Dez brinquedos antigos bons como (ou melhores que) videogame

Morei a maior parte da vida perto de uma praça. Na infância, ela não era só praça, mas nosso playground, meu e dos amigos de bairro (homies, over here!). Servia como quadra poli (ou multi) esportiva, pista de skate, ciclovia, pista de bicicross e todos os tipos imagináveis de brincadeiras.

Observando-a agora que passei dos 30, noto grandes diferenças e nem vou citar a palhaçada que a prefeitura fez, acabando com a estrutura original para inventar uns jardins toscos e passagens que quase ninguém usa. É o excesso de carros - quem diria, minha rua antes tranquila agora tem congestionamentos! - e a falta de crianças.

Raramente vejo moleques chutando bola, correndo ou empinando pipa, só motoristas e cobradores de ônibus (tem um ponto na praça) e transeuntes habituais. Muito se deve à falta de espaço, mas antes das alterações já notava que a quantidade de crianças brincando soltas era bem menor que no "meu tempo".

Não sei dizer onde estão, se isso é reflexo de mudanças familiares, escolares, etc. Acho que a tecnologia tem seu papel nisso, pois muitos mal saem do ciclo escola-casa-videogame-pc-cama-escola. A mudança veio principalmente a partir do começo do milênio - por coincidência ou não, quando lan houses se popularizavam.

Não estou dizendo que agora é melhor ou pior, mas é diferente de quando videogames engatinhavam e a diversão era "analógica". A eletrônica dos consoles, computadores, tablets e celulares quase monopoliza a mente dos pequenos.

Claro que hoje tem um monte de brinquedos, inclusive alguns dessa lista continuam firmes e fortes, mas perderam muito do "charme" e interesse. Lembro de alguns com muita nostalgia, do tempo em que videogame era uma modernidade que poucos tinham.

Jogo da operação

Jogo da Operação

Na metade dos anos 80 meu pai trabalhava na gráfica de um grande jornal, e através dos benefícios, os filhos pequenos de funcionários ganhavam brinquedos top no Natal. Num desses Natais, que pode ter sido 1987, ganhei um Jogo da Operação, da Estrela.

É simples mas já tinha um toque "tecnológico", usando pilhas para emitir luz e um alarme sonoro. O objetivo era pegar pequenas peças plásticas das cavidades de um paciente desenhado na mesa. Cada "osso" tinha sua dificuldade devido à forma. Um deles era só um elástico preso entre dois pinos na canela do cara, e chamava "Perna Bamba".

Outros ossos tinham nomes engraçadinhos. No lugar do coração estava o Coração Partido; no estômago, um pacotinho de presente para ser o Estômago Embrulhado; no joelho, um balde de água era o Água no Joelho.

Cada operação vinha num cartão de Médico ou Especialista, tirado aleatoriamente pelos jogadores. O pagamento recebido por cirurgia bem feita estava no cartão, e era feito com o dinheiro do jogo. Tinha um versinho em cada cartão, uma rima, mas não lembro bem... Algo do tipo "para curar essa dor cavalar, só cirurgia vai adiantar". Se você os tiver, pode postar alguns nos comentários, por favor.

O problema era tirar o objeto da fenda sem encostar a pinça na parte metálica - se isso acontecesse, a operação havia falhado e o paciente protestava com o nariz ficando vermelho e um som chato.

Me pergunto quantas crianças decidiram ser médicas pelo mundo afora graças ao Jogo da Operação.

Pogobol

Pogobol

O Pogobol era um barato, diferente. Uma câmara de borracha bem grossa, passada no meio de um disco que acabava dando ao conjunto a cara do planeta Saturno. Um misto de skate com pula-pula? Nem sei como descrever, era bem criativo.

E pra que servia? Era só subir em cima e sair pulando que nem sapo. Tinha cores extravagantes, berrantes mesmo, e até hoje não sei se cada esquema era para meninos ou meninas; o meu era verde com roxo.

Não é preciso pensar muito pra imaginar que o brinquedo também servia pra tocar o terror dentro de casa, pulando pelos corredores e deixando os pais malucos. Inclusive algumas crianças e adolescentes praticavam muito e criavam manobras, pulavam corda e davam uns pulos tanto bonitos quanto perigosos. Rendia capotes.

Durou bastante, até o dia em que saí do quintal e fui pra rua - um prego tratou de dar fim à brincadeira, mas tive o disco dele jogado no meu porão por muitos anos.

Minigame

mini-game

Andando um pouco no tempo, chegamos ao começo dos anos 90. Enquanto alguns já não eram tão crianças, Nirvana tocava sem parar na MTV e Senna ganhava a F1, o brinquedo mais requisitado pela molecada eram os mini-games.

Para quem não podia comprar algo mais caro o negócio era optar pelo velhos camaradas camelôs, e foi assim que um modelo em especial virou febre. Eram aqueles compridões, que lembravam remotamente um Game Boy, e diziam ter quantidades absurdas de jogos.

O que tinham mesmo de bom eram o "jogo da cobrinha", Tetris (apelidado de Brick Game), umas corridas estranhas, pong, shooters e por aí vai. A qualidade era baixa, funcionavam a pilha e vinham direto da conexão China-Paraguai. Mas quem viveu aquela época dificilmente não teve ou pelo menos jogou em algum.

Maximus

Maximus

Sonho maior de muitas crianças dos anos 80, o Maximus era um carrinho de controle remoto de primeiro nível, feito pela Estrela. Lançado em 1986, era também caro, passei longe de ter um (se bem que não era muito ligado em controlados).

Era atraente pelo seu visual "off-road", mas ao mesmo tempo era rápido, agressivo, perfeito para seduzir os meninos e até alguns marmanjos. Os modelos da época podiam chegar a incríveis 25 Km/h.

Além de caro pra caramba, tinha outro motivo pra ser o pesadelo dos pais: levava nada menos que uma bateria no carro e seis pilhas no controle remoto. Alguns modelos usavam uma combinação de pilhas grandes e pequenas. Fora manutenções mecânicas na suspensão e rodas quando o "piloto" enfiava o carrinho nos terrenos acidentados e lamaçais.

Afinal era um off-road, ficar andando no carpete de casa não devia ter muita graça.

Aquaplay

Aquaplay

Hoje Aquaplay virou nome comum de academia pelo Brasil, mas nos anos 80 eram diversão de criança. Mais um da Estrela, eram incontáveis modelos com o mesmo funcionamento básico: um tubo transparente (acrílico) era preenchido com água, e ali dentro, objetos se movimentavam com a ação de botões que bombeavam a água.

Tinha de tudo: jogo de basquete, futebol, nave, pescaria... Alguns vinham com ponteiros para marcar a pontuação e podiam ser jogados por dois (nada confortável, mas dava). Tive um dos mais simples, aquele do golfinho, em que o objetivo era encaixar as argolas em seu "nariz". Havia um similar com macaquinho.

O bom é que tudo era mecânico, nada de gastar com pilhas. O ruim é que qualquer pancadinha e algo já saía do lugar, começando os vazamentos, principalmente pelos botões.

https://www.youtube.com/watch?v=5f0GoKM4GGc

Falcon e Barbie

Comandos em Ação - Falcon

Resolvi juntar os dois bonecos no mesmo capítulo, um dos meninos e outro das meninas.

Falcon era o típico brinquedo para meninos. Baseados na série de action figures G.I. Joe, da Hasbro, apareceram no Brasil como parte do Comandos em Ação, mas o Falcon continua sendo o nome mais lembrado.

Isso foi no final dos anos 70, num tempo em que meninas pediam Barbies e Suzies para o Papai Noel. Como pegar os meninos no mercado de brinquedos? - pensavam os empresários. Foi então que veio a ideia dos heróis parrudões e mal-encarados enfrentando grandes perigos como terroristas ameaçando a paz mundial. Assim os meninos podiam pedir suas próprias "bonecas" sem perder a "masculinidade" - nada de penteados ou vestidinhos, mas barbas e roupas militares.

As versões iniciais tinham um moreno fortão, em versões sem barba ou barbudo, ambos com uma cicatriz no rosto. Tirando o cabelo, me lembram um pouco o Max Payne do terceiro jogo, só faltava virem com uma garrafinha de uísque junto. Eram montáveis, e tiveram variações como caçador, mergulhador e vários militares, sempre em pacotes temáticos tipo "operação secreta", "aventura no deserto", "aventura não-sei-das-quantas", etc.

Modelos de Barbie

Já a Barbie dispensa apresentações. Simplesmente um dos brinquedos mais vendidos da história, criado em 1959 por Ruth e Ellioth Handler, donos da Mattel. Foi inspirada na filha do casal, Barbara, que mesmo pré-adolescente, ainda brincava com bonecas de papel, fingindo que eram mocinhas ou mulheres. Até então as bonecas de bebês eram populares.

Com o megassucesso, botaram a garota para dançar, casar, praticar esportes, e muitas imitando personalidades do cinema, como Barbie com cara de Marilyn Monroe ou Liz Taylor. Aliás, você sabia que quem bombou a boneca com múltiplas versões foi o Tom Kalinske, aquele mesmo que bombou o Genesis na América?

O impacto cultural dela é impossível de calcular. Barbie marcou gerações; avós brincaram com Barbies que passaram para as filhas e as netas compram Barbies modernas que usam celulares e notebooks. As mudanças sociais também a afetaram: deixou de ser a garota preocupada com salto alto e virou aventureira, médica, astronauta. Sem nunca perder o charme e a feminilidade.

Resta Um

Tabuleiro de Resta Um

Jogos antigos às vezes ganham popularidade súbita entre gerações futuras, depois de uma boa exploração comercial ou com a propaganda certa. Foi mais ou menos o que aconteceu com o Resta Um, vendido no Brasil aos montes no fim dos anos 80 por diversos fabricantes.

A origem do game mal é conhecida; o relato mais antigo dele seria na corte de Luís XIV, no ano 1697, mas está presente em muitas culturas. O objetivo é remover peças de um tabuleiro ao "comer" umas às outras num movimento parecido com o de damas, mas só na horizontal ou vertical; deve sobrar apenas uma peça. Matemática pura aplicada.

Havia modelos dos mais variados, dos vagabundos feitos com plástico de quinta e pinos leves que sumiam com frequência, até os de metal ou madeira com peças em vidro.

Vai-Vem

Vai e Vem brinquedo

Com origem atribuída aos frequentadores de praias da Itália em meados de 1976, é um brinquedo de funcionamento e estrutura simples, do tipo que pode ser feito em casa.

Consiste numa bola ovalada com uma corda dupla de nylon passada ao longo de seu eixo. Em cada ponta da corda tem uma alça, e ficam duas com cada jogador. Basta afastar rapidamente as cordas para mover a bola para o lado do outro jogador. E assim ela "vai e vem" de um lado para o outro.

Tempos depois desembarcou no Brasil; o modelo original seria feito pela Mimo, mas eram tantas empresas fabricando que ficou impossível controlar. Eu mesmo tive alguns com diversas assinaturas de marca - ganhei um como prêmio por completar um álbum de figurinhas. Era vermelho e depois de destruir as cordas, a bola serviu como motivo para jogar um misto de rúgbi com handebol naquela praça que citei no começo.

Como eram baratos, foram muito acessíveis e é difícil ver uma criança dos anos 80 e 90 que não tenha "vaivenzado" com os amigos.

Pequeno arquiteto

Pequeno Arquiteto

Num tempo pré-Sim City ou outros games para montar e administrar cidades, o único jeito de bancar o arquiteto era colocando a mão na massa, ou mão nos tijolinhos. Era isso que os kits do Pequeno Arquiteto permitiam.

Vinham em conjuntos de peças de madeira com blocos, telhados de diferentes formatos (claro que não eram telhas e sim blocos em losango pintados de vermelho), pontes, torres com relógio e mais. Não tinham nenhum tipo de encaixe como Lego, então as construções ficavam bambas. Quem não tinha um irmão ou irmã para pentelhar derrubando suas obras?

Os mais caros eram bem-acabados, com pintura bem forte e detalhes em relevo, enquanto os baratos tinham adesivos pra colar nas peças lisas. De qualquer forma, garantiam muita diversão para crianças criativas.

O legal é que dava pra mesclar com outros brinquedos. Quando bem pequeno, costumava fazer construções e passear com carrinhos por ela, ou muros para derrubar. O ruim é que perder peças era comum para os mais desatentos (eu nunca!). Não descobri a origem deles, mas a peça com a torre me faz pensar que talvez seja inglês... As construções ficavam com um estilo europeu, por assim dizer.

Meu Primeiro Gradiente

Meu Primeiro Gradiente

De novo nos anos 90, uma mania bem japonesa pegou entre as crianças do Brasil: o karaokê. Muito graças ao seriado Mundo da Lua, exibido pela TV Cultura, onde o menino Lucas (Luciano Amaral) tinha um diário de suas "viagens" registrado com um pequeno gravador em fitas cassete.

A Gradiente tirou vantagem com um de seus produtos, o Meu Primeiro Gradiente. Com cores gritantes e um alto-falante fortinho, era o prazer da molecada gravar a própria voz e soltar o gogó ao microfone, para desespero de quem estava ao redor. Dava pra gravar diários como o Lucas da televisão, brincar de jornalista, apresentador...

Acabava sendo também o primeiro contato com as fitas cassete pra muitos, uma experiência legal pra quem pouco tempo depois teria um walkman (febre dos adolescentes pouco depois). Não tive um, mas tenho certeza que é uma grande lembrança pra muita gente.

Aliás, a linha voltou ano passado, agora contando também com tablet, câmera digital e DVD portátil.

?

É isso, vou deixar mais pra um próximo artigo. Se lembrar de brinquedos antigos muito clássico (tirando os óbvios tipo Autorama e Ferrorama), comente aí.

Daniel Lemes
Daniel Lemes
Fundador do MB, quase mil artigos publicados em dez anos pesquisando e escrevendo sobre games. Ex-seguista, fã de Smashing Pumpkins e Yu Suzuki.

6 COMENTÁRIOS

  1. O Maximus... Eu sou doido por um até hj com 4.8a me lembro que um primo meu tinha e não deixava nem chegar perto....

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