Os Jogos Olímpicos de Verão nasceram há séculos mas são realizados de forma ininterrupta desde 1896. Quase cem anos depois da edição inaugural da era moderna, passamos a ver seus retratos em videogames.
No começo dos anos 80, surgiram os primeiros games tentando emular uma Olimpíada. Como um evento complexo, não se conseguia fazer uma boa transição para o hardware da época. Dependia-se mais da imaginação do que qualidade técnica. Mesmo simples e não sendo um produto licenciado pelos organizadores, o clássico Decathlon, da Activision, foi um dos mais populares de sua geração. Veja a retroanálise de Activision Decathlon.
A Konami também obteve sucesso representando as Olimpíadas (ao menos parcialmente) com Track & Field, que estourou nos arcades em 1983 e rapidamente se espalhou para computadores e consoles, chegando até o NES.
Mas não foram os primeiros a tentar. E nem eram oficiais, mas sobre um "evento parecido"...
Era antiga
Tal como Track & Field, Decathlon não era "exatamente" sobre as Olimpíadas. Em 1980, a Microsoft publicou o primeiro, Olympic Decathlon, estrelado pelo campeão olímpico e recordista da prova, William Jenner (mais tarde Caitlyn Jenner). O jogo foi lançado originalmente para o computador TRS-80, com ports posteriores para Apple II e IBM PC.
Apesar de ilustrações pomposas, era banal. Com fundo preto e personagens pixelados monocromáticos, o controle envolve pressionar teclas alternadamente para fazê-lo correr e alguma outra para lançar dardos ou saltar. O terror de pais que viam filhos destruindo teclados na ânsia por resultados.
Em 1984, a desenvolvedora Ocean lançou Daley Thompson's Decathlon para computadores. Não citava as Olimpíadas, mas a arte escancarava qual era a inspiração. Como não eram licenciados pelo Comitê Olímpico Internacional, conseguiram o nome de Daley Thompson, britânico campeão olímpico do decatlo em Moscou 1980 e Los Angeles 1984.
A jogabilidade? Adivinhe... Pressionar botões alternadamente para movimento e outro para a ação. A Konami seguiu o padrão também em Track & Field, não tinha como evitar: era receita da destruição de botões.
O Decathlon de Thompson teve boa recepção da crítica e fez sucesso especialmente na Europa. Marcou tanto jogadores locais que ganharia um "mini remake" para celulares em 2012. O jogador precisa alcançar um resultado mínimo em cada uma das dez provas e se falhar três vezes, game over. Como era típico naquele período, não há final – ao completar o segundo dia de competição, o atleta volta ao primeiro e tudo recomeça um pouco mais difícil.
Jogabilidade... É, acertou. Para quem tinha um controle, valia o esquema do Decathlon da Activision, ou seja, mover o manche como doido para os lados até sua completa destruição.
Como dissemos antes, nenhum desses jogos era oficial dos Jogos Olímpicos. Mas era um passo inevitável conforme os videogames cresciam.
Jogos oficiais
De Los Angeles à Barcelona
O primeiro videogame oficial de Olimpíadas foi lançado no Japão e não teve o status no resto do mundo. Hyper Sports, da Konami, era sequência de Track & Field – manteve a jogabilidade, com provas como natação e salto sobre o cavalo. O curioso foi ter apenas no país natal o título Hyper Olympic '84.
Até onde consta, não era invencionismo. A Konami não deu uma de malandrona e simplesmente jogou o título lá. Tem selo de produto oficial no cartaz do arcade japonês.
Fez sucesso o suficiente para ganhar versões em vários computadores. A Konami sinalizou que lançaria um remake para o Nintendo Switch em meados de 2018, mas cancelou o projeto, Hyper Sports R. Veja o trailer de revelação, parecia digno.
As olimpíadas de Seul 1988 não tiveram videogame oficial. Já em 1992, consoles da Sega receberam Olympic Gold, da US Gold. Apesar do rótulo de produto licenciado e até patrocínio da Coca-Cola, é bem restrito, com apenas sete modalidades. Os atletas são fictícios de oito países – não tem Brasil – e cada um apresenta pontos fortes e fracos.
Atlanta 1996
Em 1996, o videogame oficial dos jogos de Atlanta foi Olympic Summer Games. Teve versões tanto para consoles da velha geração (como Mega Drive e Super Nintendo) quanto para o PlayStation – com design diferente dos demais, incluindo narração simplificada e modelos 3D.
São 10 modalidades disponíveis e todas do atletismo (do jogo de 1992, caíram fora saíram a natação e o mergulho). A variedade de atletas é pequena, mas no PlayStation foram disponibilizados 32 países para a personalização.
As versões 16-bit são pobres, com provas curtíssimas e música repetitiva. Era uma transição de geração e não faria sentido gastar tempo com consoles praticamente fora de linha.
Sydney 2000
Para os jogos de 2000, o game foi chamado apenas de Sydney 2000. E ficou de novo por conta de europeus: desenvolvimento da Attention to Detail e publicação da Eidos, ambos britânicos. Os dois anteriores foram feitos pela Tiertex (também britânica).
Com 12 modalidades, o foco seguiu no atletismo, mas trazendo novidades como canoagem e ciclismo. Trinta e dois países estão representados. Apesar de recursos comuns de jogos modernos como replay e narração, a jogabilidade não foi longe da óbvia: pressionar botões para correr, seguido por outro para ações.
Um diferencial foi o modo Olympic, em que o atleta passa por qualificações antes de chegar às Olimpíadas. Foi criada também uma "academia virtual" para desenvolver características do personagem.
Sydney 2000 foi lançado para PlayStation, Dreamcast e Windows. Uma versão para o Nintendo 64 chegou a ser projetada, mas acabou cancelada; o GameCube estava em estágio avançado de desenvolvimento.
Atenas 2004
Em 2004, Athens 2004 foi produzido pela (adivinhe se era britânica?) Eurocom e lançado para PlayStation 2 e Windows. O número de países dobrou para 64, enquanto modalidades foram divididas em oito grupos, algumas com mais de uma prova. Pela primeira vez, o jogo oficial teve esportes como ginástica olímpica e hipismo, exclusivas da versão PlayStation.
Além do modo Champion (com todas as modalidades), Athens 2004 incluiu um criador de competições. Foi uma grande evolução gráfica, com cenários detalhados e modelos grandes e bem texturizados. O sistema de câmeras é fiel às transmissões de TV, acompanhando os atletas por vários ângulos durante a prova. Há narração e comentários de voz masculina e feminina.
Ainda há botões apertados depressa, mas a jogabilidade começou a se diversificar. A ginástica reaproveita games de dança e música, seguindo comandos sequenciais para desenvolver os movimentos. Exercícios em argolas e o salto sobre cavalo combinam encher uma barra com sequências de botões.
Athens 2004 também tropeçou nas críticas, incluindo reviews com nota muito baixa na versão Windows.
Pequim 2008
Beijing 2008 foi o último jogo oficial olímpico produzido pela Eurocom. Lançado pela Sega, iniciou uma fase com dois jogos principais das Olimpíadas: um mais fantasia, com a união entre Mario e Sonic, e outro voltado à simulação e realismo.
O número de países voltou aos 32 e modalidades foram divididas em seis grupos, com ainda mais provas de atletismo e ginástica. Provas como canoagem e tiro também voltaram, com a estreia do judô e do tênis de mesa. Retornou também um modo de "carreira", e foi o primeiro jogo oficial com partidas online em destaque.
A jogabilidade manteve a evolução de pressionar botões com padrões mais atuais, como uso do analógico para ativar saltos e arremessos precisos. Uma geração nova de consoles fez bem aos gráficos, com personagens e cenários buscando realismo. Destaque para o estádio de Pequim, com a pira aparecendo ao fundo.
Beijing 2008 foi lançado para PlayStation 3, Xbox 360 e Windows.
Londres 2012
A Sega assumiu de vez o controle do videogame olímpico com London 2012. Desenvolvido pelo estúdio australiano da empresa, seguiu na rota do realismo, enquanto Mario e Sonic estrelavam um jogo à parte. São 37 países e 31 modalidades, algumas novas como saltos ornamentais sincronizados e vôlei de praia. O jogo trouxe extensivo uso do online, com um sistema de "orgulho nacional": um ranking em que jogadores somavam suas medalhas à um quadro mundial por país.
O gameplay local não foi esquecido, com um modo cooperativo. Os controles por movimento (Move e Kinect) são compatíveis, e além de versões principais para Windows, PlayStation 3 e Xbox 360, foi produzido um port para dispositivos móveis, bem mais cartoon e com controles adaptados para as telas sensíveis ao toque.
Houve extenso trabalho de dublagem, com vozes masculina e feminina. Gráficos chegaram ao ápice da série, com cutscenes, pódio e hino dos países, bom uso de câmeras e modelos humanos. A física do tênis de mesa impressiona e jogabilidade geral seria base para 2020, com mecânicas como a trava de velocidade, funções de analógicos e dicas.
London 2012 foi bem recebido, com resenhas geralmente favoráveis. E seria também o último a mirar no realismo até agora, já que a Sega reviraria as coisas nas edições seguintes...
Rio 2016
Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, resolveram sacanear o Brasil e não houve um jogo oficial à altura dos anteriores para consoles e PC. Um dos motivos teria sido o fechamento da Sega Australia em 2013, deixando a série sem ninguém pra cuidar. Ao que parece, a Sega estava mais interessada com a franquia olímpica de Mario & Sonic.
Para tapar o buraco, foi lançado só um jogo mobile com o rótulo "oficial". Rio 2016 Olympic Games veio com seis modalidades, personagens estilizados e comandos simples. A jogabilidade se baseia em mover o dedo pela tela para usar a raquete ou chutar bolas no gol. Não há modalidades do atletismo, algo impensável para um jogo que se diz "olímpico".
Uma lástima. Imagine o potencial dos consoles em 2016 com a proposta de London 2012...
O joguinho sequer tinha assinatura visível de uma desenvolvedora. Como os dados eram online, não é mais jogável, removido das lojas há tempos. Se quiser experimentar, só achando um APK rolando por aí.
Tóquio 2020
A Sega voltou a produzir um jogo "de verdade" para 2020, mas apostando num design estilizado, descambando de vez pra fantasia. Olympic Games Tokyo 2020 - The Official Video Game foi lançado no Japão para Switch em 2019. Como a pandemia de Covid causou o adiamento do evento para 2021, o mesmo aconteceu com o game, deixado para junho. O atraso permitiu lançá-lo para PlayStation 4, Xbox One e Windows.
Com 18 modalidades, a jogabilidade de London foi reutilizada, mas com detalhes importantes no controle. Podem ser botões que ajudam nas provas (como um aumento na qualidade do salto em distância). Esportes coletivos tiveram atenção especial, com futebol e basquete surgindo. O judô reapareceu com jogabilidade renovada, com o boxe também estreando.
Por outro lado, várias modalidades saíram da lista. Entre elas estão o salto triplo, a ginástica e o salto em altura. O jogo é divertido e a Sega inseriu coisas como competições personalizadas, criador de personagem digno de RPGs e sistemas de conquistas. Apesar da notável melhoria visual e de animações, não houve um salto de qualidade digno dos quase oito anos desde o último grande jogo.
O jogo oficial das Olimpíadas de Tóquio está disponível para Windows, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. Confira também a análise de Tokyo 2020 The Official Game aqui.
Acredito que os jogos que mais joguei e me diverti foram: Barcelona 92 do mega drive e track field 2 do NES!!!! bons tempos de antigamente!!!! valeu