Candy Crush: mais valioso que Star Wars e Minecraft?

A Activision Blizzard, velha conhecida dos jogadores desde os tempos do Atari 2600 (ainda como Activision, depois fundida com a Blizzard, de Diablo e Warcraft), comprou a King Digital, desenvolvedora de uma das drogas mais pesadas dos últimos anos — em termos viciantes, pelo menos: Candy Crush.

Até aí nada de espanto, já que essas fusões acontecem desde sempre, lembrando da própria fusão entre Activision e Blizzard, em 2008, fazendo da nova "criatura" a maior do mercado. O que chama a atenção é o valor do negócio: para controlar a King Digital, o preço somado das ações foi US$5.9 bilhões, ou US$18,00 por cada ação.

Para efeito de comparação, o valor é mais que o dobro do que a Microsoft gastou com a aquisição da Mojang, de Minecraft ($2.5 bi) em 2014, e quase 20% mais do que a Disney precisou para ter a Lucasfilm e todas as suas divisões e propriedades — incluindo Star Wars.

Já há tempos a Activision Blizzard procurava investir mais no mercado mobile. Até 2014, concorrentes como a EA tinham nos jogos "portáteis" cerca de 11% do faturamento, enquanto a outra dava menos atenção ao setor. Agora, com um dos títulos mais jogados do mundo nas mãos (segundo a King, mais de 474 milhões de jogadores ativos), a coisa deve mudar bastante, como lembra a nota oficial da Activision:

A Activision Blizzard acredita que a altamente complementar adição dos negócios da King vai posicionar a Activision Blizzard como líder global em entretenimento interativo em dispositivos móveis, e posiciona a companhia para crescimento futuro. A companhia combinada terá um portfólio de entretenimento interativo de destaque mundial, com franquias de alto desempenho.
No IPO (oferta inicial de ações) da King, o destaque foi, claro, Candy Crush.
No IPO (oferta inicial de ações) da King, em março de 2014, o destaque foi, claro, Candy Crush Saga.

O que muda para os jogadores? Como a King vai continuar operando sob sua própria marca, só como subsidiária da nova "dona", a maioria nem deve notar nada, especialmente casuais que não acompanham o mercado. A companhia baseada na Irlanda, cujo faturamento (de quase US$2 bilhões até setembro) tem 80% oriundo do game, não conseguiu o mesmo sucesso avassalador de Candy Crush com outras produções como Farm Heroes e Pet Rescue, levantando suspeitas de que o jogo tenha sido um "one-hit wonder" da casa, incapaz de ampliar seu catálogo com outros hits. O faturamento da série vem caindo gradualmente, assim como o valor das ações (valiam 22 dólares quando a King se tornou pública).

Games de sucesso num passado recente como Angry Birds e Farmville tiveram um ciclo aproximado de 4 a 6 anos de interesse público, com início muito forte e depois perdendo força. Candy Crush foi lançado em 2012. Será que ainda tem muita lenha pra queimar (ou doces pra explodir), ou vai seguir a tendência?

Parece que a Activision está decidida a apostar numa longa temporada de sucesso. O negócio não é tão simples quanto despejar dinheiro para ter o megahit: com séries de sucesso em consoles e PC como Call of Duty, a Activision Blizzard tem a maioria de seus jogadores no público masculino, enquanto cerca de 60% dos jogadores de Candy Crush são mulheres. Além desse benefício de ampliar seu alcance demográfico, quase 75% do valor investido está fora dos Estados Unidos, o que vai "poupar" o pagamento de quase US$1 bilhão em impostos.

"Delicious", hein Activision?

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, mais de mil artigos publicados, mais de dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

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