) Baseado em: ninguém Equipe Minarae (Minardi) |
Classe D | |
R. Cotman (Reino Unido) Baseado em Nigel Mansell Equipe Rigel (Rial) |
E. Tornio (Finlândia) Baseado em JJ Lehto Equipe Comet (Coloni) |
C. Tegner (Suécia) Baseado em Stefan Johansson Equipe Orchis (Onyx) |
P. Klinger (Alemanha) Baseado em Bernd Schneider Equipe Zeroforce (Zakspeed) |
G.Ceara (Brasil) Baseado em Ayrton Senna Equipe Bullets (Arrows) |
O único personagem "neutro" é o seu, que não tem nome e pilota o carro da equipe Minarae, com motor "Sega SG1000 V8". Sendo da série C, não é lá muito competitivo, mas o modo de desafio entre pilotos pode melhorar sua vida: desafie rivais e batendo o cara duas vezes, a equipe te oferece o lugar, sem a mínima cerimônia. O mesmo vale se você perder dois desafios: diga adeus a seu carro e engula a demissão, tendo que contentar-se com um time menor.
Sua meta é vencer o campeonato mundial, tarefa não muito fácil para iniciantes, já que o Minarae não ajuda. Asselin deve vencer as primeiras corridas com facilidade, e quando você tiver um carro decente, pode ser tarde para tirar a diferença. O negócio é desafiar uma boa equipe cedo, e se tiver competência, sentar no Madonna o mais rápido possível.
Ou se gostar de MAIÚSCULOS desafios, tente a sorte na Zeroforce — como o nome sugere, o carrinho laranja é tão ruim que dá problema em praticamente todas as corridas, mesmo se pilotado com o máximo de cuidado. Foi inspirado na equipe alemã Zakspeed, a pior de 1988 com apenas 5 corridas completas (incluindo os dois pilotos) e um 12º lugar como melhor resultado.
Com o livery praticamente igual ao da McLaren, trocando o branco por amarelo, o Madonna Palm 190 V10 é o carro dos sonhos: muito rápido e com dirigibilidade e resistência impecáveis. Para receber a oferta de contrato você pode tanto bater Asselin duas vezes, quanto faturar o título da temporada: nesse caso, receberá o convite no início da temporada seguinte.
Depois de tanto esforço, você satisfeito com o campeonato mundial e preparando-se para uma feliz temporada na melhor equipe? Seria uma pena se um cara virtualmente imbatível aparecesse para destroná-lo, né?
Prepare-se para sentir na pele mais ou menos o que Prost sentiu com a ascensão de Senna: tomar pressão de um novato rápido pra burro e ainda por cima meio folgado.
Ayrton Ceara, ou G. Senna
Para evitar que o jogo vire um marasmo na temporada de defesa do título, pois o Madonna é praticamente o dobro da sacanagem que as Mercedes são hoje, alguém teve uma ideia maquiavélica: já que o jogador foi hábil o bastante para ser campeão, mandemos um desafio desumano logo no começo do ano, pra ele aprender que a vida é má.
Escolheram Senna, ou melhor, G. Ceara, como um novo piloto super-apelão, que mesmo na relativamente modesta equipe Bullets, desafia você e seu poderoso Madonna. O que deveria ser uma corrida tranquila revela-se num dos maiores desafios dos games quando na largada, o cara pula na frente de modo inexplicável.
Por mais que você meta o pé, ele parece impossível de alcançar, num efeito elástico cruel — se você acelera demais, ele também; se você reduz, ele acelera um pouquinho menos, mas não muito...
"Your days are gone!" Seus dias como bonzão acabaram, passe o Madonna pra cá, jovem!
O resultado normal é derrota em San Marino, e para desespero geral, o mesmo acontece no Brasil, causando sua demissão e um reinício na Dardan. De posse do Madonna, ele é um piloto normal, mas não adianta batê-lo, pois você não recebe outra proposta de trabalho e terá que contentar-se no máximo com a Firenze, também suficiente para um segundo título fácil.
Eram poucos os que tinham habilidade e paciência bastantes para derrotá-lo, e a dificuldade é tão elevada que muita gente acha até hoje ser impossível, um recurso para impedi-lo de terminar o game num passeio madonniano. Só com vídeos é que a alguns enfim convenceram-se de que não, Ceara não é imbatível.
Veja como o poder dele termina depois de ser ultrapassado. É como se o feitiço de sua super-abóbora fosse quebrado ao perder o primeiro lugar.
Vencê-lo em uma das 2 primeiras corridas basta, pois na França (3ª corrida do ano) acaba a pilantragem. Ele segue obstinado em tomar seu posto por toda a temporada, com desafios regulares enquanto a Bullets oferece contrato a cada corrida.
As pistas são as mesmas 16 da F1, exceto pela ordem: Mônaco ganhou destaque indo para a última data:
- San Marino – Autodromo Enzo e Dino Ferrari
- Brasil – Jacarepaguá
- França – Paul Ricard
- Hungria – Hungaroring
- Alemanha Ocidental – Hockenheim
- Estados Unidos – Phoenix
- Canadá – Gilles Villeneuve
- Reino Unido – Silverstone
- Itália – Monza
- Portugal – Estoril
- Espanha – Jerez
- México – Hermanos Rodriguez
- Japão – Suzuka
- Bélgica – Spa-Francorchamps
- Austrália – Adelaide
- Mônaco – Circuit de Monaco
A aprovação ao game foi massiva, recebendo inclusive a nota mais alta já dada em reviews da revista EGM até então. Detalhes em busca de realismo como problemas no carro, uso de slipstream (vácuo), características das pistas e a personalidade de cada piloto superaram possíveis pontos negativos como a velocidade absurda, as enormes e complicadas passwords, e claro, a falta dos pilotos e equipes reais.
Por anos ele foi o mais importante do gênero no Mega Drive, e mesmo diante de tecnicamente superiores como Newman Haas IndyCar featuring Nigel Mansell e Virtua Racing, é o favorito para uma legião de fãs. Para os que ainda não estavam satisfeitos, viria uma ajuda mais que qualificada para a sequência.
Ayrton Senna's Super Monaco GP II
Em 1992, a TecToy estava estabelecida no Brasil com os produtos da Sega, e começava a meter a mão na graxa para também produzir conteúdo em vez de só publicar. Se não programando, podiam ser ideias, e foi nos escritórios da empresa nacional que pensaram o óbvio: quem melhor para estrelar um Super Monaco GP do que seu maior vencedor, que "por acaso" era brasileiro?
Em maio daquele ano, Senna havia ganho a prova pela quinta vez, tornando-se recordista junto com Hill; seria absoluto no ano seguinte, herdando a "coroa" de Rei de Mônaco após cinco vitórias consecutivas, de 1989 a 1993 — sem falar num erro incrível quando liderava em 1988, e uma vitória possível em 1984 impedida pelo mau tempo (ou pela direção de prova?); Mônaco parecia feito sob medida pra ele.
Ter Senna no game era como juntar a fome com a vontade de comer: mito de Mônaco e ídolo dos japoneses, foi só apresentar a proposta à Sega do Japão para ter aprovação imediata.
O então presidente da TecToy, Stefano Arnhold, lembrou detalhes em entrevista ao Uol Jogos:
Como ele estava na "onda" com a McLaren e os motores Honda, quando cheguei à Sega e propus um jogo do Ayrton Senna, não precisei explicar quem ele era. Eles já adoraram o projeto, então fomos conversar com o Ayrton, que também adorou.
Senna não só emprestou sua imagem: foi um consultor técnico que forneceu ideias e feedbacks sobre o desempenho, reações, pistas e tudo mais. Chegou ao nível de detalhismo de corrigir como o carro era deteriorado ao passar sobre zebras, característica herdada do SMGP, mas aperfeiçoada para que só ocorresse em caso de exagero. Sua voz foi incluída dando dicas e incentivo.
Mônaco, de certa forma, perdeu um pouco de destaque. O Monaco Mode deu lugar ao Senna GP, com três pistas: uma versão genérica do circuito do principado, um na Áustria (ambos desenhados por Senna), e o traçado de seu kartódromo em Tatuí.
Com o refinamento da jogabilidade, o game ficou mais desafiador, já que o original era fácil depois de pegar um pouco de prática. O modo World Championship voltou com novos pilotos e equipes, mas felizmente abandonaram o pavoroso sistema de passwords em favor de uma abençoada bateria interna.
Senna foi o único piloto real, enquanto os demais (e equipes) seguiram fictícios. Coincidência (ou não, pois foi demitido antes do GP final daquele ano), o então desafeto Prost, que esteve em quase toda a temporada 1991, teve seu genérico cortado: sua Ferrari / Firenze foi representada por I. Germi (Ivan Capelli), enquanto Gilles Villeneuve (G. Gould) pilotou a Tyrrel numa participação especial.
Teria sido sugestão de Senna incluir um de seus pilotos favoritos? Talvez. A Minarae cresceu virando carro da classe B, cedendo lugar na C à equipe Serga.
Pilotos e equipes. Note que a semelhança entre realidade e ficção abusou de vez; Jones é basicamente Mansell sem bigode, Blume tem o mesmo queixão de Schumacher, e o genérico de Moreno é quase igual ao "pai". Curioso também que o sprite de J. Herbin, de SMGP, foi reutilizado para J. Rampal.
Classe A |
|
A. Senna (Brasil) Baseado em Ayrton Senna Equipe Madonna (McLaren) |
N. Jones (Reino Unido) Baseado em Nigel Mansell Equipe Millions (Williams) |
I. Germi (Itália) Baseado em Ivan Capelli Equipe Firenze (Ferrari) |
M. Blume (Alemanha) Baseado em Michael Schumacher Equipe Bestwal (Benetton) |
Classe B | |
G. Gould (Canadá) Baseado em Gilles Villeneuve Equipe Tyrant (Tyrrel) |
L. Dufay (Itália) Baseado em Andrea de Cesaris Equipe Joke (Jordan) |
K. Alfven (Finlândia) Baseado em JJ Lehto Equipe Dardan (Dallara) |
J. Nono (Itália) Baseado em Gianni Morbidelli Equipe Minarae (Minardi) |
Classe C | |
W. Dehehe (Brasil) Baseado em Roberto Moreno Equipe Losel (Lotus) |
P. Arai (Japão) Baseado em Aguri Suzuki Equipe Lares (Larrousse) |
J. Rampal (França) Baseado em Olivier Grouillard Equipe Feet (Footwork) |
VOCÊ (SEU PAÍS) Baseado em: ninguém Equipe Serga (Sega) |
Classe D | |
T. Chardin (França) Baseado em Erik Comas Equipe Rigel (Ligier) |
P. White (Áustria) Baseado em Karl Wendlinger Equipe Blanche (Brabham) |
A. Delvaux (Bélgica) Baseado em Bertran Gachot Equipe Cool (Coloni) |
K. Yepes (Espanha) Baseado em Pedro Chaves Equipe Moon (March) |
A equipe de desenvolvimento foi quase a mesma, com o acréscimo de Rieko Kodama (dispensa apresentações) e Kazuyoshi Tsugawa (Phantasy Star III, Mercs) como designers ao lado do veterano Kaki. Senna é creditado como Supervisor na versão Mega Drive e Produtor na versão Game Gear / Master System.
Os circuitos foram os da temporada 1991, num calendário mais realista que pôs Mônaco em seu devido lugar (quarta corrida da temporada).
- Estados Unidos - Phoenix
- Brasil - Interlagos
- San Marino - Imola
- Mônaco - Monaco
- Canadá - Montréal
- México - Mexico City
- França - Magny-Cours
- Reino Unido - Silverstone
- Alemanha - Hockenheim
- Hungria - Hungaroring
- Bélgica - Spa-Francorchamps
- Itália - Monza
- Portugal - Estoril
- Espanha - Montmelo
- Japão - Suzuka
- Austrália - Adelaide
Mesmo com as correções, SMGP II não é perfeito. Um velho lance que me incomodava muito continuou, na tomada de curvas: em vez de seguir a linha certa e então tangenciar, podemos ir por dentro e virar na última hora, e em curvas menos acentuadas, nem é preciso virar o volante / controle.
Sempre preferi também a música de SMGP; as do Senna GP são fraquinhas, pouco marcantes. Foi legal a adição da voz de Senna, mas a qualidade é baixa, melhoraram pouco em relação aos "keep it up" e "good luck" de antes. Mesmo assim, as novas pistas, gráficos atualizados e jogabilidade de primeira fazem dele uma opção classe A em corrida no velho Megão.
Conclusão
Super Monaco GP foi o primeiro contato de muita gente com o esporte Fórmula 1. Ser lançado nos primeiros meses do Mega Drive, e com tanta qualidade, fez dele um clássico imediato, mostrando o potencial da máquina para excelentes conversões de arcade.
Os direitos sobre a F1 nunca estiveram com a Sega para aplicar no game (tiveram aquela experiência em Beyond the Limit, em parceria com a Fuji Television, além de F1 Challenge do Saturn, mas para SMGP, nunca), e com a linha atual da Codemasters, é improvável que a série saia do baú. Mas sua importância histórica, e nos 16-bit, essa está imortalizada nos jogos que continuam por aí, para apreciação a qualquer tempo.
Se você nunca tentou nenhum, recomendo que experimente. São uma amostra sólida de como era a diversão antes das preocupações exageradas com gráficos ultra-realistas, perfeitos para conhecer o passado dos racing games e principalmente, a evolução dos games de F1.
Vergonha, essa semana tentando ganhar do G. Ceara...até hoje eu não consegui ganhar desse cara!!!! Voltei a jogar esse clássico game do poderoso Mega Drive, valeu!!!!
O 2 é o melhor e ponto, o anterior é muito inferior até mesmo no arcade.
Senhores, Trago a vocês o mistério da Faixa 12. E o que é isso? Se vc abrir super monaco gp 2 e ir nas opções, verá que na música 12, é uma música que não tem em lugar nenhum do jogo. E aí alguém sabe onde ela toca?
Preciso dar uma procurada, mas pode ser sobra que não foi usada, tipo a faixa de Sonic que seria usada no Hidden Palace e ficou no sound test.
Interessante, procurei essa música igual doido mas nunca a encontrei no jogo. Só me resta mais duas teorias a confirmar, a primeira é fazer final com o carro da serga o que é bem difícil e a segunda é mais trabalhosa, fechar o jogo 10 vezes seguidas como falava a Lenda da época.
Fechar 10 temporadas? Não conhecia essa, imagino que seja lenda porque nunca li nada parecido.
Fiz 11 finais do jogo. Fiz final com a serga. Ganhei todas as 16 corridas com 16 poles. Fiz o senna GP e campeonato mundial no begginer e master, mais nada dessa música aparecer. Como você disse, provavelmente é alguma trilha sonora não utilizada no game.
Tenho uma atualização, não descobri mais nada sobre a faixa 12, porém descobri um bug, no jogo que te permite jogar em um modo onde é possível escolher em que posição vc e seu adversário termina, independente da posição que vc fique na corrida, e independente do modo de jogo. Eu vi no youtube, um vídeo de um baita brasileiro viciado, que fez uma temporada inteira com a pior equipe (moon) e conseguiu ser campeão com ela. Porém não da pra jogar o Senna direto pra moon, ao ser campeão pela moon o jogo buga. Fui fazer isso só que sem jogar uma temporada inteira de moon, o jogo bugou e eu dei reset no emulador, pronto. O jogo fica meio bugado, o free practice não funciona, porém de resto, é só escolher em qual posição quer terminar. Dessa forma pude testar outra teoria, de pegar a Madonna logo de início, mas é impossível, derrotei o Senna 14 vezes mas pra ir pra madona só sendo campeão.
Só apontando para o pessoal que no site romhacking fizeram os 2 SMGP de MEga com os pilotos reais, uma rom hack fantástica, só ir lá, e baixar, e aplicar na ROm dos game o arquivo ips! Seja como for, prefiro as versões do Mega que a do arcade, a jogabilidade lá me parece muito truncada, a de Mega é redondinha! E os gráficos me agradam mais, as vezesm, menos é mais...
Essa semana zerei a versão Sega CD...já senna Gp 2 no modo master é kabuloso de zerar!!!! Super Monaco GP tem que fazer toda uma extratégia para conseguir ganhar o campeonato!!!! Bons tempos!!!!
Senna GP é bem mais difícil mesmo. Abraço!
Estava jogando na versão MAME esses dias e aquele giro do carro na hora da colisão me irrita...bons tempos em que jogava no fliperama. Na minha opinião a versão mega drive é a melhor de todas. Super monaco GP era e ainda é um bom jogo... já que hoje temos tanta tecnologia e assistir essas corridas de domingo na TV perderam um pouco da graça. Não tem brasileiro ali copetindo e antigamente tinha-mos Nigel Mansel, Senna, Prost, Demon Hill e muitos outros correndo. Bons tempos de Antigamente como dizem!!!! valeu
Lembro de ir ao fliperama no auge de street fighter 2 nos anos 90 em Brasília...e o que tinha li perto...super monaco gp, bons tempos!!!! foi quando eu vi pela a primeira vez no fliperama...com o tempo fui a um shopping em Brasília na época do auge mega drive da vida e ali estava super monaco gp...saudades!!!! Gosto muito desse jogo...já senna gp 2 não sou muito fã!!!! Apesar de senna gp 2 ser mais fiel a fórmula 1 real em termos de jogabilidade, velocidade...que em super monaco gp chegava a mais de 408 KM/H...sou fã mesmo do primeirão smgp da vida!!!!bons tempos!!!!
Eu também, cara. O SMGP 2 teve melhorias, mas sei lá por qual razão gosto mais do primeiro.
Jogaço! Comprei um emulador de MegaDrive para meu celular apenas para poder jogar esses clássicos. SMGP é meu favorito (a trilha sonora realmente faz diferença), apesar do 2 ter alguns pontos bem bacanas como o jogo não acabar depois de defender o título e a óbvia dificuldade aumentada, além do sistema de troca de equipes que ficou bem mais aleatória: se antes bastava vencer 2 corridas seguidas do adversário, em AS'SMGP2 não existia um padrão: algumas vezes era necessário ganhar do mesmo oponente 3, 4 vezes ou até mais para receber o convite de uma equipe superior.
A SEGA era muito sem noção naquela época. Além das moças que foram parar no game, o piloto G.Turner de SMGP é uma cópia descarada do ator River Phoenix (http://jphoenixbrasil.com/river/wp-content/uploads/2010/10/river_phoenix_01.webp).
E para mim, K.Alfven de AS'SMGP2 pode até ser baseado no JJ Lehto, mas a cara dele é a mesma do Keke Rosberg, só que sem bigode: http://media.tumblr.com/tumblr_lecgyfBlPC1qbm0mn.webp
Gostaria apenas de fazer uma correção... em AS'SMGP2 não é sempre que você perde velocidade ao baterem no seu carro: se o oponente bater na parte de trás do seu carro você não perde velocidade. Porém, se ele bater na frente ou nas laterais (mesmo que seja na diagonal), você perderá segundos preciosos.
Abraços!
Essa do River Phoenix passou batido, apesar de agora que você falou, realmente me lembrar de ter visto em algum lugar. Bem lembrado, vai pro artigo. Abraço!
Só li agora esta maravilhosa matéria. Se o autor e o João ainda visitarem estas páginas, vai a minha contribuição de semelhanças no mundo dos games http://www.hardcoregaming101.net/tracing/tracing6.htm
Um abraço!
Meu velho Old-Hutter, esse vídeo se não me engano é um remake, tem uns caras fazendo algo assim com os arcades antigos que não rodam no MAME. E é bem mais difícil controlar o carro no arcade mesmo, escrevi jogabilidade mas estava pensando é no que mantiveram como os tipos de câmbio, o modo GP Monaco, etc. O jeito de jogar mudou pela "suavização" - afinal ninguém ia gastar fichas :p
SMGP2 nunca foi meu favorito, pra falar a verdade. Teve uma melhora gráfica sim, mas de resto ficou difícil, apelão como você citou sobre as batidas, e a trilha sonora não me agrada. As melodias do SMGP eram sensacionais, enquanto músicas do SMGP2 eu mal me lembro...
Abraço!
“Quem acompanha Fórmula 1 sabe que o Grande Prêmio de Mônaco tem sempre potencial para ser o mais chato da temporada.”
Isso nos tempos atuais, onde os carros quase que andam sozinhos, em épocas passadas era o talento do piloto que determinava a vitória.
Esse Mônaco GP de 1979 é interessante, mas pelo que disse meu bom Daniel, esse game jamais poderá rodar em um MAME (devido seu hardware único). Bem, então fiquei em dúvida, de onde veio o vídeo do game rodando?
SMGP é fantástico no árcade. “As cabines, com monitor de 26 polegadas e som estéreo, consumiam em média 630 W, pesando quase 350 kg.” Adoro essas suas informações técnicas. Com gráficos e som superiores ao Mega Drive o Arcade ganhava em tud ..... Somente nisso, exato, apenas no quesito técnico. A jogabilidade no Arcade era péssima, refinaram muito os controles no Mega, e só de ter o World Championship já valia tudo e mais um pouco.
“Além de manter a jogabilidade do arcade, a versão ganhou muita coisa, perdendo poucas outras.” Daniel, você está de brincadeira né, controlar o carro no Arcade é só para Jedi, no Mega, tudo ficou mais suave.
SMGP 2 só não ficou melhor que o 1 por causa da física do carro, repare, você nem precisa frear, basta soltar o acelerador que o carro vai perdendo velocidade mais rápido que o normal. Sem falar no fato que quando você batia na traseira do adversário em baixa velocidade ambos “escorregavam” e perdiam tempo, agora não importa se você bate ou se batem em você, é só seu carro que perde velocidade e tempo, muita sacanagem.
Também achei que os carros do SMGP 1 tem mais diferenças entre si, no SMGP 2 todos se parecem, há virtualmente pouca diferença entre os grupos A e B, C e D.
Meu texto está ficando longo demais, grande abraço Daniel.