Análise: show de bizarrice nos arcades com Superior Soldiers

Street Fighter II foi um marco no mercado de games, ok. Mas se por um lado fomentou o surgimento de bons jogos, por outro foi como abrir a Caixa de Pandora. A Caixa de Pandora dos Fighting Games™. Saíram abominações de dentro, clones bizarros feitos "nas coxas", na pressa de lucrar com o momento do gênero antes que a febre passasse.

Remexendo o baú dos games de 1991 até meados de 1995, a gente encontra várias "pérolas". Um dos mais populares no Mega Drive era Fighting Masters, do qual já falei aqui. Um lixo, mas sei lá porquê, parece que muita gente curtia. Alguns eram originais, pelo menos, como o (não muito melhor) Clay Fighter. Outros eram bonzinhos, como Power Athlete (Deadly Moves). São tantos que nem dá pra ficar citando, vira lista fácil.

No arcade, um que passou batido, pelo menos no Brasil, foi Superior Soldiers. Produzido pela Irem, saiu em 1993, mesmo ano de joias como Super Street Fighter II X, Mortal Kombat II e Samurai Shodown. Teria ele honrado a geração?

Como bom péssimo aprendiz de Street que foi, tem características em comum. Lutadores de várias partes do mundo? Sim, senhor. Cover de hadouken e shoryuken? Claro. Lutador brasileiro? Na falta de um, tem logo dois, incluindo uma mulher.

Mas os pontos em comum param aí. Infelizmente.

Superior Soldiers se passa num planeta parecido com a Terra, mas supostamente no mesmo universo de R-Type, sucesso da Irem. Em 1999, 90% da humanidade morreu por causa de uma energia desconhecida, chamada apenas de "Força". Cidades foram bastante danificadas, o caos impera, blábláblá...

Mas apesar da destruição, os 10% restantes da humanidade viraram ciborgues (?), tanto para se proteger, quando para criar uma nova raça dominante. Eles lutam contra o Skull Reaper.

Por que? Não sei. Há pouca informação sobre a trama, e todos os lutadores têm o mesmo final, exceto por algumas telas. A única pista é que (olha o spoiler aí gente) Skull Reaper está com uma força chamado Bydo dentro dele, uma espécie de essência.

Pior é que, além do plot misterioso, o jogo em si não ajuda visualmente a aprofundar nada. Não tem um ambiente coeso, ou algo que pareça fazer parte do mesmo bolo. Os lutadores são uma salada, não dá liga. Tem dinossauro, dançarina exótica, alienígena e samurai, todos sem enredo compreensível. Uma zona.

São 7 personagens controláveis. A jogabilidade não é tão horrível quanto Street Fighter 1 (o que não é grande coisa), mas também não empolga. A configuração de botões é aquela: 3 socos, 3 chutes, direcional de 8 pontos. Os lutadores usam especiais e golpes normais como rasteiras, voadoras, etc — você sabe a fórmula. Jogando contra a máquina, prepare-se para penar com agarrões frequentes e nenhuma piedade, já desde a primeira luta. É meio desolador, imagino que jogar isso no arcade devia ser uma tortura.

Mostra o molejão BR para o mundo, filha, vai...

Movimentos especiais são ativados com comandos simples como meia-lua, o que deixa veteranos à vontade. Pena que em alguns lutadores, eles simplesmente não prestam, compensando muito mais bater com golpes comuns. Ao contrário de outros jogos, agarrar o oponente é fácil, e a IA apela com frequência a isso: se cair perto dele, é quase certo que você será agarrado. Não é muito equilibrado; alguns golpes tiram quantidades animalescas de energia, apesar de não haver super moves e afins.

O design de personagens é coisa de louco, no pior sentido. O Brasil foi "agraciado" com logo dois. E lógico que seguem o cliché mais tosco e manjado possível. Cattydox é uma dançarina exótica com jeito de stripper, que rebola o tempo todo, esteja ela em seu cenário (uma danceteria meio punk) ou não. E tem um dinossauro ou algo que o valha chamado Reptilian, encarnação mais monstrenga de Blanka. O monstrengo e a dançarina. Dava pra ser um casal BR mais óbvio?

A sacaneada não parece pessoal, outros personagens são tão ruins quanto, ou piores.

A Arábia Saudita é representada pela inacreditável Arabian Moon. Pensou em Arábia e imaginou uma guerreira comportada, com roupas no estilo do Rashid, do Street Fighter V? Ou no cara do Assassin's Creed, bem coberto? Nesse caso eles não foram nada óbvios, meu jovem. Basicamente, Arabian Moon é um arremedo er0tico de Chun-Li, inclusive com seu próprio Lightning Kick. A mocinha traja um escandaloso biquíni fio dental socado nas entranhas — mas com um véu árabe pra lá de irônico ligado a um chapéu (me perdoem os amigos e amigas árabes, não sei o nome exato daquela peça).

Pra variar, o herói é um americano, Starsaber, um meio ciborgue com movimentos que imitam Shoryuken e Hadouken sem pudor e criatividade alguma. Estão lá ainda Satinsect (um alien enorme), Busido (não é Bushido, é Busido mesmo), e Meltdown, talvez o ciborgue mais ridículo já desenhado, com um símbolo nuclear no meio da testa.

Conclusão

Pra não dizer que tudo é ruim, os cenários são razoáveis. A maioria é em três camadas, com scroll tanto horizontal quanto vertical (como em Street Fighter, que "treme" a tela quando um personagem é nocauteado). Vários retratam o mundo pós-apocalíptico, como o Amazonas com umas construções hi-tech no fundo, e os Estados Unidos com a Casa Branca em ruínas.

O conjunto da obra — ou obrada — é de doer. Músicas irritantes que mais parecem ruído de fundo. Tem algumas vozes, mas de baixa qualidade. As animações depois da luta são risíveis; recomendo que perca com o dinossauro pra entender o que estou falando.

Não podemos culpar a Irem por tentar, mas se fosse pra gastar dinheiro e tempo com isso, seria melhor outro capítulo qualquer de R-Type. De qualquer forma, vale como curiosidade bizarra.

Já ia esquecendo de outro ponto positivo: o cartaz é bem legal.

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

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