O que esperar do novo Mega Drive da Tectoy?

Todo mundo deve estar a par da nova cartada da veterana Tectoy, a eterna parceira da Sega no Brasil. Crucial em fazer a marca popular por aqui, mas com uns tropeções fortes como o Zeebo, a empresa está a todo vapor, com novo blog e página do Facebook cheia de postagens. A contagem no site anuncia uma grande novidade, que pode ser um novo Mega Drive, para daqui 5 dias.

O alvoroço começou quando publicaram essa imagem no Facebook, perguntando:

"Se fosse para voltar a produzir um console de sucesso da Tectoy, qual você gostaria?"

O Mega parece ter recebido a maior parte dos comentários positivos. No dia 24, revelaram um vídeo teaser com o sugestivo título "Mega lançamento da TecToy", deixando mais que óbvio que se trata de algo envolvendo o saudoso 16-bit. Até o logo clássico da companhia foi recuperado, pra delírio nostálgico de fãs que passaram a especular o que vem por aí.

Após quase incontáveis clones vagabundos de Master System e Mega Drive, com conexões arcaicas e jogos na memória, o mínimo que se espera de "novidade" é que seja uma novidade. Mas pensando na idade do aparelho, também fica difícil acreditar em muita similaridade com o que tínhamos lá nos anos 90, por motivos diversos.

O que dá pra esperar do lançamento? Mega com slot de cartuchos? HDMI? Ou a Tectoy só vai coletar uma graninha em cima do modismo do retrogaming com uma solução simples e barata, e voltar ao ostracismo nos games?

Será algo parecido com isso que a Tectoy reserva para os próximos dias?
Será algo parecido com isso que a Tectoy reserva para os próximos dias?

Back to the past

A saída da Sega do ramo de consoles foi um duro baque para a parte nacional, que em 2006 chegou perto da falência. A Tectoy teria que se reinventar. Após mais de uma década de frutífera parceria, passaram a produzir as famosas várias caras de Master System e Mega Drive de baixo custo (e qualidade), voltados a crianças e consumidores de baixa renda, que não podiam comprar videogames modernos. Numa estranha versão local da Síndrome de Galápagos¹, os clones ordinários vendem até que bem, tomando formas diversas desde então.

¹ Termo originado num fenômeno comum do mercado japonês, onde um produto local pode jamais sair para o resto do mundo, ou um estrangeiro se desenvolve localmente de outro jeito, adaptado aos costumes e gostos regionais. Celulares de flip, por exemplo, praticamente extintos no mundo, continuavam em alta no Japão. Wikipedia.

Com isso, além aparelhos de karaokê e outras traquitanas eletrônicas, a Tectoy até conseguiu sair um pouco do buraco que o fim do Dreamcast cavou. Mas quando tentaram recuperar o DNA da marca com um novo videogame, o Zeebo, a maionese desandou de novo — fracasso sem tamanho, vendeu 20 vezes menos que o esperado.

"Não fosse ele, a Tectoy já operaria no azul", disse Stefano Arnhold, um dos fundadores e presidente do conselho, à época do fiasco. Outra recuperação parcial viria ao diversificar: com babás eletrônicas, tablets e principalmente DVDs, foram lentamente retomando o caminho, apesar de ainda estarem no negativo.

A parceria com a Sega continuou válida, no mínimo, até o meio dos anos 2000, quando o icônico logotipo azul desapareceu das caixas dos produtos lançados aqui (não houve confirmação oficial de um fim de contratos, ou se foi por outra questão). Se em qualquer momento antes disso fosse viável, eles poderiam produzir um Mega Drive mais fiel ao clássico. Mas por questão de economia, produziram só emuladores "disfarçados": hardware de baixíssimo custo que emula o sistema original. E na maioria dos modelos, péssima emulação, com som ruim, delay e outras falhas. Suficiente para uma criança ou um leigo, mas jamais aceitável para o consumidor veterano.

Será que a hora é essa? Com o anúncio do NES Classic Edition (ou mini NES), ficou claro que a Nintendo percebeu que, apesar de não ser mais o monstro rentável do passado, há dinheiro a se fazer no nicho retrô. Fãs da Sega começaram a pedir algo parecido, e aqui no Brasil, lógico que o alvo é a Tectoy. A empresa foi bombardeada por pedidos de um Mega Drive "original".

Arnhold falou em entrevista ao Uol Jogos no início de setembro sobre as dificuldades em voltar aos videogames, e recriar o hardware da forma mais próxima possível à clássica:

O caminho estratégico que a Tectoy estava seguindo era em outra linha, mais dedicado ao baby care. Agora estamos estudando como dar atenção a essa demanda [dos fãs antigos]. Mas já percebemos também que o pessoal quer um produto muito autêntico. O assunto dos direitos é muito complexo, estou lendo contratos da década de 90, alguns ainda válidos, outros não, para entender o processo do ponto de vista legal. [...] Isso pode ser um impedimento em alguns momentos.

Uma pequena interrupção: eles parecem bem conscientes de que outro emulador não vai funcionar, mas vocês acham que se não tiver SEGA na embalagem, ou for feita qualquer concessão em relação a visual, será bem aceito?

Estamos numa fase de estudar a parte legal, que é muito complexa. Estamos estudando a parte de engenharia também, porque por exemplo no Master System, optamos por soluções sem acesso ao cartuchos, mas a demanda que vem pra gente é que tenha o cartucho. Isso significa todo um novo desenvolvimento. Tem o nosso conhecimento sobre os displays grandes de hoje, e o tamanho do cabo — o cabo precisa ser maior para que o consumidor fique mais longe da TV.

Outro adendo: se a Tectoy ainda tem dificuldades financeiras, gastar com pesquisa e desenvolvimento de algo parecido com o original, pelo menos nas funções, será uma aposta, um risco. Ou agrada o público e vende bem, ou se complicam ainda mais. Logo, eles não tem muita margem de erro, de desagradar os fãs ou tentar convencê-los a algo: precisam entregar o que é pedido, ou o mais próximo disso.

Ou seja: isso tudo é muito grande. É uma demanda muito grande, mas queremos fazer junto com a comunidade, porque vamos ter dificuldades, e algumas delas provavelmente não vamos conseguir superar. Nosso objetivo será abrir isso para comunidade, para que ela nos ajude a encontrar a solução e que fiquem, de certa forma, "cúmplices" da gente no que não conseguirmos superar.

Depois da bola fora com o Zeebo, nada mais natural que buscar o feedback público para saber exatamente o que entregar, o que o consumidor quer. Estão fazendo certo, para não ficar nada nebuloso, que depois seja visto como promessa não cumprida.

Desde o mês passado, a notícia que mais circula é que a Tectoy pensava simplesmente num videogame com saída HDMI. Mas pelas palavras de Arnhold, nota-se que eles sabem que o público quer algo muito superior aos "consoles de brinquedo" com centenas de jogos na memória e acabamento fuleiro. Anos atrás, a Tectoy lançou o MD Play, portátil que roda até jogos em ROM gravados num SD card. Na onda do mini NES, a americana AT Games tentou faturar relançando o Firecore, um "mini" com som mono. Ambos ligados à TV por vídeo composto; o primeiro sem entrada para cartucho, e o segundo com cartucho, mas um chip de áudio medonho.

Não é isso que o povo quer. Se vier qualquer trolha parecida, a Tectoy vai se lascar.

Mas se a Tectoy entrou na aventura, sabendo como é a dinâmica desse público exigente, não deve ter sido pra perder. O mínimo esperado é HDMI e slot de cartuchos, e considerando o timing do NES Classic, muito possivelmente um visual idêntico / próximo ao Mega Drive original. Afinal você sabe, o lance da nostalgia é importante na história.

Mas e o recheio? Se a Tectoy tinha só direitos comerciais, poderiam substituir componentes antigos e fazer um novo Mega Drive como no projeto da Sega, sem consequências? Isso depende dos contratos. Sem falar da questão técnica: provavelmente seria desperdício recriar um hardware de quase trinta anos fielmente só por luxo, sendo que naturalmente passam por revisões ao longo do tempo. Quem confere as "entranhas" de videogames de diferentes revisões sabe como o design muda em poucos anos: componentes são enfiados num só encapsulamento, diminuem, mudam de fabricante, etc.

Uma revisão do Mega Drive 1, mantendo a essência e adicionando as desejadas novas características como HDMI e cartão de memória, parece o cenário ideal para ambas as partes, empresa e público. Reduz gastos, não faz emulação.

Só não pode ser isso:

placa mega drive guitar hero
Se o papo for por aí, já começamos mal... Imagem

Se a Tectoy chegar ao menos perto das placas das últimas revisões do Mega Drive (que ainda suportavam Virtua Racing e 32X), será algo grande. Com slot de expansão para Sega CD, enorme. E se convencer o público hardcore, como colecionadores, podem esperar encomendas do mundo todo, porque não há notícia de nada parecido em circulação, onde quer que seja.

Considerando o público alvo e que seja algo mais elaborado, o preço naturalmente será maior. O único aparelho à venda no site oficial no momento, Master System Evolution, sai por R$219. Não estranharia o dobro num hardware voltado a entusiastas; para o Mega Drive, poderia ficar na faixa dos R$500.

Mas também não estranharia um esforço pra reduzir e assim alcançar mais gente. Em tempos de emulação fácil, não é todo mundo que vai trocar um Raspberry Pi, que pode ser importado por R$150 e virar praticamente a máquina retroemuladora dos sonhos, por um Mega Drive três vezes e meia mais caro. Aposto na faixa dos 400.

Então, revisando...

...minhas apostas para o novo Mega Drive, ou seja lá o que sair da investida da Tectoy:

Visual: idêntico ou muito próximo ao Mega Drive clássico, o primeiro com o 16-bit na carcaça. Improvável que siga o formato miniatura que a Nintendo escolheu, que recebeu algumas críticas de fãs que queriam usar cartuchos. O mais legal deve ser a embalagem, como que tirada de uma loja esquecida. Até imagino a caixa com o lobo do Altered Beast...

Controles: o logotipo do projeto lembra o controle original de três botões, mas sabemos que ele não funciona bem para quase nada feito depois de 1992. Apesar de ter sua carga nostálgica, devem ir de 6B mesmo. No mínimo, como opção.

Cartuchos: como é uma das principais solicitações do público, a Tectoy deve ter se empenhado nisso, chance de 99,9%. Já produção de cartuchos é chance zero, envolveria muitas marcas e direitos autorais.

Jogos adicionais: certamente os clássicos numa memória interna, e mais com entrada para SD card, afinal não dá pra contar só com o público que guardou cartuchos (em termos comerciais, quase ninguém).

Sega CD, 32X, Virtua Racing, Game Genie: notórias incompatibilidades dos consoles-emuladores, duvido muito que seja diferente no novo aparelho, a não ser que sigam o projeto original com fidelidade, e aí voltamos ao problema de preço, disponibilidade de componentes, etc. Por que aumentar o custo com extensão para Sega CD, que praticamente ninguém tem? Eu acharia demais, mas duvido.

Já Virtua Racing e 32X parecem questões menos difíceis. Um cara, anos atrás, garantiu ter refeito conexões faltantes no tosco hardware da Majesco para reativar a compatibilidade com 32X, Virtua Racing, Game Genie e 90% dos jogos do Master System — nunca explicou como, o que levanta dúvidas sobre a veracidade, pode ser só um case mod. Se for real, seria barbada também pra equipe da Tectoy.

Hardware: é a parte mais complicada de cravar. Os componentes do Mega Drive original eram simples, e não parece difícil substituí-los por similares de outros fabricantes. A questão é se compensaria, pois terão que revisar coisas pra lidar com o HDMI, por exemplo. Não dá pra saber o quanto será modificado, mas o mínimo que espero é uma placa que nem de longe seja vagabunda como nos "Mega Drive Guitar Hero"s da vida, mas revisada para reduzir custos desnecessários.

E se tivesse um gerador de scanlines e saída em várias resoluções, como no XRGB? Tá, parei, mas não custa sonhar.

Preço: R$500 provável, R$400 desejável, daí pra baixo espetacular. Considerando o preço de um bom upscaler, será barbada pra quem quiser clássicos rodando bonitos na TV atual, ainda mais com o pacote de benefícios como visual e jogos incluídos.

 

P: "Se fosse para voltar a produzir um console de sucesso da Tectoy, qual você gostaria?"
R: Bom Tectoy, se vocês realmente "voltarem a produzir" um Mega Drive, preparem-se pra virar referência desse novo mundo retrô. Se tentarem pegar um cascalho e correr pro banco rindo da nossa cara de criança iludida, provavelmente não terão outra chance.

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

13 COMENTÁRIOS

  1. Pessoal, fiquei sabendo da noticia a umas três semanas.

    E com isso veio a idéia de montar meu TCC de Marketing sobre o Mega drive, porém não sou nenhum expert como a maioria aqui, então irei precisar muito da opinião de vocês.

    Tais como; Quais os pontos positivos?
    Quais pontos negativos ?
    O porque comprariam ?
    O Mega Drive atual atiça a Nova geração ?
    Atenderá as expectativas dos amantes de game ?
    Se não for incomodo e se possível, poderiam dizer a idade ?

    Pois bem, quero fazer um TCC completo, com os questionamentos, e o depoimento de quem realmente gosta e entendem, não só o que leio na internet.

    Não sou nenhum, pesquisador, concorrente ou algo do tipo, apenas sou um estudante e queria fazer um TCC diferente dos demais, sobre games que o mundo acadêmico pouco explora.

    Desde já agradeço. paz#

  2. Tenho vontade de comprar este Megadrive, o que tenho aqui é o MD3, quero um modelo mais antigo, assim como os jogos estão muito caros da de aproveitar o esquema de Cartão SD e economizar derre pente em um Everdrive, sepa compença ja que o produto é novo, eu acredito que a TecToy já fez muita burrada e pretende trazer um produto bom para seus fans e clientes

  3. BOM, EU FIZ O PEDIDO, AGORA É SÓ AGUARDAR JUN DE 2017, A DÚVIDA QUE EU TENHO: O SD SERÁ ADAPTÁVEL NO CONSOLE OU NO CARTUCHO? MAS AINDA SIM, SERÁ SUPER LEGAL ADICIONAR ROMS. ESPERO QUE ESSE RETORNO NÃO SEJA UM DESASTRE, TENHO BOAS EXPECTATIVAS.
    ABRAÇOS A TODOS, GOSTEI DA PAGINA.

  4. Você está uma máquina de Posts ultimamente heim Daniel!? mal dá pra acompanhar todos seus textos.

    E esse novo Mega Drive, já saiu, vai sair? vai ter suporte para Master System pelo menos?

    • Substituição de atividades: sai ficar de bobeira vendo séries ou afins, entra escrever 😉
      Só em junho de 17, e ao que parece não vai ter suporte a nada.

  5. Matéria fantástica e muito bem feita.
    Será que sai caro produzir um hardware daquela época hoje em dia mesmo?

    Fico imaginando se ela consegue um hardware real, slot pra cartucho, saídas AV e HDMI, compatibilidade com Sega CD/32X/Game Genie/Virtua Racing, um adaptador (ou internamente mesmo, de alguma forma) para pegar cartuchos de Master System, compatibilidade em rodar jogos do SG-1000 (nem que seja pelo SD), Slot de cartão SD com possibilidades de rodar roms por lá, marcas estampadas TecToy e Sega como antigamente, console com design e tamanho real embalado com isopor como na época, caixa com tema de Altered Beast ou Sonic 1, junto ao aparelho vir o jogo em cartucho que está estampado na caixa... acho que só. 😛

    Será que esqueci de alguma coisa?
    É pedir demais? Eu só quero que esse mega tenha isso tudo aí que eu disse, aí eu e todo o mundo (literalmente, todos os fãs da Sega espalhados pelo mundo) comprariam esse console.

    Uma coisa bacana seria ele ter acesso a internet e a TecToy lançar algo parecido com a PSN e vender os jogos por um preço bem bacana pra rodar nesse aparelho. E esse aparelho também ter um HD interno, que poderia ser bem pequeno já que os jogos são minúsculos, e que já fosse possível jogar dessa forma (baixando e instalando) 32X, SG-1000 e Master System.
    Seria legal um site para disputa de rankings online, talvez até mesmo partidas online (hoje em dia é fácil fazer isso e esses jogos pouco exigiriam da conexão) com chat via teclado físico ou virtual, ou até quem sabe com um acessório de câmera ou microfone.

    Pronto, acho que é só, vou parar de delirar aqui, chega... kkkkkkkkkkkkk

    • Isso aí já é a máquina dos sonhos, seria demais, mas acho difícil até a compatibilidade com Sega CD. Já que é pra sonhar, coloca aí um gerador de scanlines e ajuste de resolução na saída também =D

      • Sim, tinha esquecido disso também e não mencionei. Conversando com um amigo a alguns dias atrás ele falou sobre isso, um super filtro para deixar a imagem melhorada como os emuladores fazem e o gerador de scanlines também.

        Deixa eu sonhar mais um pouco...
        Seria legal também a TecToy lançar um serviço de compra de cartuchos por encomenda. Funcionaria assim, quando um jogo atingisse um certo número de pedidos ela os fabricaria quando quem quiser comprar desse pelo menos a metade do valor do jogo adiantado.
        Acho que assim ela não teria prejuízo, ela poderia lançar uma campanha para os fãs dizerem ou escolherem os jogos iniciais a serem relançados por ela, nem que seja de uma lista pré-determinada.

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