David Rosen é um empreendedor e ex-executivo americano. Fundou em 1951 a Rosen Enterprises, uma das empresas que originaram a Sega do Japão (fundada em 1965 depois da fusão com a Service Games). Em 1985, foi cofundador da Sega da América, com o japonês Hayao Nakayama.
Aposentou-se em 1996 como membro do conselho administrativo de ambas, e hoje vive em Los Angeles.
Infância e juventude
Nascido no Brooklyn, Nova Iorque, filho de Fay Sachs e Samuel Rosen, Rosen serviu à força aérea americana entre 1948 e 1952. Esteve em várias áreas do Leste Asiático durante a Guerra da Coreia, principalmente no Japão.
Rosen Enterprises
Apaixonou-se pelo Japão, e percebeu que apesar do colapso econômico devido à Segunda Guerra Mundial, com o estilo devoto ao trabalho do povo local, havia potencial de crescimento. Em 1951, começou seu primeiro empreendimento, a Rosen Enterprises, Inc., voltada à venda de porta-retratos com pinturas japonesas para os Estados Unidos.
Ao deixar a força aérea, Rosen voltou para Nova Iorque pensando em concluir estudos, enquanto continuaria importando pinturas. Mas o negócio fracassou, e Rosen voltou ao Japão em 1954. A Rosen Enterprises foi convertida em importadora e exportadora de produtos diversos: pinturas, esculturas, artesanatos e pequenos itens fabricados como isqueiros e clipes para dinheiro.
Photorama
Foi quando percebeu outra possibilidade de negócio na fotografia. Todo cidadão japonês precisava de uma carteira de identidade com foto para receber frações de alimento, passes de trem, fazer matrículas em escola, etc — estavam sob efeito da devastação da Segunda Guerra. Mas a revelação das fotos demorava, atrasando a obtenção do documento em até três dias.
Rosen importou cabines fotográficas, fazendo modificações para que as fotos tivessem maior durabilidade. Na configuração original, elas não duravam mais que dois anos, tempo inadequado para documentos. Com suas alterações, que incluíam controle de temperatura da cabine, a vida útil pulava para até cinco anos; além disso, eram reveladas em dois minutos, custando menos.
O negócio foi chamado Ninfun Shashin (nome comercial: Photorama), e teve centenas de estúdios móveis espalhados pelo Japão. Tradicionais estúdios locais se queixaram de competição injusta e fizeram pressão com a embaixada americana para tirá-lo do ramo. Rosen teve que abrir franquias, licenciando a tecnologia de fotos instantâneas, e assim distribuiu pelo menos mais cem cabines.
Com a eventual cópia do negócio, o setor ficou saturado, e o Photorama seria encerrado em meados dos anos 60.
Primeiros jogos
Em 1956, a economia japonesa dava sinais de recuperação, e no ano seguinte, a Rosen Enterprises começou a mudar de foco. Foi a pioneira na importação de máquinas de fichas, populares nos Estados Unidos. Muitas estavam em depósitos, e Rosen levou cerca de 100 mil dólares em equipamentos para o Japão, valor relativamente barato.
Para entender totalmente essa decisão, você deve perceber que não havia qualquer tipo de diversão com fichas no Japão, ponto. Os games eram abundantes nos Estados Unidos, mas não havia um único local no Japão, exceto em postos militares. As máquinas eram quase exclusivamente feitas em Chicago, e os alvos usuais eram tiro ou temas de esporte, como basebol ou hóquei.Levei quase um ano para convencer as autoridades japonesas a me deixar importar aqueles jogos. Até ali, eles se concentravam em bens de consumo apenas. Jogos eram importados de luxo. — David Rosen.
Em 1956, Rosen convenceu o Ministro do Comércio Exterior e Indústria a permitir a importação. O primeiro lote tinha jogos antigos e baratos, com foco em tiro como Coon Hunt e Shoot the Bear, da Seeburg. Rosen pensava que se armas de fogo eram ilegais no Japão, os jogos dariam ao público um "escape".
Aproveitando boas relações com cadeias de cinema Toho e Shochiku, forjadas nos dias de Photorama, Rosen colocou máquinas em vários desses pontos — ele os chamava de "gun corners" (canto das armas). O sucesso com os primeiros permitiu que negociasse uma nova licença para 200 mil dólares investidos em 1957. Em certo momento, estima-se que havia mil "cantos das armas" por todo o Japão.
Boliches
Em 1960, a Rosen Enterprises marcava presença ao menos em uma sala de cinema das principais cidades do Japão. Mas foi a Taito que assumiu a liderança, abrindo naquele ano o primeiro grande centro de jogos do Japão, perto da Estação Ureoku, em Osaka. Havia mais de quarenta jogos de tiro e mesas de fliperama; se tornariam o primeiro distribuidor japonês de máquinas de pinball da Gottlieb em 1963.
Rosen explorava caminhos de expansão dos negócios. Um jogo de golfe fracassou, mas outro sucesso veio ao instalar uma pista de boliche no Japão. A essa altura, o jogo era popular nos Estados Unidos, e estava desde meados de 1952 em bases militares americanas. Mas não na cultura local, exceto num ponto de Tóquio que atendia exatamente a soldados americanos.
Para mudar isso, Rosen montou sua pista no distrito de Shinjuku, em Tóquio, área de entretenimento que garantiria alta rotatividade.
Para fazer bem feito, queríamos um ponto de destaque, então fomos à área de entretenimento mais popular de Tóquio, chamada Shinjuku. Era um lugar cheio de bares, cinemas e restaurantes. Uma "Disneylândia para adultos". Na época, terreno não era apenas caro, mas virtualmente impossível de obter. Então, fomos a um dos quatro cinemas amigos e perguntamos se podíamos construir um centro de boliche no alto de um de seus cinemas…Para encurtar a história, instalamos 14 pistas no que foi o sétimo andar, com seis andares de cinema abaixo delas. A gerência estava apavoradas com os possíveis ruído e vibrações... E claro, estávamos apavorados com o estresse no prédio. Eu estava bem nervoso até a primeira bola rolar. Adivinhe? Nenhum som podia ser ouvido abaixo. — David Rosen.
Seu boliche estabeleceu recordes, com japoneses adotando o jogo como passatempo. Duas das maiores empresas do ramo nos Estados Unidos, AMF e Brunswick, fizeram parceria com as japonesas C. Itoh e Mitsui, respectivamente, em 1961. Assim obtiveram, juntas, dois terços do mercado.
O boliche acabou não sendo o maior nicho das empresas Rosen, mas serviu para popularizar ainda mais os centros de jogos. Houve a inserção de áreas de diversão com máquinas em shopping centers, lojas de departamento e supermercados, dando maior exposição aos jogos. Japoneses abraçaram os arcades ainda mais que os Estados Unidos.
Com a alta demanda na metade dos anos 60, várias empresas surgiram. A Taito foi líder inicial, estabelecendo uma subsidiária em 1963 chamada Pacific Amusements Limited.
SErvice GAmes
Enquanto Taito e Rosen Enterprises focavam no mercado japonês, outra produtora crescia mundialmente. Fundada em 1940 por Marty Bromley, Irving Bromberg e James Humpert, no Havaí, a Standard Games nasceu com foco em máquinas de fichas, principalmente caça-níqueis nas milhares de bases militares criadas desde a guerra.
Em 1951, o presidente americano Lyndon Johnson vetou a transferência de caça-niqueis entre estados, exceto onde fosse livre o jogo: Nevada, Idaho e Maryland. Afetados pela decisão, a Standard Games se mudou do Havaí para o Japão, virando Service Games (porque atenderia soldados em serviço), e no ano seguinte, Service Games Japan.
A partir de 1952, sofreram com acusações de pagar propina para operar em bases militares. A Service Games fez marketing de suas máquinas Mills personalizadas e modelos próprios como jukeboxes já sob o acrônimo Sega. A primeira jukebox, por exemplo, chamava Sega 1000; o provável primeiro caça-niqueis foi o Sega Bell.
Bromley reorganizou sua estrutura, e em 30/05/1960, a Service Games do Japão foi dividida em dois braços:
- Nihon Goraku Bussan Co., Ltd (Japanese Amusement Products Company, Inc.), que também operava como Utamatic Inc., foi comandada por Dick Stewart e gerenciava as operações e distribuição.
- Nihon Kikai Seizo Co., Ltd (Japanese Machine Manufacturers Company, Inc), que cuidava da fabricação.
Em 1964, a Nihon Kikai foi incorporada pela Nihon Goraku. No mesmo ano, haveria uma fusão com a Rosen Enterprises.
Fundação da Sega
Quando Rosen viu seu negócio de boliches encolher, no mesmo ano de 1964, propôs fusão com a Nihon Goraku Bussan. A ideia era criar uma empresa que se mantivesse no topo da crescente competição. Assim, em 01/07/1965, a Nihon Goraku Bussan comprou a Rosen Enterprises, surgindo a nova empresa, Sega Enterprises, Ltd. Rosen se tornou CEO e diretor geral, com Dick Stewart como primeiro presidente, e Ray Lemaire diretor de produção e planejamento.
Na hora de escolher o nome da empresa, decidimos que Sega era o mais conhecido, porque era o nome comercial deles. E pegamos o "Enterprises" da Rosen Enterprises, porque Rosen não era um nome comercial, era só uma empresa. E ela ficou conhecida como Sega Enterprises Ltd., e obviamente se tornou uma empresa ainda maior.— David Rosen.
Sob o comando de Rosen, a Sega saiu de vez do fornecimento de máquinas a bases militares, buscando o público geral. Ele aproveitou as fábricas da Service Games para seguir o caminho da Taito, e em vez de só importar máquinas americanas, produzir suas próprias.
Uma mudança nos planos veio graças ao produto de um dos competidores, a Nakamura Manufacturing Company (Namco). Em 1966, sob direção de Rosen, a Sega criou seu primeiro arcade, uma versão de Periscope, da Namco. Com a temática naval/tiro, Periscope foi um novo patamar no gênero: cabine enorme, um oceano em acrílico e navios de plástico com movimento mecânico, excelentes efeitos sonoros, e um esquema de controle inovador.
Para compensar o alto investimento, os operadores precisavam lucrar mais. A máquina levou à introdução do uso de moedas de 25 centavos nos Estados Unidos, tornando-se item de exportação. Mesmo caro e para apenas um jogador (até três nos modelos da Namco no Japão), fez sucesso. Com faturamento crescendo rapidamente, a Sega continuou no negócio de jukeboxes — dominava metade do mercado japonês em 1967, com 5 mil máquinas instaladas.
Rosen co-fundou a Nippon Amusement Manufacturers Association em 1967, uma representação de várias de empresas do setor, sendo eleito o chairman. No mesmo ano, a Sega se tornava a primeira fabricante estrangeira a negociar com a Williams para introduzir no Ocidente games feitos no Japão.
Gulf+Western
Rosen e parceiros buscavam uma empresa do Ocidente que ajudasse a Sega a se tornar pública nos Estados Unidos. Após reunião com o CEO Charles Bluhdorn em 1969, concordaram em vender a Sega ao conglomerado Gulf+Western Industries, Inc. Bludhorn vinha de uma série de aquisições, que fizeram da G+W um dos maiores conglomerados do mundo. Entre junho de 1969 e janeiro de 1970, compraram 80% das ações da Sega — ou seja, a empresa toda, exceto 20% de Ray Lemaire — pelo valor de US$9.977.043,00. Bromley e Stewart mantiveram cargos, tal como Rosen que ficou como chairman e CEO dessa "nova" Sega.
No começo dos anos 70, a Paramount Pictures passou a controlar a Gulf+Western — e por consequência, a Sega. Barry Diller, Arthur Barron e Michael Eisner, da Paramount, juntaram-se à diretoria da Sega, enquanto Rosen juntou-se à diretoria da Paramount. Rosen achava a união "estranha e confusa", mas o novo fluxo de capital permitiu que a Sega importasse arcades de nova tecnologia, como Pong, para o Japão.
Esco e Gremlin
Entre o fim dos anos 70 e começo dos 80, Rosen comandou várias fusões que aumentaram o patrimônio da Sega. Uma delas foi a Esco Trading (Esco Boueki), de Hayao Nakayama, ex-representante de uma locadora de jukeboxes. Ambicioso demais para seguir como funcionário, o empresário abriu um negócio de fornecimento e manutenção de cabines de arcades. Um dos clientes era a Sega.
Nakayama fez a Esco crescer com a compra e venda de equipamentos usados, e em certo ponto, clonando jogos americanos. Rapidamente se tornava uma ameaça às operações da Sega, e Rosen pediu uma reunião com Nakayama. Houve um imediato entendimento entre eles, e em 1978, a Sega comprou a Esco.
No mesmo ano, a Sega adquiriu a produtora americana de arcades Gremlin, rebatizada em dezembro de 1982 como Sega Electronics, Inc. Até a metade dos anos 80, seria a única representação da Sega nos Estados Unidos.
Sega Enterprises USA
Com o súbito ataque cardíaco fatal de Bluhdorn em fevereiro de 1983, e a crise do mercado americano de games em 1983, a Gulf+Western ficou sob comando do até então vice-presidente Marty Davis. A empresa ia mal, e após quatro meses de estudos, decidiram vender partes menos rentáveis do conglomerado, incluindo a Sega. A essa altura, já tinham vendido 20% das ações da divisão americana.
Em setembro, anunciavam a venda da Sega da América à veterana Bally, incluindo aqueles 20%, que haviam recomprado. Direitos sobre games em laserdisc estavam no acordo, mas não de jogos feitos em parceria por Sega e Paramount, ou da divisão doméstica (Atari 2600 e Intellivision). Nakayama ficou como presidente no Japão, enquanto Rosen voltou aos Estados Unidos — dessa vez, em definitivo.
Quase 300 funcionários foram demitidos com o fechamento de uma fábrica construída menos de um ano antes em San Diego. A Gulf+Western queria sair logo do ramo, e sequer renovou o aluguel do prédio. Máquinas não enviadas à Bally foram destruídas. A Sega Electronics foi fechada, e operações locais passaram para a sede da Paramount, onde tinham um centro de pesquisa e desenvolvimento, com capacidade de atender ao mercado doméstico.
A parte oriental foi oferecida a Rosen. Morando com a família em Los Angeles, recusou a oportunidade de fazer oferta sozinho: não queria trabalhos de tempo integral no Japão. Só em março de 1984, junto com Nakayama e investidores liderados por Isao Okawa, do conglomerado CSK, o grupo comprou a Sega do Japão por US$38 milhões. Rosen e Nakayama compraram de volta as ações da divisão americana da Bally. Okawa se tornou chairman, e Nakayama presidente da Sega Enterprises, Ltd.
Faltava cuidar da parte americana. Rosen e Nakayama contrataram Gene Lipkin, veterano de empresas como Atari e Allied Leisure. Ele seria o primeiro presidente da Sega Enterprises USA, fundada em março de 1985, mas aberta oficialmente em agosto com a inauguração da sede em Los Angeles.
Com Nakayama gerenciando no Japão, em 1986, Rosen ficou no comando de operações da Sega nos Estados Unidos e demais regiões, como chairman. No mesmo ano, a empresa entrava no mercado americano de consoles com o Master System. Bruce Lowry, vice-presidente de vendas da Nintendo, recebeu oferta para substituir Lipkin como presidente da filial, e aceitou.
Rosen continuaria como CEO e diretor até 1989, quando contratou Michael Katz para ser o presidente da Sega da América. Seguiu na direção do conselho na América e Japão até 1996, quando logo após o fracasso do Saturn e a grande reestruturação interna, retirou-se de ambas as partes. Foi sua aposentadoria.
Vida pessoal
Rosen casou-se com Masako Fujisaki em 1954, e tem uma filha chamada Lisa. Ele vive em Los Angeles.
Bibliografia
- Wikipedia - David Rosen
- Revista Billboard nº 29, 1967 - Coin Machine News - Nippon Association First Meeting
- Blake J. Harris - A Guerra dos Consoles.
- GDRI - Sega Electronics
- Sega Retro - Sega of America
- Slot Machine Resource - Antique Slot Machines
- Britannica - Sega Corportion
- Sam Pettus, David Munoz - Service Games: A Ascensão e Queda da SEGA
- The Golden Age Arcade Historian - The Early History of Sega - Rosen Enterprises
- Steven Kent - The Birth of Sega, The Ultimate History of Video Games: The Story Behind the Craze that Touched our Lives and Changed the World.
- Ken Horowitz - The Sega Arcade Revolution: A History in 62 Games
- Sega - Corporate History
- Video Game Historian - The history of coin-op part 6, a technological revolution