Lançamentos para Dreamcast: o sonho que se recusa a acabar

"♪ Não aprendi a dizer adeus, mas tenho que aceitar".

Lembram da música do Leonardo? Ela foi lançada em 1999, mesmo ano em que a Sega apresentava ao mundo seu mais incrível videogame doméstico; um cavalinho de força que viria pra corrigir todas as várias burradas feitas com o Saturn e quem sabe, recolocá-los na briga pela liderança do mercado de games.

Era inovador, possante e trazia consigo todo o know-how adquirido após anos de batalha contra a Nintendo. Mas a nova menina dos olhos de jogadores e developers era o PlayStation 2, e assim, de forma tristonha, o Dreamcast não produziu tantos sonhos e acabou como o pior dos pesadelos para todo seguista: abandonado precocemente e enterrando as ambições (e recursos) da Sega sobre consoles. Foi o fim de uma era.

Seu tempo na praça foi curto, mas inspirador e inesquecível pra quem teve um. Como uma paixão antiga e mal-resolvida, o 128-bit segue na cabeça de muita gente, e graças a sua estrutura bem mais simples de programar do que o caótico Saturn, continuam aparecendo novos games através de homebrew ou pequenas desenvolvedoras.

A não ser que tenha o vendido o seu, ou perdido o interesse em jogar, praticamente não dá tempo de juntar pó no DC, tem sempre alguma novidades pipocando.

Dreamcast
O sonho acabou? Só se for o da padaria, esse segue bem vivo.

Portar games atuais numa máquina de 200 Mhz e 16 MB de RAM é missão quase impossível, por isso a cada empreitada que surge, é certeza de conteúdo novo ou, na pior das hipóteses, adaptação de antigos — o que para fãs de velharias não soa de todo ruim.

O estúdio indie Hucast tem dado especial atenção ao videogame, com títulos como Redux: Dark Matters, que teve o financiamento dobrado quando lançada sua campanha no Kickstarter, em 2012 (demostrando o envolvimento dos fãs do Dreamcast). A sequência, RDX2, ou Redux 2, está sendo preparada para 2016.

Na Gamescom 2015, na Alemanha, eles trazem dois novos títulos na seção Retro Gaming do evento: Elansar & Philia, e The Ghost Blade.

The Ghost Blade é um shooter vertical à moda antiga, para os fortes de coração e reflexos de ninja. Fiel à linha dos manic shooters (aqueles em que a tela fica lotada de inimigos, tiros e obstáculos, quase um Contra com naves), como outro sucesso do próprio Dreamcast, Ikaruga, terá cinco fases e três naves disponíveis com diferentes armas, oferecendo uma experiência nostálgica para os velhos ratos de arcade.

Usará a VMU, controle original ou arcade, compatível com 480p de resolução, além de ser region free (roda em Dreamcast de qualquer região). Está agendado para 17/09.

Elansar & Philia remetem aos velhos adventures do tipo "apontar e clicar", como Secret of Monkey Island e Myst. A premissa de Elansar é manjada: explorar uma ilha cheia de mistérios. Elina é a heroína, tentando salvar o marido que está em perigo. Philia é uma extensão de Elansar, com mais três mundos e vários puzzles esperando para serem resolvidos.

Com cenas em FMV a 640 x 480 pixels, panoramas 360º e suporte a mouse, ambos estão no mesmo pacote, previsto para lançamento ainda em agosto (lembrando que estão disponíveis para PC, Mac, Linux e Jaguar).

Os games estão em pré-venda por €32,95 cada, na loja virtual da Hucast.

Mais lançamentos: não faltam mesmo opções para quem guardou seu DC. "Fazer games para Dreamcast hoje é um luxo, tal como é difícil ter um coder que entenda como programar para o complexo hardware", diz René Hellwig, CEO da Hucast Games. "Mesmo assim, RDX2 está agora em desenvolvimento e deve chegar logo ao Sega Dreamcast. Terá uma temática biomecânica, com um monte de alienígenas assustadores e robôs prontos para serem destruídos no espaço".

Redux 2 deve melhorar o nível que o estúdio atingiu com os games anteriores, já que a prática leva à perfeição, e ter ferramentas adequadas para um hardware totalmente fora de linha nem sempre é tarefa das mais simples.

Alice’s Mom’s Rescue, também da Hucast, foi lançado em março. É um game de plataforma tradicional, que mais parece dos bons para 16-bit e não digno de uma máquina do nível do Dreamcast, mas ainda assim bonito.

O onipresente Pier Solar and the Great Architects tem versão prometida para Dreamcast e está em venda programada no site oficial. Depois de fazer sucesso pixelado no Mega Drive e em HD para várias plataformas, o 128-bit não ficou fora dos planos, embora o planejamento tenha atrasado um pouco.

Hypertension: Harmony of Darkness, da Isotope Softwork, é um shooter 3D inspirado em títulos como o pesadíssimo Blood, com trama e gráficos igualmente sombrios. É um dos poucos games indies do DC em ambiente 3D, que são bem mais complicados de programar.

AMEBA, da indie Retro Sumus, é um visual novel "sem nudez gratuita, cabelos azuis, garçonetes de peitos incrivelmente grandes ou fan service", pensado para o público ocidental com tema de investigação. O jogador assume o papel de Hugo, um investigador que procura conexões entre misteriosos assassinatos numa Madrid moderna — tem algo meio Snatcher na trama.

Xenocider (mais um trabalho em andamento da Retro Sumus) também arrisca explorar o 3D com uma homenagem ao clássico Space Harrier, mas estrelado por uma mulher-ciborgue. Deve ter muita ação e pouco papo, como um arcade demanda.

RDX2 arte
Arte de RDX2: sequência de Dark Matters promete ainda mais diversão aos fãs de shmups.

Se o nível de todas essas ideias e experiências valem seu suado dinheiro eu não sei, mas é bom ver tanta gente interessada no herdeiro destronado da Sega. Gostaria de ver um estúdio de alto nível fazendo uma exploração casual nesse terreno — quem sabe até onde o interesse por retrogames pode ser rentável?

FonteWired
Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

5 COMENTÁRIOS

  1. Interessante esse mercado homebrew de games para o DreamCast, confesso que parei um pouco no tempo depois do Sega Satan. Joguei um pouco de N64 e PS2 mas quase nada de Cube e Dream. Embora Seguista de coração eu não ví interesse no Dream e creio que um dos (entre muitos) fatores que culminaram a queda do DreamCast foi aquela mídia esquisita, quem nem era CD e nem DVD. Bom saber que o console dos sonhos da Sega ainda tem atenção dos fãs.

    • Também parei nessa época, quando saiu o DC eu estava me afastando dos games. O tal do gd-rom ajudou mesmo a quebrar a Sega, uma pena porque parecia um aparelho interessante.

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