Com o sucesso de Street Fighter II a partir de 1991, os beat'em ups começariam a perder espaço para lutas um contra um. A tendência despertava interesse dos jogadores na mesma proporção em que desenvolvedoras cresciam os olhos sobre a nova onda, desovando uma horda de títulos emulando o hit da Capcom.
Alguns viraram clássicos, e outros... Bem, outros viraram Fighting Masters da vida.
"Embora ainda pouco conhecido, alguns já começam a apontar Fighting Masters como o melhor jogo de luta para os consoles 16-bit, comparando-o com nomes consagrados como Pit Fighter, Streets of Rage e Street Fighter."
Assunto de capa da revista Supergame em 1992, Fighting Masters ganhou essa descrição exagerada quando não passava de uma promessa surgida do nada e sobre a qual não havia grande expectativa. Desenvolvido em 1991 pela Almanic e publicado pela TRECO (juro, TRECO), Fighting Masters é um trec... digo, jogo de luta que carece dos elementos mais básicos para um bom material do gênero.
Aliás, a Almanic, desenvolvedora de um ex-funcionário da Enix, Takashi Yoneda, também faria outra bomba do gênero, Cosmic Carnage (32X), provando que a lição não foi muito bem aprendida, mas enfim, isso é outra história...
Foi concebido na carona do sucesso de Street Fighter II sim, mas parece que não houve preocupação ou talento suficiente para copiar com dignidade, buscar inspiração, nada.
O enredo não é dos piores para valer uma porradaria. Uma estrela gigante vermelha está prestes a virar supernova nas próximas horas (não tenho a mínima ideia da veracidade científica disso, mas é a história), condenando à destruição 12 civilizações de planetas próximos. Uma dominante raça alienígena, os Primaries, são poderosos o bastante para livrá-los da extinção certa, mas em vez disso, preferem jogá-los numa disputa entre seus melhores guerreiros, que lutarão pela salvação do apocalipse.
A história varia entre as versões americana e japonesa: no Oriente, Valgasu, o grande alienígena poderoso, é um tipo de ditador demoníaco intergalático e o lutador que você escolhe, o último campeão de seu sistema, que sofreu reversão num processo de lavagem cerebral que os tiranos impelem aos dominados. Ele deve lutar para livrar seu povo da ameaça.
A primeira trama é tensa: o lutador derrotado está condenando junto toda sua espécie ao fim! Muita responsabilidade.
São apenas dois lutadores humanos (eles não são da Terra), e a maioria é algum tipo de mutação, híbrido ou como queira chamar. Tem mistura de gente com elefante, planta carnívora ambulante, dragão e boxeador ciclope, mas o mais louco é que mesmo com tal variedade, eles não têm golpes especiais, com comandos próprios. Por exemplo, se você agarrar o rivar e aplicar o golpe básico, Uppercut (o lutador) pode dar um gancho ou uma sequência de socos; já Grinder usa uma giratória no chão ou arremessa o inimigo — todos com os comandos universais (↓ + B, → + B ou C depois de agarrar).
Os gráficos são fracos. A pobreza de cenários é clara, já que há poucos e eles vão se repetindo; não há exclusividade por lutador, exceto no combate final contra Valgasu (a luta é na Lua, com a Terra de fundo, mas a história não era numa estrela desconhecida? Ok, é um outro satélite parecido...). E esses poucos cenários refletem a pobreza com recortes péssimos entre camadas e paletas feiosas de cor.
A tela de escolha do lutador chega a ser cômica de tão tosca: um fundo preto e a lista de nomes, além de uma miniatura no canto superior direito. No início da luta, cada combatente é "depositado" no campo de batalha por um disco voador (?); uma entrada bacaninha mas que atrasa um pouco o início.
A barra de energia é diferente de games tradicionais, formada por vários pontos que se enchem a cada rodada, então é importante vencer sofrendo o mínimo de dano, preservando-se para a batalha seguinte. Conceito interessante.
O desenho dos lutadores é criativo até demais, mas decepcionante de forma geral; o principal lutador (supostamente, pelo menos), o humano Dirk, é só um boneco genérico, uma versão bem pouco evoluída do Ax Battler, do Golden Axe.
A maioria deles é grotesca, coisas absurdas tipo a esfinge com pernas, um alien com visual robótico, um gorducho gelatinoso (Rotundo, mito!) ou até um tipo de lagosta antropomórfica. Os poucos frames de animação resultam em movimentos nada naturais, recortados, mal feitos até dizer chega. Uma tristeza.
A jogabilidade é bem "característica" — entenda isso por "limitada e poucas vezes vista", talvez exclusiva na história. Embasbacante ver que o game tem botão de pulo (sim, não se pula com o direcional) e apenas um botão de ataque. Com essa "rica" combinação você vai só tentar acertar o rival com um golpe simples; tanto golpes baixos quanto de pé resultam na mesma coisa: um instante de paralisia do adversário, que pode ser seguido, aí sim, por um arremesso ou agarrão que resulta em alguns hits, dependendo do personagem.
Voadoras são desengonçadas mas existem. Defender? Esqueça.
O combate é em round único, então se a barra de energia acabar, já sabe, é game over (fora os cinco continues). O efeito da vitória é estranho: ao receber o golpe final, surge na tela um tipo de estática colorida, enquanto seu lutador fica pulando e tentando bater no adversário caído. 😯
Ao jogar sozinho, a dificuldade aumenta pela apelação dos adversários, que vão emendar agarrões quase em looping quando der na telha (coisa que você dificilmente consegue fazer), tipo você cai, ele já te agarra e joga de novo, etc. O inimigo final, Valgasu, é bem maior que os outros e arranca quantidades cavalares de energia com seus tapões e bicudas, mas a forma de lutar não muda; você vai fazer tudo igual do começo ao fim: golpe, paralisa, agarra, arremessa. Não tem magia, não tem especial, não tem graça, um tédio absoluto. Ainda bem que o game é curto (12 lutas, um round cada).
O som segue o padrão, ou seja, é fraco. Pra não dizer que fui exigente demais, há duas músicas razoáveis, com boa vontade, mas na média, a trilha sonora mais irrita do que embala uma boa jogada, completamente desinteressante. Efeitos sonoros se resumem a uma campainha insuportável no início e fim das lutas, e o som fajuto dos golpes, sem nenhuma voz ou outro de destaque.
Conclusão
Não sei onde os caras da TRECO estavam com a cabeça pra publicar um jogo ruim e cheio de defeitos elementares como Fighting Masters. Uma tentativa lamentável de pegar a grana dos jogadores ávidos por uma luta de qualidade, que mostrou-se só um fiasco.
E para você, que vai jogar tantos anos depois, fica o recado: apesar de nunca ter sido grande coisa, ele envelheceu mal. Não há praticamente nada decente para saudar, citar como influente ou que valha seu tempo; com boa-vontade, posso dizer que a ideia de paralisar o adversário para depois bater poderia ser melhor usada em outra situação.
Vale, se tanto, a jogada pela curiosidade "histórica", ou para relembrar do dia em que foi engando pela Supergame e alugou essa bomba.