Atari reclama e TxK é descontinuado por semelhança com Tempest 2000

Tempest 2000 foi um dos poucos games que tiveram recepção positiva do público no sofrível Atari Jaguar. Remake do clássico Tempest, sucesso de Dave Theurer nos arcades em 1981, o tube shooter foi escolhido para a "homenagem" no 64-bit pelo programador Jeff Minter por ser um de seus favoritos.

Recentemente, Minter, através de sua empresa, a Llamasoftware, lançou TxK, indie baseado em Tempest 2000 mas usando o poder do PSVita. A crítica recebeu muito bem o jogo, que virou (ainda mais) um baita viagem visual e sonora psicodélica-retrô, com aqueles túneis tridimensionais e muita fidelidade aos arcades oitentistas. A Edge chegou a cotá-lo não só como um dos melhores games do Vita, mas talvez o melhor já feito pelo designer, que tem um longo currículo.

Veja o gameplay de TxK.

Havia planos de versões para PC, Android, PS4 e outros, mas se você aguardava alguma delas, esqueça. Como revelou Minter em seu perfil no Twitter, a Atari não gostou da semelhança e saiu do limbo para reclamar da produção, metendo o famoso cease and desist nele (tipo "pare já com isso ou vai tomar um processo").

Com uma série de tweets na última quarta-feira (18), Minter extravasou sua insatisfação (ou melhor, ficou p*** mesmo) com os atuais donos da marca Atari e propriedades, dizendo que nem houve conversa, advogados já chegaram despejando ameaças e "bullynando" sua Llamasoftware e ele pessoalmente.

Por isso, qualquer futura ideia envolvendo o game está oficialmente abandonada.

SAP: Tudo que estava pronto ou quase pronto nunca mais verá a luz do dia. Nada de TxK para PC, PS4, Oculus, GearVR, Android. Agradeçam a "Atari".

Como o game não é oficial (a Atari tem todos os direitos intelectuais), só restou a opção de abandonar mesmo. O curioso é que a "dona" não parece estar ligando para outros clones de Tempest 2000, mas cismou exatamente com o de seu ex-funcionário.

Além do gameplay e gráficos, sons e efeitos sonoros também teriam sido "ripados" de originais, o que Minter não nega: a trilha sonora é a original.

Tem algumas viagens nas queixas da Atari, como "TxK usa cores contra um fundo preto e um campo estelar e explosões, com a nave em ilusão de movimento entre as estrelas, como em Star Wars". Peraí, tem conceitos de design complicados de aceitar que pertençam a alguém... E ainda citam Star Wars, pra universalizar ainda mais o que alegam ser deles.

TxK e Tempest 2000
TxK (esquerda) no PS Vita e Tempest 2000 no Jaguar: a Atari não curtiu

O que eu acho? Basta uma olhada rápida no remake e original para notar que, apesar dos exageros dos advogados da Atari (veja o documento que Minter recebeu), TxK é um clone total, muito evoluído. Independente de ser ótimo ou não, de serem ideias de Minter lá nos anos 90, não importa. Ele recriou tudo, da jogabilidade aos gráficos e trilha sonora, o que não tem direito de fazer. Uma pena, mas não pode.

Foi bacana a Atari chegar chegando, exigindo e mandando bronca? Não, podiam conversar, negociar uma "oficialização" e faturar em cima, mas que estão no direito deles, é certo. É aquela história: se decidirem nunca mais mexer em Tempest, meter num baú e esquecer, ninguém pode tocar nele sem permissão da Atari.

Minter avisou que o assunto está encerrado com um tweet final sobre o assunto: "Enfim: hora de passar uma linha nisso e seguir em frente. Hora de fazer algo novo, com paixão, amor e alegria".

Mas não sem antes deixar várias mensagens ácidas:

"Você pode comprar Graceland, vestir as roupas de Elvis, comprar os direitos das músicas. Mas não será Elvis".

"Vamos esperar que um dia a Atari se vá e então dançaremos sobre sua tumba com uma música que soa exatamente como a de Tempest 2000".

"E aí eu lanço todos os ports 😀"

Para ler a treta completa, veja este post no fórum da Llamasoft com a versão de Minter para a abordagem. Entre outras coisas, eles o acusaram de ter provavelmente se apropriado de informações confidenciais da Atari e funcionários, como códigos-fonte, sem as quais não poderia ter recriado o game. Pesado.

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

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