Análise: Stakes Winner é passatempo repetitivo com corridas de cavalo no Neo-Geo

Infelizmente pra mim e grande parte da população mundial, ter um Neo-Geo no auge era um sonho distante — a não ser que você topasse vender um rim no mercado negro. O console era caro pra burro; pra ter acesso a delícias como Samurai Shodown, King of Fighters e Metal Slug, restavam máquinas montadas em locadoras, pra jogar por hora (mesmo assim, nem todas tinham) ou as versões arcade dos jogos distribuídas por aí.

Com isso, só os títulos top ou de mais destaque apareciam, enquanto outros passaram à beira do anonimato, acessíveis só para uns pobres ricos mortais.

Entre tais "anônimos" há alguns que vale a pena conhecer, coisas que fazem a gente perceber que o Neo-Geo era mais que tiro, porrada e bomba, como diria a poetisa; jamais passou pela minha cabeça, naquele tempo, que existia um game de turfe (corrida de cavalos)!

Produzido pela Saurus, second-party que também reprogramou Art of Fighting 2 e World Heroes 2, e lançado em 1995, Stakes Winner não é exatamente o ápice da qualidade, ou daqueles que a gente fala "nossa, que clássico", mas pode render uns momentos de diversão. Especialmente se você for fã da matéria, já que é algo pouquíssimo explorado na história dos games.

Sério, quantos games de turfe ou similares você lembra? Só pela raridade já merece atenção. Confesso que nunca o vi rodando no Brasil (em São Paulo, pelo menos), nem arcade e menos ainda a versão console, que segundo consta, teve fabricação restrita pela falta de interesse Ocidental; só fui conhecê-lo através de emulação.

Num cartuchão de 98 megabits, Stakes Winner o coloca nas competições de turfe do Japão, onde o esporte é muito popular. São 12 pistas e 8 cavalos disponíveis, e seu objetivo como jóquei é ficar no mínimo entre os 3 primeiros em cada prova.

Gráficos: ok

O game começa com aquelas animações típicas do Neo-Geo, com efeitos de zoom e digitalizações bacanas. Durante as corridas, talvez você canse de tanto verde, já que o cenário de fundo não é lá muito rico, mas no geral foi tudo está no lugar. Especialmente as pistas de terra tem uma atmosfera bonita, ainda mais com os cavalos coloridos. Em algumas dá pra notar que a textura da terra e da grama é a mesma, com a devida alteração de cor.

Stakes Winner largada
Deep Green: com as pistas de grama, o cenário fica bem verde.

O desenho dos personagens, tirando cenas intermediárias que são fotos digitalizadas, tem boa animação e pendem para um traço cartunesco, como os cavalos com olhos arregalados, suas caras de determinação enquanto disparam, ou caretas ao serem chicoteados ou pisar em buracos.

Com um pouquinho mais de humor, Stakes Winner viraria um "Mario Kart com cavalos", o que não é bem o caso, apesar de elementos em comum como os power ups.

Som: bom, pouca variedade

O som é bem feito, com um grito frenético da torcida quando os cavalos se aproximam da reta final. Imagino que jogar no arcade, com alto-falantes de graves possantes, devia ser empolgante. O barulho do chicote estalando, os resmungos do cavalo e cascos batendo no chão, tudo colabora para transmitir o ambiente desenhado. A tela pós-corrida, com o pódio ou uma ilustração do cavalo (caso não consiga a vitória), tem o som bem alto da galera gritando com música por cima, me pareceu meio exagerado, barulhento demais. Quase não há vozes.

A música é animada, também faz pensar nas provas reais. Pena que não há variação, e depois de algumas corridas, ouvir a mesma música de novo e de novo fica cansativo. Com mais variedade, mereceria uma nota mais alta.

Jogabilidade repetitiva

Comece inserindo seu nome de jóquei (só quatro letras) e selecione seu cavalo. Com nomes como "Be Silent", "White Heat" e "Asian Hope", cada um tem características próprias de stamina, speed e strenght. Stamina determina quanto tempo o cavalo aguenta correndo em velocidade máxima sem cansar; speed é a velocidade máxima; strenght, como ele se sai nas disputas de força, como subindo aclives — sim, algumas pistas tem subidas bem encardidas.

Stakes Winner segundo lugar

Os controles são simplificados: além do direcional, um botão para usar o arreio e ditar o ritmo do cavalo (mais acelerado, reduz um pouco mais rápido a barra de stamina), e um para chicotear a traseira do coitado, o que o faz correr como louco. Isso tem efeito colateral: o cavalo cansa e começa a chacoalhar a cabeça (no ícone da parte inferior da tela) e se você continuar, ele vai parar de correr, extenuado.

Mais do que só meter o pé, é preciso estratégia: se usar chicote no começo pra sair na frente, ele estará exausto no final (fica com o olho arregalado e diminui muito o ritmo, podendo até ser retirado da prova), com grande chance de ser ultrapassado por todos. Fique de olho na barra de energia: se estiver azul, ok; amarelo, o cavalo está ficando cansado e vermelho, fique esperto pois ele está no limite.

O ideal é manter um ritmo intermediário, para apertar no final — na reta final, bata nele à vontade. É comum haver algum item perto da chegada, mudando sua sorte.

Se outros cavalos estiverem bloqueando o caminho, dê dois toques para frente para abrir caminho com um tipo um golpe. Dois toques para trás fazem o cavalo reduzir o ritmo. Seria legal dar coices para trás, não? 😛

Stakes Winner cavalo cansado
É melhor dosar na corrida, ou seu cavalo vai acabar com essa cara de chocado pelo seu abuso.

Há também power-ups na pista, como cenouras (aumenta a energia) e asas (um turbo de uns 3 segundos). A garrafa deixa o cavalo mais lento, assim como buracos de toupeira, enquanto o ponto de interrogação é aquela coisa Mario Kart: vai te dar um item aleatório. O modo para 2 jogadores não tem tela dividida, e se um ficar muito para trás, a tela o empurra pra frente.

Os cavalos também podem ganhar "upgrades" a cada 3 corridas, em pistas de treinamento. A única forma de trocar de animal é tomando game over e gastando um continue, sacanagem típica do arcade — seria legal trocar antes de cada corrida. Quem joga no Neo-Geo AES e tem um memory card pode gravar os avanços pós-game over, reiniciando de onde parou com 4 créditos de novo, uma senhora vantagem.

Atingindo o objetivo, ganhamos prêmios em cash de acordo com a posição, formando um placar monetário. Além de tentar as primeiras posições, a coleta de dinheiro é como uma competição à parte. A maior premiação em dinheiro é de US$1.3 milhão.

A verdade é que depois de jogar um pouco, provavelmente você estará saturado, pois não tem muito além disso. A Saurus botou esforço no game, sim, mas é um tanto monótono. Seria mais divertido escoicear adversários, dropar armadilhas, mais variedade de itens... Mas aí seria outro jogo.

Conclusão

Se nunca imaginou um game de corrida de cavalos, experimente Stakes Winner. Logo percebe-se que a diversão é mais do que só "acelerar" como louco, e a estratégia em preservar o cavalo torna o jogo mais interessante, até meio viciante. Mas não se engane, o efeito é passageiro: duvido que você queira jogar após algumas (ou várias) partidas, porque não há objetivos paralelos ou conteúdo "extra": o negócio é chegar entre os top 3 e fim. É pra passatempo de 1 dia, ficar esquecido, aí ganhar uma visita casual, etc...

Também acho improvável que você tenha jogado no console, já que a versão americana do cart é rara e valiosa, mas se tiver a sorte de topar com o arcade, vale muito pela curiosidade, mesmo que o tema não te atraia. Resumindo: Stakes Winner não tem nada de espetacular, a não ser o preço.

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

1 COMENTÁRIO

Deixe seu comentário

Digite seu comentário!
Digite seu nome aqui

Reviews

Recentes