Quem nunca sonhou em pegar no batente num posto de gasolina? E melhor ainda, no seu próprio posto no meio do deserto?
Você eu não sei, mas eu nunca. Mas não se preocupe porque Gas Station Simulator oferece mais do que uma rotina insuportável de trabalho nas suas horas de lazer. É uma rotina insuportável de trabalho mesclada por coisas como um monte de bugs, arrombamentos, tempestades de areia, discos voadores e outras que você nunca viu ou verá num posto. Espero.
Logo ao começar, você está no papel do abobado cara que vendeu o carrão para comprar um posto de beira de estrada. O empreendimento um dia pertenceu à alguém da família e para ajudar a levantar a espelunca – sério, o lugar é bem detonado – chegarão e-mails e telefonemas do seu tio.
Espelunca
O bagaço de posto tem muito o que ser feito e a jogabilidade de simulador ganha algumas decorações com tarefas inúteis mas curiosas. O lado simulador é bem light, nem passa perto de ser complexo – você não vai perder a cabeça no meio de contabilidade e estoque super elaborados, mas saberá a maior distância em que arremessou objetos dentro da lixeira ou da caçamba de lixo, por exemplo.
Serventia no enredo? Nenhuma, mas por que não?
O progresso é dividido por "missões", sempre marcadas e fáceis de localizar, então não dá pra ficar perdido nos objetivos. É bem intuitivo mas também um pouco agônico, já que a vontade é de colocar a mão na massa, fazer coisas por nossa conta sem esperar "autorização". Mas o jeito é seguir a ordem das missões conforme apresentadas.
Por não ser tão complexo, os menus não causam aquele choque típico de mil opções. Mas as tarefas em si serão rotineiras e algumas problemáticas.
O primeiro problema é com a física, fazendo dele quase um Bug Simulator. Não se espante se tropeçar em algum carrinho ou outra tralha e ela sair pulando. O mesmo vale para o carrinho de controle remoto do arcade, difícil de controlar e nada satisfatório.
Uma das tarefas especialmente afetada é a de caixa na conveniência do posto. Às vezes objetos colidem e pulam de cima do balcão, causando erro e deixando o cliente p da vida. Outro problema é com a vassoura, que você pode usar para varrer não só sujeira, como arremessar veículos longe.
Mas não é só um bug engraçado ou inocente; ao fazê-lo, o jogo pode ficar condenado, caso o caminhão de entregas, por exemplo, fique preso em algum lugar. Cheguei a vê-los sair voando pelos ares como um foguete, subindo, subindo... Se acontecer, a única saída é apertar o misterioso botão vermelho no totem do posto (o que acontece é surpresa).
Bugfest
Foram tantos bugs, que só não larguei tudo por teimosia. O caminhão de lixo preso, carros andando com o motorista parado no ar, objetos que sumiram sob o chão, clientes da loja deslizando como se estivessem em patins e por aí vai.
Cuidado para não salvar quando tiver carros presos na oficina, seu save provavelmente dará crash no jogo ao recarregar. Use o botão misterioso antes.
Outro problema é que, apesar de ser muito intuitivo nas tarefas, não é indicado fazê-las antes dos tutoriais iniciais. Se fizer coisas antes do jogo pedir, pode ter sérios problemas. Por exemplo, inventei de comprar a vassoura e sair limpando tudo – bem, o chão está lá sujo, então era óbvia a serventia dela.
Resultado? Quando chegou a "missão" de limpar a loja, não consegui mais completá-la e progredir porque... não tinha mais sujeira no chão. Tive que recomeçar a partir de um ponto de salvamento de horas antes.
Não é sério
Tolera o monte de bugs? Então nem pense em levar Gas Station Simulator a sério. Ao lidar com um moleque que desenha pên1s alados nas suas paredes, clientes que perdem peixes vivos e a estranha visita de uma cobra que circula pelo local, você entenderá que apesar do rótulo de simulador, tem muito de fantasia e comédia.
Contudo, o jogo vai enjoar após umas horas. Faltam elementos para ser cativante e não só desgastante quando a empolgação passar. Mesmo após comprar trailers e conseguir uns funcionários, você terá o ciclo de caixa, encher tanque, limpar pegadas dos consumidores, etc. São atividades repetidas à exaustão, incrementando seu negócio, mas que cansam.
Gostaria de modificar mais a estrutura do posto. Em vez de modificar as construções que o jogo oferece, ter blocos de paredes e levantar meu próprio prédio, mais ou menos como construções de Fallout. Multiplicaria enormemente o resultado das customizações, mas parece algo bem acima do possível – já que sequer alinhar prateleiras é possível sem certa dificuldade.
Para alterar a estrutura do posto, como tamanho, é preciso subir de nível. E as condições são pesadas, com limites exigidos sendo uma grandeza tipo servir 250 clientes primeiro ou conseguir 100 gorjetas. Nesse grindhell com pouca recompensa, a rotina de abrir o posto, ir pro caixa, limpar o chão, comprar coisas, arrumar uns carros, comprar mais coisas, fechar o posto, repeat, muda de divertida para excruciante.
Nem sempre é assim, claro. As primeiras horas você nem vê passar.
Prazo de validade
Nas primeiras horas dá pra ficar bem entretido. Mas conforme o tempo se acumula, o ciclo de tarefas pesa e a validade do jogo expira. Tudo parece contribuir nesse ciclo. O garoto pichador, por exemplo, está lá para forçá-los a pintar as paredes. Quando ele aparecer para sacanear sua fachada, você provavelmente estará ocupado com outras coisas.
Pra que tentar impedi-lo? Melhor perder segundos cobrindo as pichações. Mesmo que ele não viesse, há uma degradação rápida. Paredes precisam de tinta a cada 4 ou 5 dias antes de parecerem velhas. E a velocidade com que seu chão fica imundo e lixeiras cheias de mosca é assustador. Muito rápido.
O sistema de funcionários não é inteligente. Você precisa providenciar instalações para a pessoa (porque lembre, seu posto fica no meio da PQP), pagar pelo turno de 8 horas e definir a função diária. Mas não pense que o "colaborador" saberá das obrigações. Você deve buscá-lo no trailer ou chamá-lo pelo computador, definir a função e só então ele se apresenta para trabalhar.
Imagine seu patrão ter que buscá-lo ou mandar e-mail todo dia...
E quando der o fim do tempo estabelecido, o funcionário cai fora. Não tem aviso na tela. Não importa se o caixa tem fila de clientes. Enquanto cuida das suas próprias funções – e a jornada costuma ser intensa – você precisa continuar pensando neles. Calcule o tempo, corra e assuma a posição (ou feche o posto). Senão, o lugar estará vazio, com clientes bufando e sujeira por toda parte.
Naturalmente, funcionários precisam ser treinados. Só após longas horas de uma rotina desgraçada é que a pessoa terá status mais elevado nas atividades. Então, o ideal é ter um empregado dedicado só a determinada função, como operar o caixa ou ficar na oficina.
O sistema de estoque não oferece pedidos automáticos e acredite, você vai fazê-los com frequência porque o armazém é pequeno. O jogador precisa ir quase diariamente ao computador, escolher os produtos, fazer os pedidos (de vários setores como alimentos, combustível e peças automotivas), depois correr para o armazém, receber o caminhão e fazer a descarga.
Tudo enquanto o serviço come solto, a não ser que tenha fechado o posto. E não esqueça de fechar o armazém, para não ser surrupiado. Mas não acabou: depois precisa ir você mesmo às prateleiras e fazer a reposição.
Imagine essa rotina durante 20, 30 horas... Tem que gostar.
Os gráficos são simples mas surpreendentemente agradáveis. O retrato do lugar numa região erma é perfeito, com o minimalismo nativo ajudando a manter tudo sóbrio. Falta capricho nos modelos humanos e as animações e colisões não são nada cuidadosas. Nada chega a quebrar o jogo, mas não é agradável de ver.
É estranho porque apesar do nível de evolução, parece um projeto solo levado longe demais ou uma versão beta promissora. Se você é do tipo que fica engajado por muito tempo e adora atividades repetitivas, quase obsessivas e ritmo frenético, pode gostar, especialmente das primeiras horas.
Depois, o cansaço vai dominá-lo porque de trabalho, basta na vida real.
Positivo
- Boa criação da atmosfera
- Enredo, raro em simuladores
- Interface intuitiva
Negativo
- Muitos bugs
- Faltam opções de personalização
- Repetição excruciante de atividades