Análise: Aztec Adventure é curto mas não fez feio como o “Zelda asteca”

Todo videogame tem jogos medianos. Aqueles que foram lançados de forma descompromissada, sem muita divulgação, passavam quase despercebidos na loja e não chegavam nunca ao nível dos clássicos. Mesmo assim, conquistaram um público, lembrados como companheiros da semana, o que servia de passatempo enquanto não era dia de ir à locadora buscar lançamentos.

É o caso típico de Aztec Adventure, aventura / ação lançado em 1987 no Japão com o título Nazca '88. Você joga como Niño (nome original para um garoto...) através de labirintos em busca de um tal paraíso "azteca" cheio de tesouros. O lugar seria secreto e guardado por um grande espírito, além de uma porrada de monstros e inimigos bem armados.

Na velha lógica absurda e 100% aceitável dos games, os maiores guerreiros e exploradores fracassaram na procura, mas o garoto com sua espadinha parte para a jornada.

Ele pode até achar, mas não será fácil, pode apostar.

Aztec Adventure tela título
Na introdução, Niño e os três mercenários. Quando encontrá-los, jogue sacos de dinheiro para comprar seus serviços.

Você passa por vários cenários que cruzam florestas, rios e desertos, sempre colecionando itens como sacos de dinheiro e armas, obtidos ao derrotar inimigos. As armas vão de bombas a lanças e bolas de fogo, e são contadas, então é preciso escolher a hora de gastar, ou fica sem poder de ataque contra os chefes e inimigos mais fortes.

Use a estratégia para cada momento ou obstáculo: bolas de fogo, por exemplo, queimam plantas e árvores que obstruem seu caminho. A espada curta será a companheira na maior parte do tempo.

Gráficos ok

Os gráficos, se não são uma maravilha, também não decepcionam. Tudo busca influência na arte da civilização Nazca (povo pré-inca que viveu no sul do Peru entre 300 AC e 800 DC). Sprites como inimigos e partes do cenário são repetitivos, mas coloridos e bem desenhados, garantindo um visual atraente.

Há diversas referências àquela cultura, incluindo algumas que são pura aula de história, como os famosos traços dos Geoglifos Nazca, desenhos enormes que eram feitos no chão, alguns com mais de 200 m de diâmetro. O estilo de chefes, inimigos e cenário, com totens, vasos, roupas e outros objetos, parecem saídos de um livro de história asteca (ou nazca, no caso).

Cruel para crianças

Personagens de Aztec AdventureA movimentação é livre em todas as direções, como em aventuras consagradas (ZeldaBeyond Oasis), o que não era corriqueiro numa geração que se entupia de side scrolls. Positivo, mas com um problema: essa liberdade não é tão literal... Apesar de se mover diagonalmente, Niño não ataca em diagonal, precisando estar paralelo ao oponente para atingi-lo; se trombar na diagonal, o que acontece com frequência na ânsia de atacar, perde-se energia. Sem dúvida um fator complicador para os combates, que parece questão técnica e não escolha de design. A movimentação é lenta, e num game longo e difícil, isso vira chateação logo.

Apesar da aparência infantil, a dificuldade é crescente, especialmente com chefes. São só duas vidas para vencer as 10 longas fases e o modo mais comum de recuperar energia é com umas "fontes do desejo", que não aparecem com frequência. Ao morrer, volta-se pro começo da fase, mas com todos os itens recolhidos antes e até com os mercenários contratados. Pra piorar, não há checkpoints ou passwords: ou joga tudo de uma vez, ou sem acordo.

Uso de itens ajuda a passar por certas partes
Segunda fase: uso de itens ajuda a passar por certas partes, como botas para não perder energia na água.

Se não tiver tempo sobrando, não é uma boa investir em Aztec Adventure. Serão muitos game over até pegar prática e ir adiante. Só para crianças espertas ou marmanjos (ou abusando dos save states no emulador).

Som

Os efeitos sonoros são simples como sempre nos 8-bit, longe de serem irritantes como alguns, mas repetitivos. Praticamente só se ouve os sons da espada e bolas de fogo, além de um tipo de explosão quando o inimigo é vencido. Nada muito estressante, nem brilhante, bem mediano.

As músicas são limitadas, mas bem feitas e no estilo do ambiente imaginado. Elas dão um clima ensolarado, alegre e divertido à ação. Pena que não eram em maior quantidade, por certo devido às limitações do Master System num cartucho de irrisórios 1 megabit (125 kB).

Se tiver um Master System japonês, aproveite pois o jogo é compatível com o chip de áudio FM, com um senhor upgrade de qualidade.

Primeiro chefe

Leões de chácara

O dinheiro tem importância fundamental no desenrolar do jogo. Durante as fases, ao derrotar inimigos, eles deixam sacos de grana, que você pode usar para subornar alguns caras para aderir à sua causa. Por estranho que possa parecer, e eu sei que vai parecer, mas são uns tipos de sapos que dão dinheiro quando vencidos ?

Assim, se quiser ajuda extra na batalha, basta atirar um saco (ou vários) nos três "leões de chácara", Papi, Pupe e Poh, aqueles da introdução; se você pagar, eles não terão nenhum pudor em trocar de lado, virando verdadeiros capachos. Cada um tem sua força e preço, e fazem um ótimo trabalho como alvo humano, indo pro combate em seu lugar e até se enfiando em roubadas como moitas de espinhos e as barbas de certos chefes, recebendo a maioria dos golpes. São fiéis também, ajudando você até a morte, inclusive voltando com o "patrão" ao início do estágio quando derrotado. Dinheiro bem investido.

Conclusão

Mesmo não sendo uma estrela do Master System, Aztec Adventure é o tipo de jogo que poucos reclamavam se ganhassem ou fosse alugado às cegas. Com jogabilidade decente, dose boa de desafio, som que não faz feio e gráficos agradáveis, garante entretenimento por algumas horas – ou bem mais, se você tiver disposição de tentar chegar ao final. Recomendado para quem busca bons nomes no 8-bit da Sega.

E ainda não foi dessa vez que o terminei. Outra hora, quando tiver tempo... 

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

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