"Pirateie a Nintendo, gostoso demais", diz um meme com as figuras de Mario e Luigi em vermelho sobre um fundo branco. Compartilhado nas redes sociais, ele reflete o quanto a empresa vem caindo em desgraça com parte do público por suas eternas batalhas contra mods, emulação e pirataria.
E eles não param: depois de afundar incontáveis projetos de fãs e colocar até gente na cadeia, a Big N resolveu que é hora do Yuzu ser exterminado. O Yuzu é um popular emulador de Switch, em código aberto e que segundo processo aberto contra seus criadores, facilita e incentiva a pirataria de seus jogos, além de gerar lucro.
O processo, de 41 páginas, é direcionado contra a Tropic Haze, grupo por trás da produção do Yuzu, mas também cita o nome de usuário do líder do projeto, Bunnei. A Nintendo afirma que o Yuzu executa códigos que quebram medidas de segurança de seu console, incluindo decriptação através de "cópias obtidas ilegalmente de chaves de produto".
Jurisprudência diz não, mas...
Há jurisprudência nos Estados Unidos quanto à legalidade de emuladores desde o caso Sony contra o emulador de Playstation, Bleem!, em 1999. E ao menos nisso, deram com os burros n'água: ficou decidido que a emulação em si não viola direitos dos donos dos sistemas emulados, a não ser que use material protegido como parte intrínseca do software. Não era e raramente será o caso com qualquer emulador.
Para alcançar seu objetivo, que é encerrar o Yuzu e receber um suposto devido ressarcimento, a Nintendo precisa quebrar um padrão. Mas não parece ter material para isso. O Yuzu depende da quebra da criptografia para rodar jogos licenciados, o que de cara já condena o uso de qualquer jogo da Nintendo.
É verdade, mas o fato não significa que o emulador é ilegal.
Tudo na mão do usuário
Não é o Yuzu que faz a parte ilegal, embora o site do projeto ensine como. Os caras podem dizer o óbvio ao juiz: o emulador não foi feito para emular jogos da Nintendo, embora possa ser usado para tal. Se usuários fizeram essa barbaridade, não temos nada com isso.
Para embasar seu argumento, a Nintendo tenta criar uma correlação entre seus lançamentos e o uso do Yuzu. O documento aponta que 12 dias antes do lançamento de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, o jogo vazou. No mesmo período, segundo a Nintendo, o Yuzu teve um aumento superior a 20% nos downloads (mas e daí?). Também alegam que os sites que distribuíram o jogo vazado indicavam onde baixar o emulador (mas e daí 2?).
Sempre segundo a Nintendo, o Yuzu estaria os fazendo aumentar gastos com "interrupção da cópia ilegal, marketing, vendas e distribuição" de jogos do Switch.
Outra frente – e nessa podem ter algo – é apontar que os produtores do Yuzu fazem lucro com o emulador, como os 30 mil dólares mensais que recebem através da página do projeto no Patreon. Também teriam recebido ao menos US$ 50 mil com downloads pagos e naquele período do vazamento, dobrado o número de contribuidores.
Afogar no dinheiro
O que a Nintendo pede parece improvável. A natureza da emulação não faz dela uma atividade exclusivamente focada na pirataria; é como pedir que facas deixem de ser fabricadas caso começasse um surto de crimes à faca. Eles não podem provar que o Yuzu faz a parte ilegal da emulação porque... Bem, eles não fazem.
A tática, ao que tudo indica, é outra. O lançamento Switch 2 não está tão longe, com um hardware considerado simples. Com uns ajustes, o Yuzu será compatível. Então, mesmo que não provem a natureza maligna dele, a Nintendo vai afogar o emulador em processos até quebrá-los – tal como o Bleem!, que mesmo vencendo nos tribunais, quebrou devido aos custos da batalha legal com a Sony.
Vale lembrar que o Yuzu não serve só aos pirateiros que não tem o Switch. Alguns proprietários preferem fazer dump de seus jogos e usar o emulador, seja por comodidade ou drift nos Joy-Cons – problema tão comum a Nintendo passou a oferecer reparo grátis nos Estados Unidos e Europa a partir de 2019, mesmo fora da garantia. Difícil saber qual será a reação dentro de uma fanbase que já faz força para continuar cliente.