Análise Cool Spot (SNES): exceção entre jogos ruins de marketing

Advergames costumam ser o creme do lixo. Jogos ordinários, sem o mesmo empenho das grandes franquias e só para divulgar o produto, raramente dão certo. Ou quando alcançam algum sucesso, muito vai pra conta do marketing e não de um interesse autêntico do público.

Exemplos? Aquele medonho do Ki-Suco no Atari 2600, o tosquíssimo de kart da M&M's e as bizarrices do Burger King para o Xbox. Mais sobre advergames aqui.

Nem sempre é assim, claro. O NES teve um dos primeiros jogos de anúncio com boa aceitação: Yo! Noid, da pizzaria Domino's (que era um sprite swap de outro jogo, Kamen no Ninja - Hanamaru). O McDonald's teve uns mais ou menos dignos nos 16-bit. Chester Cheetah, do salgadinho Cheetos, era razoável.

Também nessa época, a Virgin Interactive lançou Cool Spot, marketing da 7Up. A marca de refrigerantes é popular nos Estados Unidos, mas era quase desconhecida no Brasil. Quando o jogo apareceu, muita gente sequer o associou a um produto – exceto por coisas óbvias in-game. Foi uma inesperada boa opção em scroll lateral com plataformas, de jogabilidade manjada e ótima animação.

cool spot snes

Descolado

Começa pelo personagem. Um simples disco vermelho com visual descolado, usando óculos e em seu caminhar gingado. Funcionou graças a animação bem feita pela Virgin. A versão SNES saiu pouco depois do original para o Mega Drive – dirigido por David Perry, mesmo de excelentes jogos da época: Disney's Aladdin e Earthworm Jim. E não faz feio, melhorando em alguns aspectos e pecando em outros.

Cool Spot pula e atira bolhas de gás pelas mãos, enquanto resgata amigos vermelhos presos sabe-se lá por quem, já que o enredo não é muito claro. O visual colorido é pra cima, assim como a trilha sonora de Tommy Tallarico (outro nome que já era muito forte na época). Alguns ritmos lembram praia e paraísos tropicais – ou um capítulo de Bob Esponja. Rola até um clássico Wipe Out.

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Animação idle de Cool Spot.

No SNES, as faixas perderam a qualidade de batidas que Tallarico achou no Mega Drive, algo notável na abertura e primeira fase. Mas compensa com outras, como na fase de bônus, que se saem melhor no som do console da Nintendo.

Tudo tenta colocar o jogador no clima do personagem e funciona, com controles simplificados e muito agradáveis. Depois de começar, você vai sentir naturalidade nos movimentos, digna de clássicos do estilo.

Simplicidade funcional

Não que seja "muito" elaborado. Além da simplicidade do próprio Spot, é notável que não há uma produção exagerada. O design geral é arroz com feijão bem feito. Inimigos são óbvios como ostras e peixes na praia e ratos e aranhas no porão. O herói tem animação idle, mas não tem animações específicas ao atirar nas diagonais ou enquanto caminha, mantendo a mão e braço na mesma direção.

Cenários de fundo são um tanto "achatados", o que às vezes confunde a visão, como na fase dos brinquedos. A do porão sai um pouco do básico com um efeito de vinheta no personagem, iluminado com o resto mais escuro. Especialmente a segunda parte da loja de brinquedos (Toying Around) deixa fundo e primeiro plano meio embaralhados.

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A versão SNES tem efeitos adicionais em relação ao original do Mega Drive, como a vinheta na terceira fase.

Ainda assim, os cenários são em geral melhores que na versão do Mega Drive, que cortou efeitos como a vinheta, algumas animações, achatou elementos de segundo plano com o fundo, etc. O console da Sega teve vantagens como a resolução, que permite mais elementos na tela; a tela na versão SNES é menor.

A partir da quinta fase, os cenários começam a se repetir em ordem inversa, com alteração na dificuldade, cores (o cenário do porto é durante o dia claro na primeira parte e alaranjado como num fim de tarde na segunda) e inimigos novos. É como se Spot estivesse voltando para a praia, típico de jogos mais simples. Não tem invencionismo ou capricho típico de jogos AAA (se bem que esse termo sequer existia na época). São detalhes que não comprometem tanto e o resto tem qualidade linear.

Plataformas e algo mais

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Alguns cenários são meio embolados entre planos de fundo e frente. Clique para ampliar.

A jogabilidade, com tônica na ação lateral, tem momentos beirando o run and gun, com Spot atirando bolhas contra inimigos por todos os lados. Outras partes lembram jogos de ninja, mas sem a mesma dificuldade, como a parte das cordas na segunda fase.

A seção dos balões na primeira fase exige calma para calcular os saltos, lembrando um pouco a sequência dos canhões de Donkey Kong Country (que não tinha sido lançado ainda) e títulos da Disney como Castle of Illusion. A loja de brinquedos é um teste de paciência – ou melhor, de pulo entre plataformas minúsculas.

Também houve a opção por não ter chefes de fase. O objetivo principal é localizar uma gaiola com um Spot preso, o que faz a ação parecer repetitiva, especialmente em fases mais longas, a partir da terceira. O desafio não é dos maiores e você não deve sofrer tanto para chegar ao final, mas se não realizar certas tarefas adicionais, não verá o final verdadeiro. Assim como o personagem, o jogo é "leve" e quer divertir, sem forçar no desafio.

Cool Spot entra fácil em listas de bons jogos baseados em marcas. Não fossem inserções de 7Up por todos os lados e você acreditaria que é só mais uma das boas produções de plataformas daquela era. Merece o status de "clássico light" que tem – e seu tempo numa rejogada ou jogando pela primeira vez.

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Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, mais de mil artigos publicados, mais de dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

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