Listas: dez games em Full Motion Video (FMV)

No começo dos anos 90, com o oba-oba em cima da tecnologia dos games em CD-ROM, um estilo de criar jogos apareceu como a nova tendência que quebraria tudo e conquistaria jogadores pra toda a eternidade: o FMV, de Full Motion Video. Tudo que se prometia a respeito deles era quase mágico: uma experiência realista, com atores e atrizes em cenas filmadas e controladas por você, jogador-espectador. O que se imaginara um dia como videogame ideal — filmes controláveis — havia chegado, viva a tecnologia...

Ok, era diferente do padrão, mas no fim das contas, muito abaixo do que se esperava: jogabilidades terríveis, gráficos lavados, pontilhados e atuações dignas de um Framboesa de Ouro. Graças a um monte de produções medonhas, o FMV caiu em desgraça e virou só parte meio tenebrosa do passado dos jogos eletrônicos.

Em dado momento — na época do Sega CD, principalmente — houve um boom de jogos em FMV e eram quase todos horrendos, com raras exceções que conseguiam ser divertidas mesmo com pouca participação do "jogador", limitado a guiar o filme, às vezes por caminhos inevitáveis. Depois do Sega CD, 3DO e até o PlayStation arriscaram-se no gênero, mas nada muito louvável.

Seja como for, os FMV tentaram levar nossa diversão a outro nível, então lembremos com carinho (mas não muito) de pérolas dessa era tão especial.

Mad Dog McCree

Mad Dog McCree
Mad Dog McCree: faroeste tradicional onde quem mata a bandidagem é você

Oriundo do arcade, foi um dos pioneiros em usar filmagens em games, um "clássico" da American Laser Games. Assumindo o papel de um pistoleiro, a missão é balear os malfeitores da gangue de Mad Dog McCree (o "Cachorro Louco" McCree) pra resgatar a filha do prefeito. Como em todo faroeste que se preze, o xerife é um banana e você tem que tomar conta de tudo.

Com versões para Sega CD, PC, CDi e outras, é um dos títulos mais conhecidos do período. No papel de Mad Dog, o ator Rusty Dillen, que também participou de filmes para TV como The Return of Desperado e papéis menores como em E Deus Criou a Mulher.

Supreme Warrior

Supreme Warrior
Supreme Warrior: efeitos não muito especiais e kung fu voador pra Jet Li invejar

Lançado em 1995, em pleno "declínio" dos FMV. A ação se baseia em acertar comandos de direcional e botão na hora indicada para defender-se dos golpes adversários ou chutar e socar. Como nos filmes de kung fu, tem muitos lutadores com golpes voadores tipo Jet Li, incluindo o mascarado chefão Fang Tu.

A produção é bem fajuta, com efeitos especiais dignos de clipes dos anos 80 e atuações óbvias de filme B. A introdução ficou até bem feita, em janela cheia, veja aí em cima; mas o jogo é com janela mesmo.

Foi lançado também para 3DO e CD32X, ambos com gráficos mais limpos que o Sega CD. O que não muda grande coisa, o jogo continua sendo ruim como um todo, apesar de divertido pra quem curte o gênero dos "chineses voadores".

Dragon's Lair

Dragon's Lair
Dragon's Lair: um dos pioneiros do FMV, com belíssima animação

O pioneiraço do FMV em arcades, se bem que suas cenas não eram exatamente "filmagens" com atores e sim animações criadas por Don Bluth, ex-funcionário da Disney e responsável por produções como Anastácia, O Ratinho Valente e Um Conto Americano.

O impacto de tal coisa ainda em 1983, quando foi lançado em laserdisc, deu a esperança de que aquele poderia ser o caminho para games do futuro. Conduzindo as ações do desajeitado cavaleiro Dirk para salvar a princesa safadinha Daphne, escolhas erradas levam a uma animação com ele se dando mal; caso contrário, ele vence o obstáculo e o desenho continua.

Dragon's Lair foi portado para muitos sistemas e inspirou jogos posteriores, como Time Gal e Space Ace. Se você odeia os FMV, pode culpá-lo um pouco. Se bem que ele não merece seu ódio, é um dos melhores.

Sewer Shark

Sewer Shark
Sewer Shark: pior que matar bichos no esgoto com um tatuzão mecânico

Um dos mais famosos do Sega CD, não por ser bom, mas por ter acompanhado o aparelho em alguns pacotes. A filmagem é de 1987, planejada para o lançamento de um game para o Control Vision, projeto cancelado de console em VHS da Hasbro; só em 1992, quando a Sega buscava parceiros que desenvolvessem para seu recém-lançado CD, a produção foi portada.

A jogabilidade é extremamente linear, sendo preciso atirar em alvos (ratos gigantes, chamados de ratigators) para seguir por trechos de esgoto numa espécie de escavador gigante. O filme teve direção de John Dykstra, que bem depois ganharia um Oscar por Efeitos Especiais com Homem-Aranha 2.

Mas se nunca jogou, não se engane: é ruim que só ele. Tem versões para Sega CD (original) e 3DO, ambas porcarias.

TomCat Alley

TomCat Alley
TomCat Alley: vídeos em tela cheia no Sega CD com perseguições aéreas

Mais um de Sega CD, uma espécie de "Top Gun" desenvolvido pela The Code Monkeys. Tecnicamente foi um dos melhores FMV, já que ao contrário dos demais, rolava em tela cheia — realmente "full", sem bordas nem janelas, ainda que a qualidade do vídeo não fosse tão alta devido às limitações do kit Sega CD + Mega Drive (aquela merda pixelada que você já conhece).

As ações eram das mais variadas para o gênero, incluindo atirar bombas, ativar despistadores de míssil, responder ao rádio e seguir coordenadas na tela. Deve ser o que mais se aproximou do conceito original de unir jogos com filmes. A produção foi de Sam Nicholson, que hoje tem extenso currículo em efeitos visuais, incluindo seriados como 24 Horas, CSI, The Walking Dead, entre outros.

Teve versão para o PC produzido pela Novotrade. Se tem FMV que vale a pena no Sega CD, esse é o cara.

Corpse Killer

Corpse Killer
O rasta maluco e a loira pentelha: seus amiguinhos enquanto mata zumbis em Corpse Killer

Mais um da Digital Pictures, Corpse Killer mostra que a moda de atirar em zumbis não é nova. Numa ilha tropical, o negócio é se meter na floresta e acabar com os mortos-vivos criados por um certo Dr. Hellman, que quer dominar o mundo blá blá blá... Destaque para o inglês quase incompreensível do taxista rastafári, que levou à inserção de legendas em relançamentos do game.

Aliás, o inglês jamaicano é tão difícil assim? Basta lembrar do Little Jacob do GTA IV...

Como veio no período final da popularidade dos FMV, foi ferozmente criticado (pessoal não aguentava mais aqueles jogos torturantes), mas assim como Supreme Warrior e TomCat Alley, havia incorporado melhorias aprendidas com o tempo, como aumento na qualidade do vídeo e menor tempo de carregamento. Tem um certo fator cômico, que o torna uma lembrança até agradável.

Make My Video

Make My Video
Make My Video: pra quem gostava de bancar o diretor de videoclip

A Digital Pictures tinha mesmo tara por FMV, e em 1992, bem no começo do Sega CD, lançou os games da série Make my Video, que inclui trechos de vídeos de algum artista; o jogador segue instruções para criar videoclipes completos. No final dá pra ver sua produção, mas gravar que é bom, nada.

Os artistas amaldiçoados escolhidos foram INXS (com as faixas Heaven Sent, Baby Don't Cry e Not Enough Time), o duo de rap Kris Kross (Jump, I Missed the Bus e Warm It Up) e Marky Mark, aquele mesmo do New Kids on the Block e que depois "viraria" o ator Mark Whalberg (com Good Vibrations, I Need Money e You Gotta Believe).

Os jogos são uma catástrofe de ruins e considerados parte do pior que já se viu no mundo gamer. Assim, recomendo que passe bem longe, ou só chegue perto se tiver "curiosidade histórica".

Sherlock Holmes: Consulting Detective

Sherlock Holmes consulting detective
No jogo de Sherlock Holmes, você precisa de um ouvido treinado ao pesado sotaque britânico

Mais uma boa variação dentro dos FMV, originalmente feito para o FM Towns e mais tarde portado para várias plataformas, incluindo Sega CD (chegou a acompanhar alguns pacotes americanos do acessório-console), Turbografx-CD, CDTV e computadores.

Você assiste vídeos sobre três casos a investigar. Precisa ter ouvido muito treinado para o carregadíssimo sotaque britânico dos atores, e assim entender os casos; não há legendas. Deve-se visitar lugares, checar pistas e coletar evidências suficientes para apresentar ao juiz no final da investigação. Confesso que nunca consegui jogar direito, porque mal entendo inglês americano, e britânico então, entendo muito menos.

Pra quem gosta mais de pensar e assistir do que mover freneticamente o controle é uma boa opção.

Prize Fighter

Prize Fighter
Prize Fighter roubou elementos de Touro Indomável na cara dura, mas não era tão bom quanto o filme

Os games em FMV até tinham variedade de temas, como esse outro da Digital Pictures, de 1993, agora sobre boxe. Com gráficos quase 100% em preto e branco, o intuito era copiar na maior cara-de-pau o estilo de Touro Indomável, mas a reduzida janela e qualidade baixa do vídeo chateiam.

A ação é parecida com a de outros jogos, devendo-se acertar sequências de direcional e botões quando a seta aparece em cada lado da janela para socar o rival. A ideia do vídeo em preto e branco disfarça uma das piores coisas do Sega CD, que são as cores lavadas.

Road Blaster (Road Avenger)

Road Blaster
Em Road Blaster, a vingança sobre rodas contra uma gangue punk motorizada

Outro que usa animação em vez de atores, com a jogabilidade comum aos FMV, Road Blaster (Road Avenger no ocidente) foi lançado em 1985 pela Data East em arcades. Dirigido por Yoshihisa Kishimoto, que já pela Technos criaria outro clássico, mas de estilo bem diferente: Double Dragon (alguma semelhança entre o carro vermelho do vingador e aquele da garagem dos irmãos Lee?).

Você guia o carro do vigilante cuja mulher é morta por gangues de estrada (meio Mad Max). Apesar dos controles dentro do padrão, Road Blaster pode ser bem mais divertido que os filmes de qualidade tosca por ser uma animação bem feita, suave, colorida e detalhada. Era hit das locadoras da minha área, todo mundo pagava pau violento ao ver as cenas de perseguição. Quase como controlar um desenho animado.

Depois de memorizar os comandos de cada fase é fácil prosseguir, mas até lá é preciso muito reflexo e calma para não tomar o caminho errado e acertar ultrapassagens, saltos e manobras diversas — sempre perseguindo ou sendo perseguido pelos bandidos motorizados. Foram várias versões entre o fim dos anos 80 e começo dos 90, entre eles para MSX, Sega CD, 3DO, Saturn e PlayStation.

?

Notaram que não coloquei Night Trap na lista, né? Foi proposital, antes que alguém pergunte, afinal todo mundo conhece Night Trap, nem que seja só de nome. É muito manjado.

Embora a aventura dos FMV tenha deixado mais lembranças negativas que positivas, a ideia não era ruim: inovadora, ousada, cara. Nem todo estúdio tinha dinheiro para produções de qualidade, então contratavam atores e atrizes iniciantes, de cachê baixo; os roteiros eram medonhos, trajes e efeitos especiais pra lá de toscos — o que até dava um certo "charme", mas tiravam a seriedade da coisa.

Os próprios videogames ainda engatinhavam em mídias ricas como os CDs. Será que com a tecnologia atual, não seria legal tentar uma nova abordagem nos FMV, com mais recursos?

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

7 COMENTÁRIOS

  1. Cara, coloca o Star Wars; Rebel Assault II: The Hidden Empire ai na lista. sem dúvidas ele e o MELHOR game de FMV de todos os tempos, com boa história, boa jogabilidade, ação variada, e gráficos limpos e bem detalhados, e boa atuação dos atores, contando uma história paralela de Star Wars mostrando uma nova luta dos rebeldes contra um sinistro plano do império. Tinha esse game na época e jogo até hoje...

  2. lembro de jogar Phantasmagoria do PC...adorava aquele estilo de jogo!!!! Antes de me ingressar em Resident evil jogava muito esses estilos de jogo maios para o lador do terror e suspense que estava aparecendo para a galera do PC. Já jogar FMV no Sega CD...só agora que consegui mesmo, motivo...falta de grana, alistamento militar, estudos, fase em que jogava muito super nintendo nas locadoras...não tinha dinheiro e passava mais tempo jogando com amigos em locadoras. Depois foi quando fiz curso de informática e assim consegui comprar meu primeiro pc...um 386 de segunda mão...sacrificio. Perdi muito essa fase do sega cd...na locadora tinha o mega cd e poucos títulos...sega cd da tec toy era caro demais. já o mega cd tinha muitos títulos bons mais para o lado anime...bons tempos foram estes!!!! Atualmente consegui os clássicos Supreme warrior, dificil não consigo ir muito longe nesse jogo...e TomCat alley...dificil também!!!! bons tempos!!!!valeu

    • E até hoje não consigo jogar Supreme warrior...joguinho kabuloso esse!!!! Bons tempos de Mad Dog McCree nos arcades da vida!!!!

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