Como pode algo tão ordinário fazer tanto barulho?
Na primeira metade dos anos 90, a produtora Realtime Associates estava trabalhando num game inspirado em Socks, gato de estimação do então presidente americano Bill Clinton. Mas Socks the Cat Rocks the Hill acabou cancelado, com o fim da divisão americana da publicadora Kaneko, em 1994.
Era um título de plataforma comum. O diferencial, por assim considerar, era a trama engraçadinha do "primeiro-gato" lutando dentro da Casa Branca contra os inimigos do presidente, incluindo figuras cartunescas de políticos como Richard Nixon e Jimmy Carter, e até o cachorro do ex-presidente George Bush (o pai), Millie.
Típico daqueles que você acha às baciadas em qualquer console; o cartucho que sobrava na prateleira da locadora e você pegaria pra fechar um pacote "alugue 5 e pague 3". Tivesse sido lançado, e provavelmente não passaria disso, tanto que revistas tiveram acesso ao protótipo e notas de reviews foram só medianas.
Mas com o cancelamento, Socks the Cat virou um tipo de graal, o tesouro perdido na coleção do Super Nintendo. Por todos esses anos, apenas uma cópia finalizada apareceu, passando de mão em mão entre colecionadores. E desses, nenhum se dispôs a distribuir ROM, provavelmente para evitar uma queda no preço da raridade. Ou sei lá por qual razão, os caras não quiseram compartilhar e fim. O máximo que um deles fez foi postar um vídeo desfocado e horrível anos atrás, com comentários em tom de chacota com quem pedia ROM (hoje marcado como privado).
Pra piorar...
...o mais recente portador do cartucho, Tom Curtin, resolveu capitalizar sobre o burburinho histórico. O colecionador comprou a única cópia conhecida em 2012 do antigo dono, Jason Wilson, e em 2015 comprou também os direitos sobre a marca Socks the Cat. Agora, com a publicadora Second Dimension, ele abriu campanha no Kickstarter para lançar o game oficialmente. Com meta de 30 mil dólares, uma cópia digital fica em 20 dólares; o cartucho sem caixa, a partir de 40 dólares; completo com caixa, 75 dólares.
Falando por mim que não sou colecionador: não consigo ver graça em algo refeito por terceiros, com artes novas e cuja única relação com o original é o software em si, que nem aparenta ser grande coisa. Pelo pouco revelado, StC parece ser mediano, com boa vontade. Os que tiveram sua posse antes poderiam ter soltado a ROM e continuar faturando vendendo o cart entre eles, mas agora vão mais longe e querem faturar vendendo também a ROM. É legal? Ao que parece, totalmente, palmas pra eles por isso. É "legal"? Não, não é nada legal.
Se não há apelo no jogo, nem apelo de raridade, sobrou o quê? A expectativa. O quanto é importante na sua coleção um cartucho refeito, sem logotipos ou qualquer envolvimento das empresas originais? Na minha ficaria na seção de indies e homebrews, no máximo.
Mas pra quem se dispõe, corram lá... Faltam só 11 dias e passou da metade da meta, então se está disposto a ter uma cópia "original" do raríssimo Socks the Cat, aproveite a chance — até porque depois de gastar nos copyrights, esqueça ROM por aí se a campanha falhar. Deve voltar pro cofre até sabe-se lá quando.
Dei uma olhada na página e vi que bateu a meta. Simplesmente o povo é MUITO otário pra pagar numa porcaria dessas mais caro que um lançamento AAA de hoje.
Porcaria é esses AAA que você ama.