"Pirateie a Nintendo, gostoso demais", diz um meme com as figuras de Mario e Luigi em vermelho sobre um fundo branco. Compartilhado nas redes sociais, ele reflete o quanto a empresa vem caindo em desgraça com parte do público por suas eternas batalhas contra mods, emulação e pirataria.
E eles não param: depois de afundar incontáveis projetos de fãs e colocar até gente na cadeia, a Big N resolveu que é hora do Yuzu ser exterminado. O Yuzu é um popular emulador de Switch, em código aberto e que segundo processo aberto contra seus criadores, facilita e incentiva a pirataria de seus jogos, além de gerar lucro.
O processo, de 41 páginas, é direcionado contra a Tropic Haze, grupo por trás da produção do Yuzu, mas também cita o nome de usuário do líder do projeto, Bunnei. A Nintendo afirma que o Yuzu executa códigos que quebram medidas de segurança de seu console, incluindo decriptação através de "cópias obtidas ilegalmente de chaves de produto".
Jurisprudência diz não, mas...
![the legend of zelda tears of the kingdom divugacao](https://www.memoriabit.com.br/wp-content/uploads/2024/02/the-legend-of-zelda-tears-of-the-kingdom-divugacao.webp)
Há jurisprudência nos Estados Unidos quanto à legalidade de emuladores desde o caso Sony contra o emulador de Playstation, Bleem!, em 1999. E ao menos nisso, deram com os burros n'água: ficou decidido que a emulação em si não viola direitos dos donos dos sistemas emulados, a não ser que use material protegido como parte intrínseca do software. Não era e raramente será o caso com qualquer emulador.
Para alcançar seu objetivo, que é encerrar o Yuzu e receber um suposto devido ressarcimento, a Nintendo precisa quebrar um padrão. Mas não parece ter material para isso. O Yuzu depende da quebra da criptografia para rodar jogos licenciados, o que de cara já condena o uso de qualquer jogo da Nintendo.
É verdade, mas o fato não significa que o emulador é ilegal.
Tudo na mão do usuário
Não é o Yuzu que faz a parte ilegal, embora o site do projeto ensine como. Os caras podem dizer o óbvio ao juiz: o emulador não foi feito para emular jogos da Nintendo, embora possa ser usado para tal. Se usuários fizeram essa barbaridade, não temos nada com isso.
Para embasar seu argumento, a Nintendo tenta criar uma correlação entre seus lançamentos e o uso do Yuzu. O documento aponta que 12 dias antes do lançamento de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, o jogo vazou. No mesmo período, segundo a Nintendo, o Yuzu teve um aumento superior a 20% nos downloads (mas e daí?). Também alegam que os sites que distribuíram o jogo vazado indicavam onde baixar o emulador (mas e daí 2?).
Sempre segundo a Nintendo, o Yuzu estaria os fazendo aumentar gastos com "interrupção da cópia ilegal, marketing, vendas e distribuição" de jogos do Switch.
Outra frente – e nessa podem ter algo – é apontar que os produtores do Yuzu fazem lucro com o emulador, como os 30 mil dólares mensais que recebem através da página do projeto no Patreon. Também teriam recebido ao menos US$ 50 mil com downloads pagos e naquele período do vazamento, dobrado o número de contribuidores.
Afogar no dinheiro
![yuzu emulator pagina de download](https://www.memoriabit.com.br/wp-content/uploads/2024/02/yuzu-emulator-pagina-de-download.webp)
O que a Nintendo pede parece improvável. A natureza da emulação não faz dela uma atividade exclusivamente focada na pirataria; é como pedir que facas deixem de ser fabricadas caso começasse um surto de crimes à faca. Eles não podem provar que o Yuzu faz a parte ilegal da emulação porque... Bem, eles não fazem.
A tática, ao que tudo indica, é outra. O lançamento Switch 2 não está tão longe, com um hardware considerado simples. Com uns ajustes, o Yuzu será compatível. Então, mesmo que não provem a natureza maligna dele, a Nintendo vai afogar o emulador em processos até quebrá-los – tal como o Bleem!, que mesmo vencendo nos tribunais, quebrou devido aos custos da batalha legal com a Sony.
Vale lembrar que o Yuzu não serve só aos pirateiros que não tem o Switch. Alguns proprietários preferem fazer dump de seus jogos e usar o emulador, seja por comodidade ou drift nos Joy-Cons – problema tão comum a Nintendo passou a oferecer reparo grátis nos Estados Unidos e Europa a partir de 2019, mesmo fora da garantia. Difícil saber qual será a reação dentro de uma fanbase que já faz força para continuar cliente.